O documentário "As Borboletas de
Zagorsk" (1990) conta parte do cotidiano de crianças com deficiência
no fim da União Soviética. Um país (ou uma organização de países) que mesmo
entrando em um período conturbado ainda tinha espaço para auxiliar pessoas com
deficiência a desenvolverem outras capacidades para lidar com o mundo, partindo
do legado de Lev Vigotski. O autor acreditava que "crianças deficientes
não devem ser abordadas através de sua deficiência. Em vez disso, deveriam ser
ensinadas a desenvolver seus outros sentidos ao ponto de poderem ser usados
para compensar o que foi perdido".
Mais do que a crença na em que todas as
crianças/pessoas podem aprender e se desenvolver, para Vigotski a comunicação
era sinónimo de poder. E essa afirmação faz todo o sentido. Como o filme bem
nos revela: as crianças que passaram por instituições com o método de Lev Vigotski
puderam constituir uma vida cheia de sucessos, apesar da forma diferente de
ver, ouvir e sentir o mundo. Puderam fazer uma universidade e se tornar também
professores, psicólogos, jogadores etc.
Nesse sentido, e encaminhando para o fim,
é importante destacar que mais que poder, a comunicação garante dignidade
através da interação com os outros. Independente das limitações, todas as
crianças/pessoas podem aprender e se desenvolver através de mecanismos
compensatórios, passando a utilizar outros sentidos para substituir seus
sentidos perdidos. E, através desse aprendizado, se supera dificuldades e
tomasse conhecimento da própria força.
Recuperar esse documentário e o legado de
Lev Vigotski é essencial no momento em que vivemos. A poucos dias um decreto do
presidente Jair Bolsonaro aprovou a “nova política nacional de educação
especial”[1], extinguindo a obrigação
que as escolas regulares tinham de matricular pessoas com deficiência,
estimulando a criação de ambientes específicos para receber pessoas com
necessidades especiais, retornando a um modelo excludente. Vigotski nos lembra
que pessoas com deficiência não podem colocadas a margem da sociedade, que é no
convívio afetuoso que essas pessoas se desenvolverem plenamente.
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