"Sin Nombre" é um filme sensível
às adversidades que as pessoas enfrentam para chegar ao norte global. A questão
da imigração ilegal é central. As pessoas que se submetem a esse processo colocam
suas vidas em risco por semanas ou meses em busca do fictício "sonho
americano". O filme narra duas histórias. Uma envolve Sayra, uma jovem
hondurenha que se junta ao pai e ao tio em uma viagem pela Guatemala e pelo
México com o objetivo de encontrar parentes em Nova Jersey. O outro envolve
Willy, apelidado de Casper, um jovem membro de uma gangue do México, que se
junta a seu líder e a um recruta de 12 anos para roubar os imigrantes no topo
de vagões de carga. Seus caminhos se cruzam. As motivações são diferentes. A história de Sayra é “clássica”: ela e seus
parentes são motivados pela busca por melhores condições de vida em Nova
Jersey. Casper, por outro lado, viaja depois de ter matado o líder de sua
gangue, fato pelo qual sabe que morrerá. Casper cria um vínculo com Sayra após
tê-la salvado de um estupro. O problema dessa união é que ele é um homem
condenado, ninguém o protegerá das gangues.
A união dos dois demonstra o quanto as
migrações modernas estão fortemente ligadas com a racialização, o colonialismo,
a expansão do capitalismo e as decorrentes estruturas de dominação e,
principalmente, desigualdades sociais. Além de jogar luz sobre o espectro amplo
de fatores que podem levar a migração: trabalho, trânsito, união familiar,
causas ambientais, aposentadoria, estudo, aspectos afetivos, gênero, conflitos
e guerras (o fator mais latente no filme), entre outros. Devendo ser
interpretada sob o prisma de múltiplos aspectos que se conectam, sendo eles o:
social, cultural, histórico, geográfico, econômico, entre outros (CAVALCANTI et.al,
2017).
De uma forma ou de outra, ambos acabam
caindo na ilusão do "sonho americano". O sonho é chegar aos Estados
Unidos. O pesadelo é fazer a jornada para chegar lá. As circunstâncias nas
quais os protagonistas se encontravam não eram muito promissoras e Nova Jersey
e o Texas acabam representando como um paraíso para onde os protagonistas podem
fugir. O filme é sobre a imigração ilegal, porém quase nada de seu tempo de
execução acontece dentro das fronteiras dos Estados Unidos. O foco central são
os fatores que fazem com que alguns indivíduos corram o risco de
encarceramento, deportação – no caso do tio de Sayra – e até a morte – como se
sucedeu com o pai da protagonista - por uma
chance de cruzar a fronteira e escapar dos ciclos de pobreza, impotência e
violência de gangues, reforçando o papel das consequências da expansão do
capitalismo nas migrações.
No caminho as personagens encontram vários
locais de apoio aos imigrantes, organizações privadas e instituições
voluntárias tornam o projeto migratório um pouco mais fácil. São instituições e
organizações que ocuparam o espaço no mercado criado pelo desequilíbrio entre o
número de pessoas que pretendem entrar nos países ricos e o número de vistos
concedidos para entrada neles, atuando até mesmo no mercado ilegal, promovendo
serviços de transporte – como o caso da “tia” de Casper – ou travessia de
fronteira além de trabalho para imigrantes sem identidade, falsificação de
documentos, casamentos por conveniência, entre outros. Há também instituições
voluntárias – como é o caso da Casa de Caridade gerida por freiras no longa –
que fornecem orientações, serviços de assistência básica e assessoramento jurídico.
Com o tempo e o número de imigrantes que obtém sucesso na viagem, essas
entidades vão se tornando mais conhecidas e “tornam-se suportes fundamentais
que viabilizam os projetos migratórios, dando origem à concepção de indústria
migratória” (CAVALCANTI et.al, 2017).
Há também que se falar da pessoa que
espera os imigrantes no fim de sua jornada. A pessoa de quem a protagonista é
obrigada a decorar o número de telefone na primeira metade do longa. Ela é a
representação das redes migratórias em que as pessoas se apoiam para ganhar
acesso a recursos e diminuir possíveis riscos econômicos, sociais e
psicológicos do processo migratório, estremecendo as bases individualistas da
ideologia capitalista (CAVALCANTI et.al, 2017).
É impossível deixar de citar o pequeno Smiley,
com seu sorriso cativante, é o personagem mais assustador, por demonstrar como
um efeito poderoso, mesmo hipnótico, a cultura de gangue pode ter sobre os
desassistidos. A seus olhos, o Mago – líder da gangue assassinado por Casper no
trem – é uma inspiração. A gangue oferece status de colega e ocupa o papel de
prestadora de serviços sociais que deveria ser do estado. Para oprimidos e
marginalizados, a participação na gangue oferece a oportunidade de ser
respeitado mesmo que por meio do medo e da intimidação.
Referência
CAVALCANTI,
Leonardo, et.al., Dicionário crítico de migrações internacionais. Ed. UnB.
Brasília. 2017. (Introdução
- Um convite às teorias e conceitos sobre migrações internacionais / Verbetes:
Imigrante (imigração) e Indústria das migrações).
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