segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Análise do filme de Miguel Ocelot, Kiricu e a Feiticeira

           Contexto do filme

O filme de Miguel Ocelot é uma adaptação de um conto africano em que a inteligência e a busca por conhecimento se mostram vitoriosas sobre as mais diversas dificuldades, acima dos maniqueísmos típicos dos filmes infantis. Kiricu é um pequeno ser humano que já nasce falando e andando. Isso é uma extrapolação da realidade para mostrar que ele é diferente dos demais membros de sua vila. Desde cedo faz muitas perguntas a sua mãe, ao sábio, ao tio. É rebelde, de certa forma, pois busca sair da inércia, superar a situação na qual seu povo se encontrava, submissos aos mandos e desmandos de uma feiticeira. Os relatos sobre a feiticeira, por mais terríveis que fossem - ela comeu os homens, sequestrou crianças, roubou o ouro, secou a fonte, queimou cabanas – não o impediram de seguir perguntando e buscando soluções cada vez mais criativas para os problemas que encontrava.

 

Kiricu, o inconformado?

A rebeldia de Kiricu é talvez a sua característica mais importante, ao menos para o desenvolvimento da história, pois é ela que o move. O pequeno guerreiro quis saber o motivo das coisas serem como são, um pesquisador nato. Inconformado com a sua realidade e com as explicações simplistas, não se dá por satisfeito ao ouvir que uma ou outra atitude não é própria para o seu tamanho ou sua idade. Exemplo mais latente disso é o questionamento incessante dos motivos da maldade da feiticeira. E é justamente esse “ímpeto pesquisador” a sua maior vantagem: as ilusões – das quais sua mãe afirma que Karabá necessita para manter seu poder – se desfazem no ar perante a “inteligência livre”, como caracterizou seu avô, de Kiricu.

 

A jornada do herói

Desde o início, a investigação dos fatos da narrativa só trouxe bons resultados finais a Kiriku. Mesmo com dificuldades no caminho, como bem ilustra a cena em que Kiricu está cavando por de baixo da cabana da bruxa, há sempre caminhos alternativos e, principalmente, criativos quando desenvolvemos a capacidade de usar o que temos a nosso favor. Além disso, uma outra questão de grande relevância, não só pra pesquisadores, é aprender a aproveitar e tirar o melhor de cada momento. Talvez uma das falas mais tocantes do filme seja a do avô de Kiricu lhe dizendo para aproveitar quando é pequeno para ser pequeno para, ao crescer, se alegrar por ter crescido e não almejar voltar a ser pequeno. Se posso fazer um comentário pessoal: essa fala do avô me lembrou uma antiga professora nos dizendo – calouros de ciências sociais – para nos permitirmos ser calouros, ter dúvidas, errar, para alcançar o fim último que é aprender.

 

Para além do maniqueísmo: a libertação da feiticeira

Como dito anteriormente, a pratica investigativa trouxe bons resultados a Kiriku. Talvez o melhor deles tenha sido o casamento com a feiticeira, depois de sua redenção. É aqui onde o longa superou o “maniqueísmo padrão” de muitas produções infantis. Karabá não é puramente má, ela é, em parte, uma vítima acostumada com a dor – neste caso física – de um espinho na coluna. Mas essa é mais uma das metáforas do filme: o quão maus podemos nos tornar ao acostumarmos com a dor, seja ela causada por qualquer motivo. E, além disso, não foi a feiticeira que secou a fonte de água, nem comeu guerreiros. Foi uma mistura de sentimentos e coincidências que colocou Karabá em sua posição de feiticeira e as pessoas da vila em posição submissa, por medo e por não tomar uma atitude proativa de buscar respostas para as questões do cotidiano. Não estou tomando o lado do opressor, apenas constatando que tanto a feiticeira como os moradores da vila já se encontravam em tal estado de conformidade que se tornaram imóveis. Tanto é que, no final, ao retornar casado a vila, Kiricu é recebido com dúvidas e ódio, o que é perfeitamente compreensível após anos de tormento. Sendo assim, pensar essa película é pensar sobre nossas atitudes diante das dificuldades da vida, seja na pesquisa ou no simples convívio cotidiano, superando maniqueísmos e buscando conhecimento para lidar de forma criativa com os empecilhos.

 

Referências bibliográficas

Kiriku e a Feiticeira (Michel Ocelot, 1998).

1. Na sua percepção, que postura o pesquisador deve ter considerando o filme “Kiriku e a Feiticeira”?

 

O filme de Miguel Ocelot é uma adaptação de um conto africano em que a inteligência e a busca por conhecimento se mostram vitoriosas sobre as mais diversas dificuldades, acima dos maniqueísmos típicos dos filmes infantis. Kiricu é um pequeno ser humano que já nasce falando e andando. Isso é uma extrapolação da realidade para mostrar que ele é diferente dos demais membros de sua vila. Desde cedo faz muitas perguntas a sua mãe, ao sábio, ao tio. É rebelde, de certa forma, pois busca sair da inércia, superar a situação na qual seu povo se encontrava, submissos aos mandos e desmandos de uma feiticeira. Os relatos sobre a feiticeira, por mais terríveis que fossem - ela comeu os homens, sequestrou crianças, roubou o ouro, secou a fonte, queimou cabanas – não o impediram de seguir perguntando e buscando soluções cada vez mais criativas para os problemas que encontrava.

 

 2. Qual é o ponto de partida para qualquer estudo/pesquisa segundo o filme “Kiriku e a feiticeira”?

 

A rebeldia de Kiricu é talvez a sua característica mais importante, ao menos para o desenvolvimento da história, pois é ela que o move. O pequeno guerreiro quis saber o motivo das coisas serem como são, um pesquisador nato. Inconformado com a sua realidade e com as explicações simplistas, não se dá por satisfeito ao ouvir que uma ou outra atitude não é própria para o seu tamanho ou sua idade. Exemplo mais latente disso é o questionamento incessante dos motivos da maldade da feiticeira. E é justamente esse “ímpeto pesquisador” a sua maior vantagem: as ilusões – das quais sua mãe afirma que Karabá necessita para manter seu poder – se desfazem no ar perante a “inteligência livre”, como caracterizou seu avô, de Kiricu.

 

 3. O que está disponível a todo pesquisador de acordo com o filme “Kiriku e a feiticeira”?

 

A “inteligência livre”, segundo o avô de Kiricu, que é percebida nas incessantes dúvidas e nas formas criativas de resolução dos problemas.

 

4. De onde vem a inquietude do pesquisador segundo o filme “Kiriku e a feiticeira”?

 

Da vontade de mudar a sua realidade, e, por consequência, do seu povo.

 

 5. Tomando a figura da feiticeira, na verdade contra o que Kiriku luta?

 

Contra a ilusão ou as ilusões, seja da bruxa, seja do povo do vilarejo. A pratica investigativa trouxe bons resultados a Kiriku. Talvez o melhor deles tenha sido o casamento com a feiticeira, depois de sua redenção. É aqui onde o longa superou o “maniqueísmo padrão” de muitas produções infantis. Karabá não é puramente má, ela é, em parte, uma vítima acostumada com a dor – neste caso física – de um espinho na coluna. Mas essa é mais uma das metáforas do filme: o quão maus podemos nos tornar ao acostumarmos com a dor, seja ela causada por qualquer motivo. E, além disso, não foi a feiticeira que secou a fonte de água, nem comeu guerreiros. Foi uma mistura de sentimentos e coincidências que colocou Karabá em sua posição de feiticeira e as pessoas da vila em posição submissa, por medo e por não tomar uma atitude proativa de buscar respostas para as questões do cotidiano. Não estou tomando o lado do opressor, apenas constatando que tanto a feiticeira como os moradores da vila já se encontravam em tal estado de conformidade que se tornaram imóveis. Tanto é que, no final, ao retornar casado a vila, Kiricu é recebido com dúvidas e ódio, o que é perfeitamente compreensível após anos de tormento. Sendo assim, pensar essa película é pensar sobre nossas atitudes diante das dificuldades da vida, seja na pesquisa ou no simples convívio cotidiano, superando maniqueísmos e buscando conhecimento para lidar de forma criativa com os empecilhos.

 

 6. O que leva as pessoas à ignorância?

 

O medo das ilusões e o conformismo com a situação de opressão.

 

 7. Como deve ser o questionamento do pesquisador?

 

Livre e adequado a realidade do pesquisador. Mesmo com dificuldades no caminho, como bem ilustra a cena em que Kiricu está cavando por de baixo da cabana da bruxa, há sempre caminhos alternativos e, principalmente, criativos quando desenvolvemos a capacidade de usar o que temos a nosso favor. Além disso, uma outra questão de grande relevância, não só pra pesquisadores, é aprender a aproveitar e tirar o melhor de cada momento. Talvez uma das falas mais tocantes do filme seja a do avô de Kiricu lhe dizendo para aproveitar quando é pequeno para ser pequeno para, ao crescer, se alegrar por ter crescido e não almejar voltar a ser pequeno. Se posso fazer um comentário pessoal: essa fala do avô me lembrou uma antiga professora nos dizendo – calouros de ciências sociais – para nos permitirmos ser calouros, ter dúvidas, errar, para alcançar o fim último que é aprender.

 

 8. Qual é o contraponto de Kiriku?

 

No geral, o pensamento alienado, que é bem representado pelo oráculo da aldeia. Ele afirma saber tudo, mas não é capaz de explicar nada e não percebe que só corrobora para perpetuar a opressão.

 

 9. Como a ciência deve ser encarada?

 

Como uma forma de encontrar soluções criativas para problemas complexos, que supere maniqueísmos e jogue luz sobre as ilusões que nos mantem inertes no conformismo.

 

10. Como é possível perceber a limitação da ciência no filme?

 

A cena da toca, onde os desafios podem representar os obstáculos ao longo da pesquisa e a cena em que Kiricu volta adulto e acompanhado de Karabá para a aldeia. No primeiro caso, são as limitações que aparecem durante o fazer científico, limitações de campo, parte do cotidiano dos cientistas e pesquisadores. No segundo caso, trata-se de um problema social: a negação da credibilidade da ciência, o negacionismo. Desde o início, esse descredito aparece com as tentativas de sequestrar as crianças empreendidas pela feiticeira, que foram todas frustradas por Kiricu. Mas no final, ao se deparar com o fato de que a feiticeira era recheada de muitos outros sentimentos além da maldade, sendo capaz até mesmo de amar, os moradores do vilarejo tem um ímpeto assassino, somente interrompido pela chegada do avó de Kiricu acompanhado dos homens que haviam sido escravizados.

 

 11. Qual é a postura necessária diante da ciência de acordo com o filme?

 

Ativa, sagaz e resiliente. Ativa para não se dar por satisfeito com o que te oferecem de realidade, sagaz para não se deixar se enganar pelas ilusões e resiliente para superar os percalços do caminho do fazer científico.

 

 

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