Contexto do filme
O filme de Miguel Ocelot é uma adaptação
de um conto africano em que a inteligência e a busca por conhecimento se mostram
vitoriosas sobre as mais diversas dificuldades, acima dos maniqueísmos típicos
dos filmes infantis. Kiricu é um pequeno ser humano que já nasce falando e
andando. Isso é uma extrapolação da realidade para mostrar que ele é diferente
dos demais membros de sua vila. Desde cedo faz muitas perguntas a sua mãe, ao
sábio, ao tio. É rebelde, de certa forma, pois busca sair da inércia, superar a
situação na qual seu povo se encontrava, submissos aos mandos e desmandos de
uma feiticeira. Os relatos sobre a feiticeira, por mais terríveis que fossem -
ela comeu os homens, sequestrou crianças, roubou o ouro, secou a fonte, queimou
cabanas – não o impediram de seguir perguntando e buscando soluções cada vez
mais criativas para os problemas que encontrava.
Kiricu, o inconformado?
A rebeldia de Kiricu é talvez a sua
característica mais importante, ao menos para o desenvolvimento da história,
pois é ela que o move. O pequeno guerreiro quis saber o motivo das coisas serem
como são, um pesquisador nato. Inconformado com a sua realidade e com as
explicações simplistas, não se dá por satisfeito ao ouvir que uma ou outra
atitude não é própria para o seu tamanho ou sua idade. Exemplo mais latente
disso é o questionamento incessante dos motivos da maldade da feiticeira. E é
justamente esse “ímpeto pesquisador” a sua maior vantagem: as ilusões – das
quais sua mãe afirma que Karabá necessita para manter seu poder – se desfazem
no ar perante a “inteligência livre”, como caracterizou seu avô, de Kiricu.
A jornada do herói
Desde o início, a investigação dos fatos
da narrativa só trouxe bons resultados finais a Kiriku. Mesmo com dificuldades
no caminho, como bem ilustra a cena em que Kiricu está cavando por de baixo da
cabana da bruxa, há sempre caminhos alternativos e, principalmente, criativos
quando desenvolvemos a capacidade de usar o que temos a nosso favor. Além
disso, uma outra questão de grande relevância, não só pra pesquisadores, é
aprender a aproveitar e tirar o melhor de cada momento. Talvez uma das falas
mais tocantes do filme seja a do avô de Kiricu lhe dizendo para aproveitar
quando é pequeno para ser pequeno para, ao crescer, se alegrar por ter crescido
e não almejar voltar a ser pequeno. Se posso fazer um comentário pessoal: essa
fala do avô me lembrou uma antiga professora nos dizendo – calouros de ciências
sociais – para nos permitirmos ser calouros, ter dúvidas, errar, para alcançar
o fim último que é aprender.
Para além do maniqueísmo: a libertação da
feiticeira
Como dito anteriormente, a pratica investigativa
trouxe bons resultados a Kiriku. Talvez o melhor deles tenha sido o casamento
com a feiticeira, depois de sua redenção. É aqui onde o longa superou o
“maniqueísmo padrão” de muitas produções infantis. Karabá não é puramente má,
ela é, em parte, uma vítima acostumada com a dor – neste caso física – de um
espinho na coluna. Mas essa é mais uma das metáforas do filme: o quão maus
podemos nos tornar ao acostumarmos com a dor, seja ela causada por qualquer
motivo. E, além disso, não foi a feiticeira que secou a fonte de água, nem
comeu guerreiros. Foi uma mistura de sentimentos e coincidências que colocou
Karabá em sua posição de feiticeira e as pessoas da vila em posição submissa,
por medo e por não tomar uma atitude proativa de buscar respostas para as
questões do cotidiano. Não estou tomando o lado do opressor, apenas constatando
que tanto a feiticeira como os moradores da vila já se encontravam em tal
estado de conformidade que se tornaram imóveis. Tanto é que, no final, ao
retornar casado a vila, Kiricu é recebido com dúvidas e ódio, o que é
perfeitamente compreensível após anos de tormento. Sendo assim, pensar essa
película é pensar sobre nossas atitudes diante das dificuldades da vida, seja
na pesquisa ou no simples convívio cotidiano, superando maniqueísmos e buscando
conhecimento para lidar de forma criativa com os empecilhos.
Referências bibliográficas
Kiriku
e a Feiticeira (Michel Ocelot,
1998).
1. Na sua percepção, que
postura o pesquisador deve ter considerando o filme “Kiriku e a Feiticeira”?
O filme de Miguel
Ocelot é uma adaptação de um conto africano em que a inteligência e a busca por
conhecimento se mostram vitoriosas sobre as mais diversas dificuldades, acima
dos maniqueísmos típicos dos filmes infantis. Kiricu é um pequeno ser humano
que já nasce falando e andando. Isso é uma extrapolação da realidade para
mostrar que ele é diferente dos demais membros de sua vila. Desde cedo faz
muitas perguntas a sua mãe, ao sábio, ao tio. É rebelde, de certa forma, pois
busca sair da inércia, superar a situação na qual seu povo se encontrava,
submissos aos mandos e desmandos de uma feiticeira. Os relatos sobre a
feiticeira, por mais terríveis que fossem - ela comeu os homens, sequestrou
crianças, roubou o ouro, secou a fonte, queimou cabanas – não o impediram de
seguir perguntando e buscando soluções cada vez mais criativas para os
problemas que encontrava.
2. Qual é o ponto de partida para qualquer
estudo/pesquisa segundo o filme “Kiriku e a feiticeira”?
A rebeldia de
Kiricu é talvez a sua característica mais importante, ao menos para o
desenvolvimento da história, pois é ela que o move. O pequeno guerreiro quis
saber o motivo das coisas serem como são, um pesquisador nato. Inconformado com
a sua realidade e com as explicações simplistas, não se dá por satisfeito ao
ouvir que uma ou outra atitude não é própria para o seu tamanho ou sua idade.
Exemplo mais latente disso é o questionamento incessante dos motivos da maldade
da feiticeira. E é justamente esse “ímpeto pesquisador” a sua maior vantagem:
as ilusões – das quais sua mãe afirma que Karabá necessita para manter seu
poder – se desfazem no ar perante a “inteligência livre”, como caracterizou seu
avô, de Kiricu.
3. O que está disponível a todo pesquisador de
acordo com o filme “Kiriku e a feiticeira”?
A “inteligência livre”, segundo o avô de Kiricu, que é
percebida nas incessantes dúvidas e nas formas criativas de resolução dos
problemas.
4. De onde vem a
inquietude do pesquisador segundo o filme “Kiriku e a feiticeira”?
Da vontade de mudar a sua realidade, e, por consequência, do
seu povo.
5. Tomando a figura da feiticeira, na verdade
contra o que Kiriku luta?
Contra a ilusão ou as ilusões, seja
da bruxa, seja do povo do vilarejo. A pratica investigativa
trouxe bons resultados a Kiriku. Talvez o melhor deles tenha sido o casamento
com a feiticeira, depois de sua redenção. É aqui onde o longa superou o
“maniqueísmo padrão” de muitas produções infantis. Karabá não é puramente má,
ela é, em parte, uma vítima acostumada com a dor – neste caso física – de um
espinho na coluna. Mas essa é mais uma das metáforas do filme: o quão maus
podemos nos tornar ao acostumarmos com a dor, seja ela causada por qualquer
motivo. E, além disso, não foi a feiticeira que secou a fonte de água, nem
comeu guerreiros. Foi uma mistura de sentimentos e coincidências que colocou
Karabá em sua posição de feiticeira e as pessoas da vila em posição submissa,
por medo e por não tomar uma atitude proativa de buscar respostas para as
questões do cotidiano. Não estou tomando o lado do opressor, apenas constatando
que tanto a feiticeira como os moradores da vila já se encontravam em tal
estado de conformidade que se tornaram imóveis. Tanto é que, no final, ao
retornar casado a vila, Kiricu é recebido com dúvidas e ódio, o que é
perfeitamente compreensível após anos de tormento. Sendo assim, pensar essa
película é pensar sobre nossas atitudes diante das dificuldades da vida, seja
na pesquisa ou no simples convívio cotidiano, superando maniqueísmos e buscando
conhecimento para lidar de forma criativa com os empecilhos.
6. O que leva as pessoas à ignorância?
O medo das ilusões e o conformismo com a situação de
opressão.
7. Como deve ser o questionamento do
pesquisador?
Livre e adequado a realidade do
pesquisador. Mesmo com dificuldades no caminho, como bem ilustra a
cena em que Kiricu está cavando por de baixo da cabana da bruxa, há sempre
caminhos alternativos e, principalmente, criativos quando desenvolvemos a
capacidade de usar o que temos a nosso favor. Além disso, uma outra questão de
grande relevância, não só pra pesquisadores, é aprender a aproveitar e tirar o
melhor de cada momento. Talvez uma das falas mais tocantes do filme seja a do
avô de Kiricu lhe dizendo para aproveitar quando é pequeno para ser pequeno
para, ao crescer, se alegrar por ter crescido e não almejar voltar a ser
pequeno. Se posso fazer um comentário pessoal: essa fala do avô me lembrou uma
antiga professora nos dizendo – calouros de ciências sociais – para nos
permitirmos ser calouros, ter dúvidas, errar, para alcançar o fim último que é
aprender.
8. Qual é o contraponto de Kiriku?
No geral, o pensamento alienado, que
é bem representado pelo oráculo da aldeia. Ele afirma saber tudo, mas não é
capaz de explicar nada e não percebe que só corrobora para perpetuar a
opressão.
9. Como a ciência deve ser encarada?
Como uma forma de encontrar soluções
criativas para problemas complexos, que supere maniqueísmos e jogue luz sobre
as ilusões que nos mantem inertes no conformismo.
10. Como é possível
perceber a limitação da ciência no filme?
A cena da toca, onde os desafios
podem representar os obstáculos ao longo da pesquisa e a cena em que Kiricu
volta adulto e acompanhado de Karabá para a aldeia. No primeiro caso, são as
limitações que aparecem durante o fazer científico, limitações de campo, parte
do cotidiano dos cientistas e pesquisadores. No segundo caso, trata-se de um problema
social: a negação da credibilidade da ciência, o negacionismo. Desde o início,
esse descredito aparece com as tentativas de sequestrar as crianças
empreendidas pela feiticeira, que foram todas frustradas por Kiricu. Mas no
final, ao se deparar com o fato de que a feiticeira era recheada de muitos
outros sentimentos além da maldade, sendo capaz até mesmo de amar, os moradores
do vilarejo tem um ímpeto assassino, somente interrompido pela chegada do avó
de Kiricu acompanhado dos homens que haviam sido escravizados.
11. Qual é a postura necessária diante da
ciência de acordo com o filme?
Ativa,
sagaz e resiliente. Ativa para não se dar por satisfeito com o que te oferecem
de realidade, sagaz para não se deixar se enganar pelas ilusões e resiliente
para superar os percalços do caminho do fazer científico.
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