segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Resenha de “Memoria del Saqueo” (Dir. Pino Solanas)

 

“Memoria del Saqueo” (2004) é um documentário sobre a história argentina recente que demonstra como um país rico ruiu, abrindo um enorme fosse entre ricos e pobres, elevando as taxas de desemprego, miséria e indigência, propiciando um verdadeiro genocídio social. O longa passa pelos governos de Raul Alfonsín (1983-1989), Carlos Saul Menem (1989-1999), e termina com Fernando De la Rúa (1999-2001).

O contexto econômico era de desequilíbrio, pois, na década de 80, com a apreciação do valor do dólar, as exportações de matérias primas acabaram entrando em colapso, resultando numa contração dos mercados exportadores. O antigo motor da economia já não funcionava tão bem (MARTÍNEZ RANGEL & SOTO REYES,2012). Surge nesse momento o “reformismo” do Consenso de Washington, pregando a abertura dos mercados, austeridade fiscal, privatizações e encolhimento do estado, tópicos bem marcados pelo documentário (BORÓN, 2004).

Apesar de muitas promessas, as conquistas foram poucas e nem são apresentadas no filme, até porque as consequências da adoção das medidas neoliberais invalidam qualquer avanço possível. O povo argentino foi afogado numa onda de pobreza, indigência e exclusão social, se tornando cava vez mais vulnerável e dependente (BORÓN, 2004). Mesmo com a reação dos argentinos, saindo as ruas, a violência, em diferentes formas, tomou conta do país. Fosse ela direta, praticada pelos militares responsáveis por dispersar as manifestações, fosse pelas mentiras proferidas pela classe política viciada, aliada das grandes corporações; fosse ainda a violência silenciosa dos ajustes que matava de fome 35 mil crianças, adultos e idosos por ano. 

Assim se fundou uma “mafiocracia” na qual o poder econômico, a justiça e os narcotraficantes aplaudiam a espetacularização da política, assistindo a republica ser degradada em ritmo acelerado. A dita “destruição criadora” só cumpriu a primeira promessa, vendendo estatais e sucateando as estruturas já existentes; e os governantes já não se preocupavam mais em combater a pobreza, a ideia era combater os pobres, com mais e mais ajustes, confiscos e corrupção (BORÓN, 2004). A esse tempo, o Consenso de Washington já havia se convertido numa ideologia para além de propostas econômicas, se tornando uma ferramenta de controle do estado financiada por megacorporações da qual os países latinos necessitavam para conquistar a aprovação dos organismos internacionais (MARTÍNEZ RANGEL & SOTO REYES,2012).

O filme encerra com a saída de Fernando De la Rúa do poder. Apesar da vitória temporária da população argentina, em 2001, até hoje (2020) é latente a necessidade de projetos de esquerda inovadores que presem pela democracia – e, por consequência, por menos capitalismo – e pela integração regional, garantindo aos latinos melhores condições de vida, fortalecendo as empresas locais para uma competição em igualdade de circunstancias com as outras partes do globo (BORÓN, 2004; MARTÍNEZ RANGEL & SOTO REYES,2012).

 

Referências bibliográficas

MARTÍNEZ RANGEL, Rubí; SOTO REYES, Garmendia Ernesto.  El Consenso de Washington: la instauración de las políticas neoliberales en América Latina. Revista Política y Cultura, primavera 2012, núm. 37, pp. 35-64.

BORÓN, Atílio. Introdución: Después del saqueo: El capitalismo latino-americano a comienzos del neuvo siglo.  In: Estado, capitalismo y democracia em América Latina. CLACSO, Junio de 2004. 

 

 

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