MIGUEL, Luis Felipe. “Teoria democrática atual: esboço de
mapeamento”. BIB: Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em
Ciências Sociais, nº 59, 2005. pp. 5-42.
O texto de Luiz Felipe Miguel discute
a natureza polissêmica de “democracia”. Na introdução nos é apresentado os
vários sentidos que o termo ganhou com o passar do tempo e a valorização do
“rotulo democrático” que legitima muitos governos excludentes. Posto isso, o
autor aponta cinco correntes do campo da “democracia representativa” que serão
discutidos no texto (MIGUEL, 2005, p. 05-07).
A primeira vertente apresentada é a
liberal-pluralista, que tem por representante emblemático Joseph Schumpeter. Em
crítica aos teóricos clássicos, o austríaco ressignifica democracia como uma
maneira de legitimar o governo de uma minoria através do processo eleitoral,
caracterizado pela “agregação de preferencias manipuladas”. Aos cidadãos
comuns, “desinformados e apáticos” quando a política, cabe apenas o gesto de
votar (MIGUEL, 2005, p. 09-12).
Jurgen Habermas elabora a matriz principal da segunda
corrente: a democracia deliberativa. Com “ênfase dos mecanismos discursivos da
pratica política” e na “comunicação face a face entre indivíduos” afirma que a
qualidade da política reside na “livre discussão das discussões de interesse
coletivo” para chegar a um consenso geral. O problema é que Habermas ignora
pontos importantes, como a desigualdade social, o que, além de fazer com que o
ideário de sua teoria seja extremamente conservador, a torna irreal (MIGUEL,
2005, p. 12-19).
O republicanismo cívico, de Hannah Arendt, é a
terceira vertente. É ideal, e por isso perde valor na ciência política, pois
pressupõe uma identidade coletiva, um sentimento de comunidade, que permitirá a
identificação de um “bem comum” numa sociedade muito complexa (a sociedade
contemporânea). Apesar da beleza aparente ao ressaltar a importância da
comunicação e o apelo a participação cívica, não é passível de concretização
(MIGUEL, 2005, p. 19- 24).
A baixa participação do cidadão comum nos “negócios da
política” é a principal preocupação da corrente participativa, a quarta
abordada por Miguel. Aponta e valoriza a democracia enquanto processo
pedagógico, resgatando a visão de autores clássicos. Defende a descentralização
do poder e a autogestão política. No Brasil, pode ser vista nos “orçamentos
participativos” que auxiliaram na “renovação de práticas políticas locais” e
“na ruptura com esquemas clientelistas” (MIGUEL, 2005, p. 24-29).
Por fim a “política das diferenças”: o
multiculturalismo. É oposto a visão de Hannah Arentd por trabalhar com a ideia
de que nas sociedades contemporâneas existem diversos vieses, que resultam na
exclusão das ideias e valores de determinados grupos com identidade
compartilhada. A solução para esse problema seria a implantação de “mecanismos
reparadores” que garantiriam aos grupos, antes excluídos do cenário político, por
exemplo: o poder de veto (MIGUEL, 2005, p. 29-32).
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