Teoria Sociológica I
ATIVIDADE
II
Segundo
Durkheim, quais os procedimentos que garantem a objetividade científica? E por
que o suicídio é considerado um fato social e não um fato psicológico? Quais as
características da tipologia que o autor construiu?
Durkheim dedicou boa parte de sua
obra a transformar o sociólogo e cientista. Para tal, via-se obrigado a definir
um objeto e um método específicos, únicos, particulares da sociologia. Definiu
os fatos sociais como os objetos de estudo dessa "nova ciência", os
caracterizando como maneiras gerais/coletivas de pensar, agir e sentir externas
ao indivíduo, que se impõem de maneira coercitiva. Os fatos sociais são
causados apenas por outros fatos sociais e se diferem dos fenômenos psíquicos e
orgânicos, objetos de outras ciências (DURKHEIM, 1966). Com essa definição de
objeto, o autor buscava dar ares práticos, empíricos, para essa nova ciência.
Explicar a ocorrência de fatos
sociais é o objetivo da sociologia enquanto ciência. Porém, para alcançar esse
objetivo era preciso que o cientista seguisse regras rigorosas, um método
claramente delimitado, a fim de garantir a objetividade científica. Buscando
inspiração nas ciências duras/exatas, Durkheim define os pilares dessa forma de
explicar como tratar os fatos sociais como coisas (com existência objetiva),
externas ao indivíduo, ou seja, tratar os fatos como coisas é observar diante
deles uma certa atitude mental coletiva, abandonando as representações que
fizemos eventualmente deles ao longo da vida (abandonando a subjetividade, as
prenoções, os maniqueísmos e o senso comum):
é de regra, nas ciências naturais, afastar os dados
sensíveis que correm o risco de ser demasiado pessoais ao observador, para
reter exclusivamente os que apresentam um suficiente grau de objetividade. Eis
o que leva o físico a substituir as vagas impressões que a temperatura ou a
eletricidade produzem pela representação visual das oscilações do termômetro ou
do eletrômetro. O sociólogo deve tomar as mesmas precauções. (DURKHEIM. 1966,
44)
Em síntese, quando se procura
explicar um fato social, é preciso separar a causa eficiente que o produz e a função
que ele cumpre, como - segundo o autor - fazem os físicos, químicos,
fisiologistas, quando se lançam numa região ainda inexplorada de seu domínio
científico. O autor pregou que os sociólogos têm de focar a atenção em grupos
claramente definidos de fatos sociais, e formular hipóteses específicas,
empiricamente comprováveis.
A objetividade científica almejada é
garantida então pela circunscrição clara dos fatos, a independência de toda
filosofia, a objetividade, o carácter esotérico, o silenciamento das paixões e
dos preconceitos, estabelecendo relações claras de causalidade que permitem
comparações (DURKHEIM, 1966):
Uma investigação científica só pode alcançar seus fins
fundamentando-se em fatos comparáveis, e tem tanto mais probabilidade de êxito
quanto mais segura está de ser reunido todos os que podem ser utilmente
comparados (...) o investigador não pode tomar como objeto de suas pesquisas os
grupos de fatos constituídos aos quais correspondem as palavras da língua
corrente; ao contrário, está obrigado a constituir por si mesmo os grupos que
quer estudar a fim de lhes dar a homogeneidade e a especificidade que lhes são
necessários para poderem ser tratados cientificamente. É assim que o botânico,
quando fala de flores e frutos, o zoólogo, quando fala de peixes ou insetos,
tomam esses diferentes termos em sentidos que deveriam ter sido fixados
previamente. (DURKHEIM. 1930 apud CASTRO & DIAS. 1985, 78)
A aplicação desse método pode ser
encontrada em O Suicídio, onde Durkheim estudou o suicídio para demonstrar,
dentro dessa definição particular de ciência, que sobre esse fato social há uma
determinação social, externa ao indivíduo. Sua hipótese é que a soma dos
suicídios em uma sociedade deve ser tratada como um fato que somente pode ser
explicado em sua totalidade pela sociologia, não por motivações pessoais dos
atos de autodestruição. Sua unidade de análise é a sociedade e não o indivíduo
(DURKHEIM, 1982).
No Livro II, Durkheim expõe a sua
tipologia do suicídio, dividida em três tipos: 1) suicídio egoísta, motivado
por um isolamento do indivíduo com relação à sociedade, que o transforma em
marginalizado, sem laços suficientemente sólidos de solidariedade com o grupo
social; 2) suicídio altruísta, o extremo oposto, quando o indivíduo está
demasiadamente ligado a sociedade; e 3) suicídio anômico, destilado da noção de
anomia, a ausência de normas. O suicida neste caso é aquele indivíduo que não
soube aceitar os limites impostos pela sociedade; que aspira a mais do que
pode, com demandas muito acima de suas possibilidades reais, e, por não as
alcançar, cai no desespero (DURKHEIM, 1982).
Nos três casos trata-se de uma
relação entre indivíduo e a sociedade que o levam ao suicídio; ou seja:
fenômenos individuais que respondem a causas sociais. Assim sendo, esse ato
extremo de aparente individualismo é considerado um fato social e não um fato
psicológico, e por esse motivo pode ser objeto da sociologia (DURKHEIM, 1982).
Referências
CASTRO,
Anna Maria de. & DIAS, Edmundo F. Introdução ao pensamento sociológico. Rio
de Janeiro, Eldourado Tijuca, 1985.
DURKHEIM,
Émile. As regras do método sociológico. São Paulo, Ed. Nacional, 1966.
______.
O Suicídio. Rio de Janeiro, Zahar, 1982. (Introdução, Livro II, Cap. I, II e
III).
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