terça-feira, 12 de julho de 2022

Teoria Sociológica I - ATIVIDADE II

Teoria Sociológica I  

 

ATIVIDADE II

 

Segundo Durkheim, quais os procedimentos que garantem a objetividade científica? E por que o suicídio é considerado um fato social e não um fato psicológico? Quais as características da tipologia que o autor construiu?

 

Durkheim dedicou boa parte de sua obra a transformar o sociólogo e cientista. Para tal, via-se obrigado a definir um objeto e um método específicos, únicos, particulares da sociologia. Definiu os fatos sociais como os objetos de estudo dessa "nova ciência", os caracterizando como maneiras gerais/coletivas de pensar, agir e sentir externas ao indivíduo, que se impõem de maneira coercitiva. Os fatos sociais são causados apenas por outros fatos sociais e se diferem dos fenômenos psíquicos e orgânicos, objetos de outras ciências (DURKHEIM, 1966). Com essa definição de objeto, o autor buscava dar ares práticos, empíricos, para essa nova ciência.

Explicar a ocorrência de fatos sociais é o objetivo da sociologia enquanto ciência. Porém, para alcançar esse objetivo era preciso que o cientista seguisse regras rigorosas, um método claramente delimitado, a fim de garantir a objetividade científica. Buscando inspiração nas ciências duras/exatas, Durkheim define os pilares dessa forma de explicar como tratar os fatos sociais como coisas (com existência objetiva), externas ao indivíduo, ou seja, tratar os fatos como coisas é observar diante deles uma certa atitude mental coletiva, abandonando as representações que fizemos eventualmente deles ao longo da vida (abandonando a subjetividade, as prenoções, os maniqueísmos e o senso comum):

é de regra, nas ciências naturais, afastar os dados sensíveis que correm o risco de ser demasiado pessoais ao observador, para reter exclusivamente os que apresentam um suficiente grau de objetividade. Eis o que leva o físico a substituir as vagas impressões que a temperatura ou a eletricidade produzem pela representação visual das oscilações do termômetro ou do eletrômetro. O sociólogo deve tomar as mesmas precauções. (DURKHEIM. 1966, 44)

 

Em síntese, quando se procura explicar um fato social, é preciso separar a causa eficiente que o produz e a função que ele cumpre, como - segundo o autor - fazem os físicos, químicos, fisiologistas, quando se lançam numa região ainda inexplorada de seu domínio científico. O autor pregou que os sociólogos têm de focar a atenção em grupos claramente definidos de fatos sociais, e formular hipóteses específicas, empiricamente comprováveis.

A objetividade científica almejada é garantida então pela circunscrição clara dos fatos, a independência de toda filosofia, a objetividade, o carácter esotérico, o silenciamento das paixões e dos preconceitos, estabelecendo relações claras de causalidade que permitem comparações (DURKHEIM, 1966):

Uma investigação científica só pode alcançar seus fins fundamentando-se em fatos comparáveis, e tem tanto mais probabilidade de êxito quanto mais segura está de ser reunido todos os que podem ser utilmente comparados (...) o investigador não pode tomar como objeto de suas pesquisas os grupos de fatos constituídos aos quais correspondem as palavras da língua corrente; ao contrário, está obrigado a constituir por si mesmo os grupos que quer estudar a fim de lhes dar a homogeneidade e a especificidade que lhes são necessários para poderem ser tratados cientificamente. É assim que o botânico, quando fala de flores e frutos, o zoólogo, quando fala de peixes ou insetos, tomam esses diferentes termos em sentidos que deveriam ter sido fixados previamente. (DURKHEIM. 1930 apud CASTRO & DIAS. 1985, 78)

 

A aplicação desse método pode ser encontrada em O Suicídio, onde Durkheim estudou o suicídio para demonstrar, dentro dessa definição particular de ciência, que sobre esse fato social há uma determinação social, externa ao indivíduo. Sua hipótese é que a soma dos suicídios em uma sociedade deve ser tratada como um fato que somente pode ser explicado em sua totalidade pela sociologia, não por motivações pessoais dos atos de autodestruição. Sua unidade de análise é a sociedade e não o indivíduo (DURKHEIM, 1982).

No Livro II, Durkheim expõe a sua tipologia do suicídio, dividida em três tipos: 1) suicídio egoísta, motivado por um isolamento do indivíduo com relação à sociedade, que o transforma em marginalizado, sem laços suficientemente sólidos de solidariedade com o grupo social; 2) suicídio altruísta, o extremo oposto, quando o indivíduo está demasiadamente ligado a sociedade; e 3) suicídio anômico, destilado da noção de anomia, a ausência de normas. O suicida neste caso é aquele indivíduo que não soube aceitar os limites impostos pela sociedade; que aspira a mais do que pode, com demandas muito acima de suas possibilidades reais, e, por não as alcançar, cai no desespero (DURKHEIM, 1982).

Nos três casos trata-se de uma relação entre indivíduo e a sociedade que o levam ao suicídio; ou seja: fenômenos individuais que respondem a causas sociais. Assim sendo, esse ato extremo de aparente individualismo é considerado um fato social e não um fato psicológico, e por esse motivo pode ser objeto da sociologia (DURKHEIM, 1982).

 

Referências

CASTRO, Anna Maria de. & DIAS, Edmundo F. Introdução ao pensamento sociológico. Rio de Janeiro, Eldourado Tijuca, 1985.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo, Ed. Nacional, 1966.

______. O Suicídio. Rio de Janeiro, Zahar, 1982. (Introdução, Livro II, Cap. I, II e III).

 

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