terça-feira, 12 de julho de 2022

Teoria Sociológica I - ATIVIDADE I

Teoria Sociológica I  

Discentes: Francisco Sousa (Matrícula: 190045809); Guiliana Sidrin Brito (Matrícula: 190029188).

 

ATIVIDADE I

 

QUESTÃO 01.

Marx estabelece um vínculo entre o desenrolar histórico e as forças produtivas a partir do desenvolvimento dos modos de produção. Em síntese, o modo de produção condiciona os processos sociais a partir da consciência dos sujeitos determinada pelo ser social; ao atingir um determinado estágio de desenvolvimento, as forças produtivas presentes em uma sociedade entram em choque/contradição com as relações de produção vigentes, deixando de ser motores do desenvolvimento das forças produtivas e se tornando obstáculos. Nesse contexto de conflito de classes, abre-se espaço para a revolução social, motor da história.

Para chegar nessa conclusão, temos que partir das críticas que Marx fez a Hegel e Feuerbach. Quanto ao primeiro, são três os pontos centrais da crítica: (a) a separação entre sociedade civil e Estado; (b) a inversão de sujeito e predicado na interpretação idealista de Hegel; e (c) o fator que impede o controle total do Estado pelo povo, a famosa “alienação”.

Marx vai dizer que a teoria de Hegel sobre o Estado e a sociedade civil serve apenas para justificar a existência da monarquia; pois, ao contrário do que afirma Hegel, Marx demonstra que o Estado é produto da sociedade civil (e suas expressões, como a família), e continuamente dependente desta. Partindo desse ponto de vista, as proposições de Hegel constituem uma inversão da realidade, tornando o verdadeiro sujeito um predicado do predicado, farsa mantida graças às inúmeras ferramentas de alienação controladas pelas classes dominantes.

Marx volta o olhar para a dimensão humana, transformando os indivíduos que compõem a sociedade civil em agentes da realidade. Tal posição se torna ainda mais nítida ao analisarmos as críticas que o velho mouro faz a Feuerbach, afirmando que o expoente do materialismo concebia o mundo como um objetivo estático, valorizando apenas as atitudes humanas relacionadas ao pensamento e conhecimento, separadas das atitudes de mudança da realidade. Marx considera que tal separação é irreal e que Feuerbach erra ao considerar o mundo concreto como resultado de um processo natural distanciado das práticas sociais, um mundo de produção histórica. Com a conciliação crítica entre o idealismo hegeliano e o materialismo de Feuerbach, Marx dá luz ao chamado Materialismo histórico.

Uma das principais ideias da nova teoria se apresentava sob o guarda chuva do trabalho: a capacidade de produzir a partir do trabalho de forma cooperativa materializa as condições para satisfação das necessidades sociais; essa capacidade inicial de trabalho e todas as demais formas de aumentar a capacidade humana de trabalho se traduziam em forças produtivas. Importante destacar que essas formas ultrapassam, por exemplo, o encurtamento da distância entre matéria prima e artesão ou o desenvolvimento de uma máquina para diminuir o esforço humano: alcançam mesmo a forma como os sujeitos existem em sociedade, as leis e os costumes, e - no limite - os modos de atuação sobre a natureza para satisfação coletiva. Ou seja: um conjunto de relações entre humanos e meio, voltadas para a produção e para a realização social. Quando temos um conjunto definido e articulado econômica, política, jurídica, ideológica e socialmente, temos um modo de produção.

Ao acrescentarmos a essa síntese o fator classe, localizamos a metáfora da infra e da superestrutura: as balizas das relações entre classes de uma sociedade, originadas nas formas cooperativas de materialização das condições para satisfação das necessidades sociais compõem a infraestrutura; enquanto a superestrutura abriga a construção de uma consciência geral de aceitação e manutenção das relações entre classes gerida pelos grupos dominantes.

O desenvolvimento das forças produtivas, e - consequentemente - desse conjunto de relações, atua, para Marx, como o fundamento da história, de caráter majoritariamente progressivo (resultando em um modo de produção mais avançado/desenvolvido). Uso “majoritariamente” e não “sempre”, pois o próprio Marx deu exemplos de catástrofes ambientais e/ou sociais que resultaram em regressão. E esse processo de mudança de modos de produção é fruto de uma revolução social; daí a célebre frase “o conflito de classes é o motor da história”, atribuída a Marx. Tem-se assim o vínculo entre a história e as forças produtivas a partir do desenvolvimento dos modos de produção.

 

QUESTÃO 02.

O trabalho é extremamente importante no processo de constituição de uma pessoa como ser social. Através dele o homem pode se desenvolver, se humanizar, embora seja considerado apenas como categoria social e não sendo a única categoria necessária; através dele que podemos ter uma mediação entre a natureza e a sociedade, de certa forma o homem aprende a dominar a natureza, produzindo condições materiais objetivas e subjetivas necessárias para nossa existência em sociedade visando suprir necessidades, entretanto o trabalho não somente vem para produzir algo que seja exclusivamente para suprir as necessidades individuais, através dele podemos também abranger necessidades coletivas.

Dentro de um sistema capitalista tudo é transformado em mercadoria, inclusive o próprio trabalho, o homem que não é detentor de uma determinada mercadoria tem somente sua força de trabalho para oferecer ao capital. A grande questão é que nem todas as horas dedicadas ao trabalho são revertidas no salário do trabalhador. Ao menos metade dessas horas acabam sendo revertidas em mais-valia, ou seja, o trabalhador por um determinado momento produz o necessário, até que começa a produzir a mais do que de forma justa lhe é repassado como salário daquele serviço.

O homem acaba entrando em ciclo vicioso de viver pelo trabalho visando sua realização em poder adquirir mercadorias e acaba se desvalorizando ao produzir mais-valia, já que quanto mais ele produz mais ele se torna uma mão de obra barata. Existe todo um processo de alienação dos meios de produção a partir da revolução industrial, o trabalhador passa a ser uma espécie de servo das máquinas, além de se tornar uma propriedade da burguesia por “oferecer” sua mão de obra mas também sendo totalmente alienado do valor do produto final ao qual ele mesmo produz, essa alienação torna o trabalho estranho, o trabalhador já não é mais capaz de reconhecer o seu próprio valor e se sujeita a toda essa exploração pela pressão de ser algo totalmente substituível, o detentor dos meios de produção sempre deixará claro que se aquele trabalhador estiver insatisfeito terá outro para ocupar seu lugar.

Para Marx o capitalismo pode ser definido como um sistema produtor de mercadorias, sendo assim a mercadoria um dos principais elementos desse sistema, no capítulo em questão ele apresenta a distinção entre o valor de uso e o valor de troca, sendo o primeiro voltado à satisfação das necessidades humanas, ou seja, toda mercadoria resultante do trabalho humano que de fato possui um valor de uso, sendo algo palpável, onde a pessoa realmente construa uma relação de algo físico entre coisas físicas. Já o segundo seria voltado a uma não relação entre a mercadoria produzida pelo trabalho e a sua natureza física e também com as relações materiais.

“Valor” (valor de troca) “é qualidade das coisas, riqueza” (valor de uso) [é qualidade] “do homem. Valor, nesse sentido, implica necessariamente troca, riqueza não. [Riqueza (valor de uso)] é um atributo do homem, valor um atributo das mercadorias. Um homem, ou uma comunidade, é rico; uma pérola, ou um diamante, é valiosa [...]. Uma pérola ou um diamante tem valor como pérola ou diamante.” (MARX, 2011, p. 128)

 

                Reconhecemos assim a dualidade de sentidos de trabalho na obra de Marx (trabalho "em si", enquanto relação entre homem e natureza; e trabalho no modo de produção do capital) e os efeitos da mercadoria, principalmente quanto ao avanço de alienação ao fetichismo que inverte a lógico entre sujeito e predicado: a produção é o sujeito e as relações sociais, o predicado.

A produção generalizada de mercadorias, a unidade mais simples do sistema capitalista, que geram a reificação e o avanço da alienação, invertendo a lógica entre sujeito e predicado; ou seja, transformam a produção em sujeito e as relações sociais em predicado ao passo que permite a acumulação de capital, aumentando o seu poder, promove a perda de controle do trabalhador sobre a produção e sobre o produto do seu trabalho. Esse processo só é possível dada a alienação, uma relação social que, no capitalismo, molda a imagem do trabalho sobre uma contradição entre a produção social/coletiva e a apropriação privada da mercadoria.

Daí a afirmação de que no sistema capitalista, trabalho e mercadoria se relacionam de forma deturpada, pois, ao passo que o trabalho é o modo como o homem se relaciona com a natureza e promove a criação de valor, sendo o centro dos processos produtivos e de sociabilidade, é também alienado, recriando o mundo e as próprias subjetividades através da mercadoria.

 

Referências

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.

MARX, Karl. O Capital -  Livro 1. São Paulo: Boitempo, 2011.

 

 

 

 

 

 

 

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