quarta-feira, 17 de novembro de 2021

DaMatta, Roberto. Impacto da herança cultural brasileira nas atitudes para com a natureza e o meio ambiente. Rio +10. MMA.

 O autor

Roberto DaMatta é um antropólogo brasileiro que, em livros como Carnavais, Malandros e Heróis e A Casa & A Rua, formulou teorias para explicar aspectos da sociabilidade brasileira. Uma das mais conhecidas é a distinção entre indivíduo e pessoa, que ajuda a explicar a fragilidade das instituições sociais do país.


Foi pioneiro nos estudos de rituais e festivais em sociedades industriais, tendo investigado o Brasil como sociedade e sistema cultural por meio do carnaval, do futebol, da música, da comida, da cidadania, da mulher, da morte, do jogo do bicho e das categorias de tempo e espaço. 


Rio +10

Realizada de 26 de agosto a 4 de setembro de 2002 em Joanesburgo, África do Sul, a Cúpula Mundial Sobre Desenvolvimento Sustentável foi a terceira conferência mundial promovida pela ONU para discutir os desafios ambientais do planeta. O complicado momento econômico, político e ambiental que o mundo enfrentava em 2002 não poderia deixar de influenciar a Cúpula de Joanesburgo.


• Em 2002, 40% da população mundial enfrentava escassez de água. O relatório aponta que o consumo de água aumentou seis vezes no último século, o dobro do crescimento populacional no mesmo período. Enquanto a agricultura representava 70% do consumo de água no planeta naquele ano, 60% desse total eram desperdiçados devido a sistemas ineficientes de irrigação. Com isso, a ONU alertou que, se os padrões de consumo continuassem os mesmos, metade da população mundial (3,5 bilhões de pessoas) sofreria com a falta de água em 2025.

• Estima-se que 90 milhões de hectares de florestas foram destruídos na década de 1990 – uma área maior que o tamanho da Venezuela, representando 2,4% da área total de florestas do planeta. Com isso, 9% das espécies de árvores estavam ameaçadas à época da Cúpula de Joanesburgo.

• A cada ano, 3 milhões de pessoas morriam de doenças causadas pela poluição.

• A falta de saneamento básico vitimava 2,2 milhões de pessoas por ano.

• Embora os países ricos tenham se comprometido em Estocolmo a destinar 0,7% de seu Produto Interno Bruto anualmente para que os países pobres enfrentem os problemas da miséria e da degradação do meio ambiente, a ajuda concreta – que era, em média, de 0,36% do PIB em 1992 – caiu para 0,22% do PIB anual em 2002.

• A proporção de pessoas que ganhavam menos de US$ 1 por dia caiu de 29% para 23% da população mundial. No entanto, em números absolutos, ainda representavam mais de 1,2 bilhões de pessoas, 75% delas nas zonas rurais.


Ao desestimulante quadro ambiental, somava-se uma série de desastres ecológicos às vésperas da Conferência de Joanesburgo. No continente asiático, cientistas se viram atônitos diante de uma imensa camada de poeira que cobria com uma massa de 3 quilômetros de espessura a gigantesca área de 25 milhões de quilômetros quadrados, o que equivale a três vezes a área do Brasil. O fenômeno, resultado do acúmulo de um conjunto de gases poluentes e da queima de florestas, afetava drasticamente a saúde da população chinesa e paquistanesa, reduzia a produtividade agrícola em 15% e alterava intensamente regime climático e pluviométrico da região.


Ao mesmo tempo, também pouco antes do início da Cúpula, inundações de proporções inéditas no continente Europeu atingiram milhões de pessoas. Em todo o continente eclodiram protestos que buscavam chamar a atenção dos líderes mundiais para a necessidade de a Cúpula de Joanesburgo tratar adequadamente dos problemas ambientais que afligiam o planeta. Na Alemanha, o caos gerado pela catástrofe climática alterou o rumo das eleições, reconduzindo ao poder o candidato apoiado pelo Partido Verde.


Diante desse cenário, uma reunião de todos os países para discutir o desenvolvimento sustentável poderia parecer bastante oportuna. No entanto, as dificuldades de se chegar a um consenso com relação a diversas questões durante o processo preparatório da Cúpula de Joanesburgo demonstravam a falta de vontade política dos países ricos em arcar com suas responsabilidades, espalhando o pessimismo entre os ambientalistas de todo o mundo.



O texto 

Visões da natureza (visão ecológica/individual vs visão idílica/edênica/participativa/relacional)


Visão edênica: São exemplos da visão edênica a atitude anti natureza (jardins, animais, máquinas, pessoas), parte do hino nacional, os clássicos da literatura, a ideia de progresso associada ao domínio/transformação da natureza ("se fosse possível capinar a Amazônia e transformá-la numa grande pastagem [...] esse seria o ideal"), a identidade brasileira; o que implica em um processo da naturalização da cultura, tendendo a ler tudo (inclusive desigualdades e preconceitos) como natural. Daí que as visões da natureza e as nossas atitudes tem ligação com a história social: ao longo do tempo haviam pessoas que tinham contato com a natureza (escravizados e criados) e pessoas que não tinham. 


Visão edênica: Piada da natureza boa e sociedade ruim

Visão edênica: A terra para o brasileiro (visão idílica/edênica/participativa/relacional do Brasil)


Visão ecológica/individual: A perspectiva moderna é a dos direitos dos animais e dos direitos das plantas, ampliando a cidadania para certos seres da natureza. Mas, há animais com mais direitos que outros (o "animal" é um "bicho" que tem direitos)... O mesmo acontece no Brasil: algumas categorias sociais recebem mais atenção que outras. 


Podemos mudar de visão por que nenhuma é dominante, são concorrentes: em determinadas questões uma é mais produtiva que outra, originando um certo "hibridismo". O dilema moderno é esse. De um lado, há uma visão da natureza como paraíso, mas um paraíso em que a gente pode entrar e pode fazer o que quiser nele, desde que se tenha posição social que faculte esse tipo de comportamento. De outro lado, temos a visão ecológica, na qual a natureza tem direitos e pode ser conhecida, uma natureza na qual todo mundo tem direito de entrar, e todo mundo tem direito de fazer coisas, mas com alguma forma de responsabilidade perante a sociedade. 






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