WOLF,
Eric. 1976. “O campesinato e seus problemas”. In: Eric Wolf. Sociedades
Camponesas. Rio de Janeiro: Zahar Editora. (pp. 13-34).
O texto tem início com a busca pelo fator
ou os fatores que distinguem os camponeses dos primitivos. Há uma certa quebra
de expectativas quando o autor começa a citar o que o camponês não faz e não é,
onde não reside a distinção procurada, por exemplo: o camponês não realiza um
empreendimento no sentido econômico, ele sustenta uma família e não uma empresa
ou ainda a distinção entre primitivos e camponeses não repousa no maior ou
menor envolvimento exterior sofrido por um ou outro, mas no carácter desse
envolvimento.
Nesses apontamentos que delimitam a
distinção por negação - e não por afirmações - seguimos pelo primeiro terço do
texto. O autor passa por temas relacionados ao destino dois excedentes
produzidos em diferentes sociedades, pela relação produção/consumo e o
horizonte de expectativas, para então entrarmos na temática dos
"fundos" que marcam o segundo terço do texto.
Nos é apresentado então o fundo de
manutenção, que trata da reserva necessária para preservação dos equipamentos,
da produção e do consumo não apenas em aspectos técnicos, mas também culturais.
Reflete-se sobre o imprevisível no dia a dia do campo (as secas, as pragas
etc.) e como esses elementos representam um perigo para a existência biológica
e para a satisfação nas necessidades culturais.
Ligado a essas necessidades culturais,
cita-se também o fundo cerimonial, a reserva necessária para a participação nas
relações sociais, a exemplo do casamento, do apadrinhamento etc. Outro fundo
importante, e que ganha cada vez mais destaque ao passo que a terra se torna um
recurso escasso, é o fundo de aluguel: resultado da soma dos ônus que não vem
do trabalho na terra, e que pode ser resgatado em trabalho, bens ou dinheiro.
Daí seguimos para uma discussão sobre a divisão do trabalho, a quantidade de
esforço para a manutenção desses fundos e, o que me chamou especial atenção, a
sustentação dos "fundos de poder" a partir da perda/ônus do camponês.
Partindo dessa análise, verifica-se a rede
complexa de relações a qual o campesinato está imerso, tendo que buscar um
equilíbrio entre suas próprias necessidades e as exigências externas. Dessa
forma, o autor conclui apontando para o fato de que a relação entre camponeses
e não-camponeses constitui uma combinação de modos de agir destinadas
sobrevivência individual e de seus iguais em uma ordem social que o ameaça de
extinção.
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