quarta-feira, 17 de novembro de 2021

O campesinato e seus problemas

 

WOLF, Eric. 1976. “O campesinato e seus problemas”. In: Eric Wolf. Sociedades Camponesas. Rio de Janeiro: Zahar Editora. (pp. 13-34).

 

O texto tem início com a busca pelo fator ou os fatores que distinguem os camponeses dos primitivos. Há uma certa quebra de expectativas quando o autor começa a citar o que o camponês não faz e não é, onde não reside a distinção procurada, por exemplo: o camponês não realiza um empreendimento no sentido econômico, ele sustenta uma família e não uma empresa ou ainda a distinção entre primitivos e camponeses não repousa no maior ou menor envolvimento exterior sofrido por um ou outro, mas no carácter desse envolvimento.

Nesses apontamentos que delimitam a distinção por negação - e não por afirmações - seguimos pelo primeiro terço do texto. O autor passa por temas relacionados ao destino dois excedentes produzidos em diferentes sociedades, pela relação produção/consumo e o horizonte de expectativas, para então entrarmos na temática dos "fundos" que marcam o segundo terço do texto.

Nos é apresentado então o fundo de manutenção, que trata da reserva necessária para preservação dos equipamentos, da produção e do consumo não apenas em aspectos técnicos, mas também culturais. Reflete-se sobre o imprevisível no dia a dia do campo (as secas, as pragas etc.) e como esses elementos representam um perigo para a existência biológica e para a satisfação nas necessidades culturais.

Ligado a essas necessidades culturais, cita-se também o fundo cerimonial, a reserva necessária para a participação nas relações sociais, a exemplo do casamento, do apadrinhamento etc. Outro fundo importante, e que ganha cada vez mais destaque ao passo que a terra se torna um recurso escasso, é o fundo de aluguel: resultado da soma dos ônus que não vem do trabalho na terra, e que pode ser resgatado em trabalho, bens ou dinheiro. Daí seguimos para uma discussão sobre a divisão do trabalho, a quantidade de esforço para a manutenção desses fundos e, o que me chamou especial atenção, a sustentação dos "fundos de poder" a partir da perda/ônus do camponês.

Partindo dessa análise, verifica-se a rede complexa de relações a qual o campesinato está imerso, tendo que buscar um equilíbrio entre suas próprias necessidades e as exigências externas. Dessa forma, o autor conclui apontando para o fato de que a relação entre camponeses e não-camponeses constitui uma combinação de modos de agir destinadas sobrevivência individual e de seus iguais em uma ordem social que o ameaça de extinção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Carta sobre GTAQ

 Carta sobre GTAQ As comunidades quilombolas são constituídas por pessoas que compartilham uma identidade forjada ao longo de processos hist...