segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Fichamento – Abril Despedaçado

 

“Abril despedaçado” (2001). Direção Walter Salles.

 

Abril Despedaçado é um filme suíço-franco-brasileiro de 2001, dirigido por Walter Salles e baseado no romance Prilli i Thyer de Ismail Kadare, adaptado por Karim Aïnouz. Se passa no sertão brasileiro, no ano de 1910, onde Tonho passa a ser estimulado pelo pai a vingar a morte de seu irmão mais velho, assassinado por uma família rival, em meio a uma rixa que as duas famílias conservam por disputas de terras. As duas famílias (Breves e Ferreira) encontram-se sofrendo continuamente com assassinatos de seus membros, no que parece uma reinvenção criativa do princípio de Talião: "O sangue tem o mesmo volume para todos. Você não tem o direito de tirar mais sangue do que o que foi tirado de você".

Tonho acaba por executar a vingança incentiva por seu pai, matando um dos filhos dos Ferreira, e se tornando o próximo alvo dos Ferreira. "Menino", irmão mais novo de Tonho - criança ativa e imaginativa, apesar da educação severa, isolamento brutal e pobreza extrema -, muda gradativamente a cabeça do irmão. O último empurrão que Tonho recebe para questionar seu destino vem de Clara - menina jovem, membro de um circo que passava pelo vilarejo -, pois vê ao lado dela possibilidades que não conhecia.

O interesse amoroso se aflora e Clara passa a viver com os Breves. A certa altura do filme, o jovem casal sai em uma viagem curta, intervalo suficiente para que os Ferreira realizassem sua vingança. Na ausência de Tonho, o Menino - que ganhou o nome de Pacu de Clara e seu padrasto - acaba sendo executado por engano. A morte da criança deixa o pai da família em fúria, que clama a Tonho por uma retaliação final. Porém, ao ver o que o ciclo de mortes causou a sua família, Tonho deixa a fazenda sem dizer nada. O pai considera o ato uma traição e tenta matar o filho, mas é dissuadido pela mãe.

Marcam o filme o fraternalismo, a vingança, o cenário patriarcal, precário, a dissolução das próprias identidades em função das tradições e costumes, principalmente familiares. A luta pela terra constitui outro fator importante, e aqui ela se dá pelo fato de que a fazenda já teria sido de uma família e agora era de outra, e assim sucessivamente ao longo das gerações, sendo definidas as terras mediante a morte de cada indivíduo da família rival.

Levando em conta o contexto da disciplina e os textos estudados até o momento, nota-se a rigidez da estrutura familiar, organizada e autossuficiente, com interpretações próprias e laços de parentesco, autoridade, força e justiça em um núcleo de convivência alheio ao poder estatal. O trabalho marca o tempo do filme, sendo pilar elementar da organização social do vilarejo. A moenda de cana, uma bolandeira, é um enorme relógio que marca um tempo inexoravelmente circular, no qual a continuidade é central, não havendo possibilidade de irrupções (avanços ou transformações). Os laços e a hierarquia família se baseia na submissão dos filhos aos pais, e destes a continuidade temporal, aos códigos de vingança e a terra.

 

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