“Abril
despedaçado” (2001). Direção Walter Salles.
Abril Despedaçado é um filme
suíço-franco-brasileiro de 2001, dirigido por Walter Salles e baseado no
romance Prilli i Thyer de Ismail Kadare, adaptado por Karim Aïnouz. Se passa no
sertão brasileiro, no ano de 1910, onde Tonho passa a ser estimulado pelo pai a
vingar a morte de seu irmão mais velho, assassinado por uma família rival, em
meio a uma rixa que as duas famílias conservam por disputas de terras. As duas
famílias (Breves e Ferreira) encontram-se sofrendo continuamente com
assassinatos de seus membros, no que parece uma reinvenção criativa do
princípio de Talião: "O sangue tem o mesmo volume para todos. Você não tem
o direito de tirar mais sangue do que o que foi tirado de você".
Tonho acaba por executar a vingança
incentiva por seu pai, matando um dos filhos dos Ferreira, e se tornando o
próximo alvo dos Ferreira. "Menino", irmão mais novo de Tonho -
criança ativa e imaginativa, apesar da educação severa, isolamento brutal e
pobreza extrema -, muda gradativamente a cabeça do irmão. O último empurrão que
Tonho recebe para questionar seu destino vem de Clara - menina jovem, membro de
um circo que passava pelo vilarejo -, pois vê ao lado dela possibilidades que
não conhecia.
O interesse amoroso se aflora e Clara
passa a viver com os Breves. A certa altura do filme, o jovem casal sai em uma
viagem curta, intervalo suficiente para que os Ferreira realizassem sua
vingança. Na ausência de Tonho, o Menino - que ganhou o nome de Pacu de Clara e
seu padrasto - acaba sendo executado por engano. A morte da criança deixa o pai
da família em fúria, que clama a Tonho por uma retaliação final. Porém, ao ver
o que o ciclo de mortes causou a sua família, Tonho deixa a fazenda sem dizer
nada. O pai considera o ato uma traição e tenta matar o filho, mas é dissuadido
pela mãe.
Marcam o filme o fraternalismo, a
vingança, o cenário patriarcal, precário, a dissolução das próprias identidades
em função das tradições e costumes, principalmente familiares. A luta pela
terra constitui outro fator importante, e aqui ela se dá pelo fato de que a
fazenda já teria sido de uma família e agora era de outra, e assim
sucessivamente ao longo das gerações, sendo definidas as terras mediante a
morte de cada indivíduo da família rival.
Levando em conta o contexto da disciplina
e os textos estudados até o momento, nota-se a rigidez da estrutura familiar,
organizada e autossuficiente, com interpretações próprias e laços de
parentesco, autoridade, força e justiça em um núcleo de convivência alheio ao
poder estatal. O trabalho marca o tempo do filme, sendo pilar elementar da
organização social do vilarejo. A moenda de cana, uma bolandeira, é um enorme
relógio que marca um tempo inexoravelmente circular, no qual a continuidade é central,
não havendo possibilidade de irrupções (avanços ou transformações). Os laços e
a hierarquia família se baseia na submissão dos filhos aos pais, e destes a
continuidade temporal, aos códigos de vingança e a terra.
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