segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Analise do livro didático “Sociologia hoje”

 

Universidade de Brasília

Didática Fundamental

Francisco Octávio Bittencourt de Sousa – 190045809

 

Analise do livro didático “Sociologia hoje”

 

MACHADO, Igor José de Renó; AMORIM, Henrique; BARROS, Celso Rocha de. Sociologia hoje. São Paulo: Ática, 2016.

 

O livro escolhido para análise foi o "Sociologia hoje", PNLD 2015-2017, para alunos do 1° ao 3° ano do ensino médio, de autoria de Igor José de Renó Machado, Henrique Amorim e Celso Rocha de Barros; publicado pela Editora Ática, 1° edição, São Paulo, 2016.

Antes de adentrar na análise propriamente dita preciso contar um pouco da história de como esse livro chegou até mim. Na realidade, ele foi um presente de um "professor inspirador" que hoje se tornou praticamente um padrinho: prof. José Geraldo (IF Goiano - Campus Trindade). Ele leciona Sociologia para o ensino médio no IF e foi uma das pessoas mais me apoiou a ingressar na área de estudos que hoje ocupo. Esse livro em especial marcou uma virada na minha graduação, pois recebi de presente no primeiro semestre, quando estava tendo as disciplinas introdutórias de Antropologia, Ciência Política e Sociologia. Esse foi o primeiro livro para o ensino médio que vi apresentar a divisão entre essas três divisões das ciências sociais. Me encantei em especial pela antropologia (por forte influência do livro, que até hoje constitui fonte importante para pesquisas bibliográficas iniciais). Dessa forma, é com grande satisfação que faço essa análise.

Logo na apresentação do livro (p.3) é dito pelos autores que "o principal objetivo deste livro é aproximar as investigações, reflexões e teorias das Ciências Sociais do seu cotidiano, como um instrumento de reflexão crítica" e isso realmente acontece, principalmente quando observando os boxes "Você já pensou nisto?" que são seções onde perguntas são feitas tentando aproximar os temas estudados do mundo ao redor do leitor, destacando questões e problemas do cotidiano. Dentre esses boxes, um dos meus preferidos se encontra na página 278, onde podemos encontrar a seguinte reflexão:

"Nós vivemos na mesma cultura que os políticos corruptos, e é provável que tenhamos alguns hábitos semelhantes aos deles, por mais que nos incomode reconhecer isso. Muitas vezes desrespeitamos a lei em situações aparentemente sem importância, com infrações de trânsito, crimes contra a limpeza pública (jogar lixo na rua, por exemplo), e pequenas tentativas de levar vantagem sobre os outros. Será que isso não explica parte da nossa tolerância com políticos corruptos? Afinal, alguns deles são eleitos mesmo depois de comprovadas as denúncias contra eles. Se nos preocupássemos mais com nosso comportamento, isso não aumentaria nossa disposição para cobrar como cidadãos, e assim contribuir para o fim da corrupção?"

Se pararmos para analisar o contexto político de 2016 e a maré anticorrupção que dava sustentação a mega operações de combate a corrupção que iam muito além das atribuições e permissões dadas as instituições responsáveis pela garantia da justiça que, no limite, culminou no golpe que derrubou uma presidenta eleita e na ascensão de uma extrema direita fascista com pauta apoiada nessa ideologia antipolítica, torna-se nítida a necessidade de reflexões como a trazida pelos autores.

E essa "interação" entre conteúdo e cotidiano não se dá apenas nos boxes "Você já pensou nisto?". Diversos conteúdos são ilustrados com situações do cotidiano político e social do país a exemplo as imagens do julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade de reserva de vagas em universidades públicas, com base no sistema de cotas raciais da Universidade de Brasília (p.20), cuja decisão hoje faz parte do dia a dia de diversos alunos dessa turma de Didática Fundamental, usadas ao longo do tópico "Informações e pensamento crítico".

Em outras partes do livro há um verdadeiro "chamamento ao estranhamento", pegando exemplos corriqueiros que escutamos quando criança, como é o caso da expressão "índio de verdade" descontruída na página 37, demonstrando como a ideologia entremeada nessa expressão legitima a retirada de direitos dos indígenas desqualificando suas reinvindicações. 

Os exercícios do livro reforçam esse "chamamento ao estranhamento" de maneira geral, pois, apesar de contar com uma parte inicial mecânica (de memorização), intitulada "Revendo" que trabalha com a ideia de retomar e recortar partes específicas da leitura; há outros dois blocos de questões ("Interagindo" e "Contraponto") cujo objetivo aparente é promover a conscientização e postura crítica em relação ao conteúdo, trazendo - por exemplo - na página 42 um adesivo de carro representando uma família (heteronormativa) para questionar a ideia de "família" que aquele simples adesivo representa ou, na página 43, trazendo o poema "O fardo do homem branco" (texto que só fui conhecer na graduação) para pensar colonialidade. De maneira geral, o livro cumpre com o objetivo de fixar o conteúdo tanto para alunos que tem maior facilidade com memorização tanto para os que se dão bem com interpretação e aplicação.

Considerando toda a explanação realizada até o momento, é correto afirmar que o livro se aproxima da tendência pedagógica HISTÓRICO-CRÍTICA, cujo representante teórico estudado é o professor Dermeval Saviani. Fica evidente pelos exemplos dados e mesmo sem uma leitura muito aprofundada do livro que há uma defesa enfática de que o papel da escola é contribuir com o processo de construção e consolidação de outro modelo social (recordo das questões sobre a cultura da corrupção, por exemplo). Problematizando questões como as cotas raciais e a colonialidade, destaca-se o fato de que o livro preza pela igualdade de direitos, oportunidades, cooperação e justiça social; visando, no limite, transformar a realidade, elementos constitutivos da tendência histórico-crítica.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Carta sobre GTAQ

 Carta sobre GTAQ As comunidades quilombolas são constituídas por pessoas que compartilham uma identidade forjada ao longo de processos hist...