MENDRAS, Henri.
1978. “Grupos domésticos”;
“Coletividades locais”. In: Sociedades
Camponesas, Rio de
Janeiro: Zahar. (cap. 3 e 4).
Henri Mendras foi fundador da sociologia
rural na França, morreu em 5 de novembro de 2003. Estudante da Sorbonne e do
Instituto de Estudos Políticos de Paris (onde seguiu os ensinamentos de Georges
Gurvitch, Georges Friedmann, Gabriel Le Bras e Jean Stoetzel), conviveu com
outros futuros sociólogos de sua geração, que também se tornaram seus amigos
mais próximos: Éric de Dampierre, Jean-René Tréanton, Michel Crozier,
Jean-Daniel Reynaud, Alain Touraine.
Na obra em estudo, Mendras analisa
questões relativas à técnica, regime fundiário, regime financeiro e social
(aprendizagem, criação de cooperativas e mútuas de equipamentos agrícolas,
compra, venda, gestão etc.).
De acordo com Mendras, da transformação de
uma sociedade agrária, subordinada à cidade e à centralidade da burguesia, e
não mais à feudalidade, surge o campesinato. Direito a propriedade e dinheiro
passam a organizar a sociedade e a vida cotidiana.
As “novas” instituições passam a
determinar novas configurações às sociedades camponesas, que podem ser
caracterizadas por cinco traços principais: uma relativa autonomia face à
sociedade global; a importância estrutural dos grupos domésticos, um sistema
econômico de autarcia relativa, uma sociedade de interconhecimentos e a função
decisiva dos mediadores entre a sociedade local e a sociedade global.
A autonomia depende da capacidade que o
grupo doméstico - e não família - tem de prover a subsistência em dois níveis
complementares: a subsistência imediata, isto é, o atendimento às necessidades
do grupo doméstico, e a reprodução da família pelas gerações subsequentes. Para
tanto, há que se considerar a especificidade de seu sistema de produção e a
constituição do patrimônio familiar. A terra enquanto patrimônio garante a
perpetuação de uma linhagem, pois se torna a sustentação econômica e,
principalmente, moral de uma família.
Pensando nas formas com que os humanos se
relacionam com o meio ambiente, desenvolvidas localmente, Mendras propõe a
ideia de "habitats" e "sociedades de interconhecimento",
onde "todo mundo se conhece”. A designação de um habitat - que é,
simultaneamente território, definido por oposição aos territórios vizinhos, e
um território construído que serve a seus habitantes de residência, de
instrumento de trabalho e de quadro de sociabilidade - nos permite pensar como
a terra garante vida e trabalho, com valor imaterial por ser lugar da
coletividade local ou da comunidade rural, núcleo organizador da sociabilidade
camponesa.
Em resumo, a parte destinada a leitura
trata dos temas descritos acima. Porém, se me é permitido abordar questões
particulares das pesquisas que tenho desenvolvido, considero importante citar o
olhar que Mendras lança sobre a adaptação e a relação entre humano e meio. Cabe
destacar a parte inicial do texto, onde o autor lança árduas críticas ao mito
da natureza intocada (1978, p. 19): “a natureza virgem não é mais do que um
mito criado pela ideologia de civilizados sonhadores de um mundo diferenciado
do seu [...]”.
Mais que isso, ele abre brechas para um
estudo do que hoje chamamos de agência dos não humanos com passagens como:
"A História agrícola da Europa pode ser resumida em uma luta entre a
agricultura e a floresta: nos períodos de crescimento demográfico, a floresta
retira-se diante do assalto dos homens, mas sempre pronta a reconquistar o
território cultivado, esperando um novo assalto" (MENDRAS, 1978, p.
20-21).
Textos
consultados
FREITAS, Alair
Ferreira de; BOTELHO, Maria Izabel Vieira. Campesinato como ordem moral:
(re)visitando clássicos e (re)pensando a economia camponesa. Revista NERA
Presidente Prudente Ano 14, nº. 19 pp. 44-58 Jul-dez./2011
WANDERLEY, Maria
de Nazareth Baudel. Raízes históricas do campesinato brasileiro. XX Encontro
anual da ANPOCS. GT 17. Processos sociais agrários. Caxambu, MG. 1996.
“Henri Mendras
(1927-2003)”, Rural Studies [Online], 167-168 | 2003, postado em 17 de dezembro
de 2004, consultado em 08 de agosto de 2021. URL:
http://journals.openedition.org/etudesrurales/2929; DOI: https://doi.org/10.4000/etudesrurales.2929
SILVA, Carlos
Eduardo Mazzetto. Modo de apropriação da natureza e territorialidade camponesa:
revisitando e ressignificando o conceito de campesinato. Geografias. Belo
Horizonte 03(1) 46-63 janeiro-junho de 2007.
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