MACHADO,
Igor José de Renó; AMORIM, Henrique; BARROS, Celso Rocha de. Sociologia hoje.
São Paulo: Ática, 2016.
O livro escolhido para análise foi o
"Sociologia hoje", PNLD 2015-2017, para alunos do 1° ao 3° ano do
ensino médio, de autoria de Igor José de Renó Machado, Henrique Amorim e Celso
Rocha de Barros; publicado pela Editora Ática, 1° edição, São Paulo, 2016.
Antes de adentrar na análise propriamente
dita preciso contar um pouco da história de como esse livro chegou até mim. Na
realidade, ele foi um presente de um "professor inspirador" que hoje
se tornou praticamente um padrinho: prof. José Geraldo (IF Goiano - Campus
Trindade). Ele leciona Sociologia para o ensino médio no IF e foi uma das
pessoas mais me apoiou a ingressar na área de estudos que hoje ocupo. Esse
livro em especial marcou uma virada na minha graduação, pois recebi de presente
no primeiro semestre, quando estava tendo as disciplinas introdutórias de
Antropologia, Ciência Política e Sociologia. Esse foi o primeiro livro para o
ensino médio que vi apresentar a divisão entre essas três divisões das ciências
sociais. Me encantei em especial pela antropologia (por forte influência do
livro, que até hoje constitui fonte importante para pesquisas bibliográficas
iniciais). Dessa forma, é com grande satisfação que faço essa análise.
Logo na apresentação do livro (p.3) é dito
pelos autores que "o principal objetivo deste livro é aproximar as
investigações, reflexões e teorias das Ciências Sociais do seu cotidiano, como
um instrumento de reflexão crítica" e isso realmente acontece,
principalmente quando observando os boxes "Você já pensou nisto?" que
são seções onde perguntas são feitas tentando aproximar os temas estudados do
mundo ao redor do leitor, destacando questões e problemas do cotidiano. Dentre
esses boxes, um dos meus preferidos se encontra na página 278, onde podemos
encontrar a seguinte reflexão:
"Nós vivemos na mesma cultura que os
políticos corruptos, e é provável que tenhamos alguns hábitos semelhantes aos
deles, por mais que nos incomode reconhecer isso. Muitas vezes desrespeitamos a
lei em situações aparentemente sem importância, com infrações de trânsito,
crimes contra a limpeza pública (jogar lixo na rua, por exemplo), e pequenas
tentativas de levar vantagem sobre os outros. Será que isso não explica parte
da nossa tolerância com políticos corruptos? Afinal, alguns deles são eleitos mesmo
depois de comprovadas as denúncias contra eles. Se nos preocupássemos mais com
nosso comportamento, isso não aumentaria nossa disposição para cobrar como
cidadãos, e assim contribuir para o fim da corrupção?"
Se pararmos para analisar o contexto político
de 2016 e a maré anticorrupção que dava sustentação a mega operações de combate
a corrupção que iam muito além das atribuições e permissões dadas as
instituições responsáveis pela garantia da justiça que, no limite, culminou no
golpe que derrubou uma presidenta eleita e na ascensão de uma extrema direita
fascista com pauta apoiada nessa ideologia antipolítica, torna-se nítida a
necessidade de reflexões como a trazida pelos autores.
E essa "interação" entre conteúdo e
cotidiano não se dá apenas nos boxes "Você já pensou nisto?".
Diversos conteúdos são ilustrados com situações do cotidiano político e social
do país a exemplo as imagens do julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a
constitucionalidade de reserva de vagas em universidades públicas, com base no
sistema de cotas raciais da Universidade de Brasília (p.20), cuja decisão hoje
faz parte do dia a dia de diversos alunos dessa turma de Didática Fundamental,
usadas ao longo do tópico "Informações e pensamento crítico".
Em outras partes do livro há um verdadeiro
"chamamento ao estranhamento", pegando exemplos corriqueiros que
escutamos quando criança, como é o caso da expressão "índio de
verdade" descontruída na página 37, demonstrando como a ideologia
entremeada nessa expressão legitima a retirada de direitos dos indígenas
desqualificando suas reinvindicações.
Os exercícios do livro reforçam esse
"chamamento ao estranhamento" de maneira geral, pois, apesar de
contar com uma parte inicial mecânica (de memorização), intitulada
"Revendo" que trabalha com a ideia de retomar e recortar partes
específicas da leitura; há outros dois blocos de questões
("Interagindo" e "Contraponto") cujo objetivo aparente é
promover a conscientização e postura crítica em relação ao conteúdo, trazendo -
por exemplo - na página 42 um adesivo de carro representando uma família
(heteronormativa) para questionar a ideia de "família" que aquele
simples adesivo representa ou, na página 43, trazendo o poema "O fardo do
homem branco" (texto que só fui conhecer na graduação) para pensar
colonialidade. De maneira geral, o livro cumpre com o objetivo de fixar o
conteúdo tanto para alunos que tem maior facilidade com memorização tanto para
os que se dão bem com interpretação e aplicação.
Considerando toda a explanação realizada até
o momento, é correto afirmar que o livro se aproxima da tendência pedagógica
HISTÓRICO-CRÍTICA, cujo representante teórico estudado é o professor Dermeval
Saviani. Fica evidente pelos exemplos dados e mesmo sem uma leitura muito
aprofundada do livro que há uma defesa enfática de que o papel da escola é
contribuir com o processo de construção e consolidação de outro modelo social
(recordo das questões sobre a cultura da corrupção, por exemplo).
Problematizando questões como as cotas raciais e a colonialidade, destaca-se o
fato de que o livro preza pela igualdade de direitos, oportunidades, cooperação
e justiça social; visando, no limite, transformar a realidade, elementos
constitutivos da tendência histórico-crítica.