quinta-feira, 29 de agosto de 2019

(texto antigo) ANÁLISE: “A LENDA DE TARZAN”


ANÁLISE: “A LENDA DE TARZAN”
      28/07/2018

a)    O filme se passa entre a metade do século 19 até o início do século 20. O contexto envolvia Partilha Africana, busca por matérias primas, teorias positivistas e aplicação do darwinismo social, expansão científica, comercial e religiosa, além do fardo do homem branco e da eugenia.
b)   Um sueco, uma australiana, um estadunidense e um austríaco. Levando em conta a nacionalidade nenhum dos países esteve envolvido diretamente na partilha da África, analisando pelo lado cor de pele o casal europeu é branco, um negro luta pelo direito dos negros e pelo fim da exploração e o vilão é branco por ser um servo leal ao Leopoldo II. É até interessante notar que os brancos ocupam cargos mais elevados no filme, um lorde, outro braço direito do rei... em síntese, poderiam ter escolhido autores que refletissem países envolvidos na história real (excluindo o estadunidense que é realmente estadunidense no filme e na vida), mas a escolha foi certa quanto a etnia.
c)    Além de representar o rei, que já é uma figura importante no âmbito do imperialismo, o Capitão Rom agrega em um só personagem a questão religiosa (o fato de lutar com um terço), a questão econômica (refletida principalmente na sua busca por melhoria de vida defendendo as ideias do rei, mas podendo também ser observada em suas vestimentas, quase nunca bagunçadas) e ainda é líder de uma expedição (veículo importante de comunicação na época).
d)   Que a África é um local miserável (como diz o pai de Tarzan na carta deixada para o filho) e de muitos perigos, que os habitantes são animais (veja as garras e as orelhas), hostis, tinham práticas que eram tidas como condenáveis no Velho Mundo (fortalecendo o pensamento eugênico).
e)    O Tarzan superou a selva, se tornou um lorde britânico, deixando pra trás aquela vida brutal que levou com os macacos. Em suma, o Tarzan exprime todo o pensamento de superioridade branca europeu, ele é a eugenia pura, mesmo vivendo na selva ele foi capaz de se tornar um “homem de verdade”, um lorde. A questão da exploração do Congo e a escravidão para mantê-lo em funcionamento. As dívidas do rei que não tenho dinheiro nem pra contratar seus mercenários.
f)     Claro, vide respostas anteriores. Se manifesta no Tarzan, no Capitão Rom, na Jane que acredita que a viagem à África seja como férias e se preocupa com quantos corpetes precisa levar.
g)   É uma nação que luta pelo fim da escravidão e da exploração dos negros, como se conseguissem combater o racismo dentro do próprio território.
h)   De cara o pensamento eugênico em sua manifestação física, Tarzan. Em um segundo plano a questão da partilha africana, uma visão um pouco mais apurada vai recordar das expedições, um olhar mais aberto percebe ainda a importância religiosa, retratada no capitão Rom, a questão do fardo do homem branco, a presença dos mercenários contratados.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

RESUMO: A cidade e o campo na transição para o capitalismo, John Merrington


RESUMO: A cidade e o campo na transição para o capitalismo, John Merrington

HILTON, Rodney, SWEEZY, Paul, DOBB, Maurice e outros. A transição do feudalismo para o capitalismo. 5° ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

Apesar de em muito concordar com Dobb e Hobsbawm, para John Merrington está nas cidades o principal fator da transição feudalismo-capitalismo. O autor acredita que as cidades passavam por um processo de crescimento ondular (crescimento seguido de declínio, e outra vez crescimento), a depender do grau de abertura para comercio entre cidades, o que apoia a tese anteriormente apontada por Dobb de que o processo de transformação da sociedade foi lento, e Merrington ainda acrescenta “[...] sem a menor previsão ou intenção, meramente pela interação de interesses próprios [...]”. 
Afastando o mito histórico do campesinato passivo, John Merrington defende, em dialogo com Weber e Pirenne, que “[...] o caráter particularmente "generativo" da cidade européia medieval baseado na sua organização comunal, corporativa, como núcleo capitalista com a capacidade de atuar como solvente das relações sociais feudais [...]”. Todavia, para tornar-se núcleo capitalista, o mercado teve um papel importantíssimo, atuando na “[...] destruição das cadeias no campo, gerando independência para os produtores rurais de mercadorias e instaurando "governo regular" em vez das cruentas rixas territoriais entre feudos [..]”. É valido ressaltar que o ponto chave posto por Dobb sobre a diferenciação social dos pequenos produtores ganha um aspecto secundário na visão de Merrington.
Logo, a "revolução urbana" é vista como aspecto-chave da transição para o capitalismo. Outro ponto que merece destaque é o fato que “[...] industrialismo capitalista implicou não apenas uma transferência maciça de recursos humanos e materiais em favor das concentrações urbanas, mas também uma conquista em relação ao campo, que se torna "ruralizado", pois no passado não representava, em absoluto, um ambiente exclusivamente agrícola [...]”, ou seja, não se pode negar o papel relevante da população camponesa, por é só com o capitalismo que o campo se torna sinônimo de atrasado.
Nesse aspecto, o autor cita uma “[...] ausência de vocação revolucionária por parte das cidades [...]” já que está dependia do campo para a manutenção de seus privilégios, de tal forma que fica garantido o protagonismo as pessoas no campo, assim como Dobb o havia feito, posto ainda que os meios de produção pertenciam aos camponeses e “o crescimento urbano feudal se correlacionava estreitamente com o desenvolvimento da economia senhorial [...]”, economia essa que dependia da “apropriação direta do trabalho excedente e da renda dos agricultores”.
John Merrington conclui com a ideia que “[...] "urbanização" e "ruralização" são faces opostas do mesmo processo de divisão capitalista de trabalho [...]”, a primeira numa visão positivada, o sucesso do capitalismo é a urbanização e a libertação, e a segunda com um aspecto negativo, ligado a atraso, que desconexo da cidade não é capaz de obter melhorias e refinamentos.

a)                 Característica do texto: trata-se de um livro? Capítulo? Artigo? Se é parte de um livro, qual? Se é parte de uma coletânea, qual?

Trata-se do último capítulo do livro A TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO
PARA O CAPITALISMO, apresentado hoje.

b)                 Quem é o(a) autor(a) do texto? Como ele(a) se situa no contexto acadêmico?

John Merrington, um historiador inglês que segue a vertente do marxismo britânico, liderado por Perry Anderson.

c)                  Qual é a ideia central do texto? Há uma tese central? Um problema principal?

A ideia central do texto é que a transição feudalismo-capitalismo tem as cidades, o desenvolvimento urbano, como principal fator. Todavia, quanto a lentidão do processo, Jhon Merrington concorda com Dobb e Hobsbawm.

d)                 Como o texto se estrutura? Como o autor desenvolve seu argumento com base na sua ideia central?

O texto é um tanto quanto confuso, não seguindo uma ordem cronológica bem definida. O argumento é posto a prova através dos estudos de outros escritores como o próprio Dobb, Marx, Weber, entre outros.

e)                  Qual a contextualização do texto? Com quem o(a) autor(a) discute?

Assim como Dobb, Jhon Merrington analisa esse processo transitório a luz do século XX, apoiando-se em trabalhos anteriores, dando destaque a Dobb, Marx, Weber, Pirenne.

f)                  Avaliação crítica do conteúdo.

O texto é confuso, acredito que não seja acessível para um público leigo, exigindo um bom dicionário e conhecimento prévio de história geral para acompanhar a leitura. Fora isso, Merrington dá muitas voltadas para acabar na ideia muito bem apresentada pelo professor Dobb, o protagonismo do homem do campo. Mesmo que com o conflito entre classes secundarizado por Jhon Merrington, a conclusão que obtive é que a diferenciação social propiciou o desenvolvimento urbano, pois é do campo que vinham os recursos para a manutenção de privilégios e desenvolvimento urbano, o comércio nos centros urbanos era voltado para a produção rural, as massas ocuparam as cidades por conflitos no campo, enfim, não existiria cidade sem campo.

SLIDE
JHON MERRINGTON: A cidade e o campo na transição para o capitalismo
·                    processo lento, sem a menor previsão ou intenção, meramente pela interação de interesses próprios
·                    está nas cidades o principal fator da transição feudalismo-capitalismo
·                    "revolução urbana" é vista como aspecto-chave da transição para o capitalismo
·                    crescimento ondular
·                    “[...] o caráter particularmente "generativo" da cidade européia medieval baseado na sua organização comunal, corporativa, como núcleo capitalista com a capacidade de atuar como solvente das relações sociais feudais [...]”.
·                    “[...] ausência de vocação revolucionária por parte das cidades [...]”
·                    o protagonismo as pessoas no campo
·                    “o crescimento urbano feudal se correlacionava estreitamente com o desenvolvimento da economia senhorial [...]”, economia essa que dependia da “apropriação direta do trabalho excedente e da renda dos agricultores
·                    o sucesso do capitalismo é a urbanização e a libertação

RESUMO: DO FEUDALISMO PARA O CAPITALISMO, MAURICE DOBB


RESUMO: DO FEUDALISMO PARA O CAPITALISMO, MAURICE DOBB

HILTON, Rodney, SWEEZY, Paul, DOBB, Maurice e outros. A transição do feudalismo para o capitalismo. 5° ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

Dobb parte da premissa já postulada por Hobsbawm de que a transição do feudalismo para o capitalismo foi um processo lento e desuniforme e enfatiza ainda que o desenvolvimento do capitalismo em países mais adiantados atrasou outras partes no mundo não apenas no imperialismo. Realizadas as afirmações acima, Maurice Dobb parte para o que ele chama de questão decisiva: o conflito básico gerado pelo modo de produção feudal circundava produtores diretos e seus suseranos feudais, e não comerciantes e senhores feudais, como muitos afirmam. Na realidade, esses comerciantes e intermediários, para Dobb, eram como “parasitas do feudalismo [...]; em muitos casos, verdadeiros aliados da aristocracia feudal”.
É necessário voltarmos nosso olhar para a “revolta camponesa contra o feudalismo”, mas de maneira consciente, compreendendo que não foi um processo simples e rápido, fugindo da ideia de que com a vitória dos revoltosos as relações burguesas de produção apareceriam simultaneamente. O embrião das relações burguesas de produção demorou a amadurecer, pois teve fatores atenuantes e apaziguadores, e é a esses fatores que dedicarei atenção agora.
Dos atenuantes: (1) o processo de diferenciação social pelo qual os pequenos produtores conseguiam, através de uma “emancipação parcial da exploração feudal”, meios para ampliar a sua produção, o que acabou por criar “uma camada superior de agricultores progressistas relativamente abastados [...] e uma camada de camponeses arruinados”; (2) as cobranças feudais que aumentavam periodicamente, decorrente da frequência elevada de guerras; e, por fim, (3) “a presença de mercados [...] e rotas de comercio inter-regional” que fomentavam a produção, reforçando o processo interno de diferenciação social.
Dos apaziguadores: (1) o poderio militar dos suseranos que reprimia possíveis movimentos revoltosos; e (2) a disponibilidade de terras que, diminuindo a concentração populacional, inibia o desenvolvimento das relações burguesas.

a)                 Característica do texto: trata-se de um livro? Capítulo? Artigo? Se é parte de um livro, qual? Se é parte de uma coletânea, qual?

O primeiro texto é o penúltimo capítulo do livro “A transição do feudalismo para o capitalismo”.

b)                 Quem é o(a) autor(a) do texto? Como ele(a) se situa no contexto acadêmico?

Maurice Dobb, autor do texto que irei apresentar foi um economista britânico que seguia a linha marxista. Destacou-se principalmente pela ênfase que deu à história como base essencial para os estudos de economia, tratando-a como um processo – do jeito que deve ser tratada – e não como uma simples “coleção de fatos”, à qual se pode recorrer em busca de exemplos e casos ilustrativos.

c)                  Qual é a ideia central do texto? Há uma tese central? Um problema principal?

Dobb parte da premissa já postulada por Hobsbawm de que a transição do feudalismo para o capitalismo foi um processo lento e desuniforme e enfatiza ainda que o desenvolvimento do capitalismo em países mais adiantados atrasou outras partes no mundo. Para ele é básico que o conflito básico gerado pelo modo de produção feudal circundava produtores diretos e seus suseranos feudais, e não comerciantes e senhores feudais.

d)                 Como o texto se estrutura? Como o autor desenvolve seu argumento com base na sua ideia central?

Em um dialogo muito forte com Marx e Hobsbwam, Dobb procura demonstrar como fatores atenuantes e apaziguadores atuaram sobre o que ele chama de “embrião das relações burguesas de produção”.

e)                  Qual a contextualização do texto? Com quem o(a) autor(a) discute?

Maurice Dobb observa a formação do capitalismo a luz do século XX, recorrendo constantemente a Hobsbwam e Marx, mas também estabelece um dialogo com alguns outros autores da obra em que esse texto está incluso.

f)                  Avaliação crítica do conteúdo.

O texto de Dobb parece-me acessível mesmo a um público mais leigo por não contar com muitos termos complexos e estar sempre trazendo exemplos que servem para situar as afirmações feitas. Outro ponto que merece destaque é o cuidado que o autor tem para fugir do que ele nomeia “[...] conceitos vagos como "a expansão do mercado" ou "a ascensão da economia monetária [...]”.

SLIDE
MAURICE DOBB: DO FEUDALISMO PARA O CAPITALISMO
·                    processo lento e desuniforme
·                    o conflito básico produtores diretos e seus suseranos feudais
·                    fatores atenuantes e apaziguadores
·                    Dos atenuantes:
(1) o processo de diferenciação social
(2) as cobranças feudais
(3) “a presença de mercados
·                    Dos apaziguadores:
(1) o poderio militar dos suseranos
(2) a disponibilidade de terras

terça-feira, 27 de agosto de 2019

(TEXTO MERAMENTE OPINATIVO) Seria Jhon Stuart Mill comunista?

TEXTO MERAMENTE OPINATIVO.


MILL, John Stuart. Utilitarismo. São Paulo: Editora Escala, 2007.
TORRES, André Castelo Branco Alves. O UTILITARISMO É UM ASCETICISMO. 2017. 192 f. Tese (Doutorado) - Curso de Graduação em Filosofia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2017.

 Seria Jhon Stuart Mill comunista?
“Na regra de ouro de Jesus de Nazaré podemos encontrar o espírito da ética utilitarista em sua plenitude. Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito e amar ao próximo como a nós próprios constituem a perfeição ideal da moral utilitarista.” (MILL, 2007).

Já adianto que não. Recentemente tive que ler mais profundamente sobre o utilitarismo, mais especificamente o utilitarismo inglês, que tem como representante John Stuart Mill. Não há possibilidade de falar de J.S.M. sem pensar em liberalismo, mas ao observar uma obra muito específica desse autor surgiu-me a dúvida ele realmente estaria numa linha política a direita. No livro, de título muito criativo, “Utilitarismo”, de 1861, Mill apresenta a práxis utilitarista, cujos princípios são empregados também no liberalismo novecentista.
“Neste projeto, a exclusão da presença de Deus é um dos pilares do sistema. Para os membros deste movimento filosófico: “não podemos contar com uma divindade que tornará o mundo harmonioso para nós, quer nesta vida, ou em outra. Cabe a nós tornar o mundo moral harmonioso”’ (TORRES, 2017).

A minha dúvida poderia habitar a cabeça de muitas outras pessoas. Num primeiro momento supus “Mill é um comunista incompreendido!”, mas após debater com alguns professores cheguei a uma outra conclusão um tanto quanto assustadora. Mill é liberal, mas não é o que se popularizou hoje (século XXI) como liberal.
“Todas as leis devem provar que possuem razões de maior benefício para sua criação do que o peso dado às razões que existem contra elas [...] não existe nenhuma ocasião em que uma pessoa não tenha motivos para promover a felicidade de outras” (MILL, 2007).

Pensamos a política de maneira binária, algo extremamente simplista, e de algum tempo pra cá, colocamos a esquerda como representante de toda a esfera social, dos direitos humanos, de maconha, de aborto, de lei trabalhista, do marxismo. Já a direita é quem privatiza, quem corta gasto, quem trabalha para o mercado abrindo mão da saúde e do bem-estar da população. Quem é de esquerda demoniza quem é de direita, e o contrário também acontece.
“Os maiores obstáculos para que tal projeto não se concretizasse seriam a carência educacional, e a estrutura social perpetuadora de desigualdades” (TORRES, 2017).

Mas na realidade, essa visão maniqueísta em si já é suficientemente negativa, só que modificou-se de tal forma o liberalismo, que da essência utilitarista de Mill ele não tem nada, ou tem tão pouco que é imperceptível. Mill e outros liberais de seu tempo defendiam bandeiras que hoje são de “esquerdopatas”, como: igualdade, reforma agraria, fim de privilégios, cooperativismo em detrimento da competição, o bem-estar social.
“O desenvolvimento das instituições, fomentadas com o propósito utilitarista, tende a diminuir os efeitos do sofrimento da comunidade ao longo do tempo, e para que tais instituições ganhassem força também seria vital a conscientização do indivíduo, eis a função educativa, pois deveria haver um discurso afinado entre as partes, assim como um certo sacrifício das camadas mais abastadas” (TORRES, 2017).

Hoje em dia Mill seria comunista. É um tanto quanto anacrônico, mas é a minha conclusão. O liberalismo do século XXI é um monstro, é uma distorção do termo que ofenderia qualquer liberal que tenha lido Mill, e o mais preocupante é que esse liberalismo ganha mais e mais seguidores exatamente por ser essa anomalia suicida para qualquer país. É próximo do que Schumpeter fez com o termo “democracia”. Num discurso de manutenção de “direitos individuais”, desumanizou-se completamente a política, que tem por essência resolver os problemas humanos, garantir o bem-estar social.
“Sofrimento e sacrifício nunca seriam bens em si, entretanto estes poderiam ser perfeitamente plausíveis se tendessem a produzir mais felicidade do que sofrimento à comunidade” (MILL, 2007).

Temos que acabar com o discurso de que direitos humanos é coisa de esquerda, que combate a desigualdade é coisa de esquerda, que lei trabalhista é coisa de esquerda. Não é SÓ de esquerda, é coisa de gente, de política, de ciência, de tudo. Não se deve fazer política tirando o fator humano da balança de decisões, se não você mata, direta ou indiretamente. Isso que chamam de liberalismo hoje é política de morte, de seleção de quem pode ou não viver, quem pode ou não ter condições dignas de vida. Não se governa pra maioria, nem pra minoria, se governa pra todos.
“A ação seria eticamente válida pelo fato de contrabalancear não apenas os ganhos unicamente particulares, mas a felicidade da coletividade. Do mesmo modo, seria benevolente quando as camadas mais privilegiadas abrissem mão de um egoísmo infrutífero, para viabilizarem projetos que desenvolvessem as demais” (TORRES, 2017).

Vamos refletir sobre o que acreditamos e como isso impacta as outras pessoas. Liberais de 2018, leiam os clássicos antes de ler Mises ou de afirmar ser “liberal na economia e conservador nos costumes”, leiam Mill, Smith, Ricardo, leiam Marx pra criticar. Parem de repetir qualquer idiotice que escutam, leiam e tirem suas conclusões, vocês são capazes. Não consigo acreditar que um terço dos brasileiros é misógino, racista, machista, anarcocapitalistas, xenofóbicos, homofóbicos. Leiam, não doí. Por um dia parem de compartilhar notícia falsa no whatsapp, baixem um livro e leiam.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

(TEXTO MERAMENTE OPINATIVO) Desabafo


TEXTO MERAMENTE OPINATIVO.

COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIAS. Sistema carcerário brasileiro: negros e pobres na prisão. 2018. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/noticias/sistema-carcerario-brasileiro-negros-e-pobres-na-prisao>. Acesso em: 23 ago. 2019.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Atlas da Violência 2019. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432>. Acesso em: 23 ago. 2019.
DINIZ, DeboraMEDEIROS, Marcelo  e  MADEIRO, Alberto. Pesquisa Nacional de Aborto 2016. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2017, vol.22, n.2, pp.653-660. ISSN 1413-8123.  http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017222.23812016.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Menos armas, menos crimes. Disponível em: < http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/2927/1/TD_1721.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2019.

Desabafo
Hoje pela manhã assisti um filme que há muito haviam me recomendado, mas que por falta de interesse ou simples esquecimento ainda não havia procurado. Foi um daqueles filmes que nos fazem refletir, repugnante, em parte assustador, mas necessário. Assim que o filme terminou, sai de casa e peguei um ônibus pra universidade. Sabe aqueles momentos que você tem um estalo, um choque, vários pensamentos se juntam e te dão um soco de esclarecimento? Passei por isso no caminho.
O filme que eu assisti essa manhã chama-se “Homo Sapiens 1900”, um filme todo em preto e branco que trata de um assunto que estudamos no ensino médio e depois esquecemos, colocamos num dos cantos obscuros da nossa memoria e raramente ousamos visitar. O assunto é eugenia. Durante o século XX as políticas eugênicas se popularizam mundialmente, a ideia era promover uma melhora na humanidade através de uma seleção artificial, limpar a sociedade com aparato legal. Trocando em miúdos, a depender de suas características e habilidades pessoais decidia-se se você poderia ou não procriar. O que sucedeu essas políticas foram massacres em massa.
Os eugenistas tinham centros de pesquisa, uma maquina de propaganda, o consentimento do estado, a aprovação popular. “Melhorar” a humanidade não era um sonho de uma minoria preconceituosa, era uma missão necessária. Só quando fascismo e eugenia foram colocados no mesmo barco é que as pessoas começaram a desconfiar que matar bebês não era algo interessante. Mas o questionamento que faço é se a eugenia acabou junto com a Segunda Grande Guerra ou se ela só “adaptou-se” a novas realidades.
Ultimamente muitas pessoas tem aderido a uma corrente de pensamento econômico um tanto estranha, se autodenominam uma escola de pensamento e afirmar que o insucesso do capitalismo está na existência de um estado. É a burocracia que impede a “mão invisível” de aperfeiçoar essa realidade em que vivemos. Mas pensar nisso para o Brasil me soa um tanto quanto utópico para não dizer outra coisa.
Não é o capitalista que investe em política social, é o estado. Defender um estado mínimo é defender um massacre lendo e gradual de uma população pobre que mal consegue alcançar os serviços básicos que são fornecidos pelo estado, seja por uma demanda muito elevada ou por ineficiência, acabar com política social é condenar gente a morte. É muito fácil falar de liberdade individual, de meritocracia, de liberalismo quando não se discute igualdade. Dar nome bonito não faz com que algo feio deixe de existir.
Da mesma forma que liberar arma é condenar pobre a morte, em 2012 o IPEA concluiu:
“[...]o criminoso profissional não se abstém de cometer crimes em razão de a população se armar para a autodefesa. Porém, a difusão das armas de fogo nas cidades é um importante elemento criminógeno para fazer aumentar os crimes letais contra a pessoa.”
Para e pensa se o gari vai ter nove mil reais para comprar um fuzil, a menos que junto com a liberação criem o programa “Minha Arma, Minha Vida” cujo nome nunca sinalizou tão bem a realidade. Para e pensa se o rapaz bêbado vai pensar duas vezes antes de puxar o gatilho quando ouvir um não numa balada na asa norte. Para e pensa se um marido que espanca a mulher e os filhos vai refletir antes de atirar na esposa quando ele chegar em casa de mal humor. O produtor de soja não vai querer saber qual era a situação do camponês do MST que ele mandou o capataz matar. Isso é eugenia maquiada.
Criminalizar o aborto não inibi que a mulher aborte, Pesquisa Nacional de Aborto 2016:
“Contrário aos estereótipos, a mulher que aborta é uma mulher comum. O aborto é frequente na juventude, mas também ocorre com muita frequência entre adultas jovens. Essas mulheres já são ou se tornarão mães, esposas e trabalhadoras em todas as regiões do Brasil, todas as classes sociais, todos os grupos raciais, todos os níveis educacionais e pertencerão a todas as grandes religiões do país. Isto não quer dizer, porém, que o aborto ocorra de forma homogênea em todos os grupos sociais.”
A diferença é que a “dama” da classe média alta, formada, vai no seu honda civic numa clínica clandestina, mas limpa, e o aborto vai ser feito por um médico que não vai ser preso porque a filha do governador abortou com ele. Ou ela nem se dá ao trabalho de sair de casa, compra uma caixa de misoprostol pela internet e acaba com o problema.
Já a “vagabunda” de 16 anos que vende jujuba no semáforo não vai pensar duas vezes antes de enfiar uma escova sanitária e sangrar até expelir o feto, se ela conseguir só uma infecção já saiu no lucro. Isso é eugenia maquiada.
Guerra contra as drogas no Brasil é engraçada, fizeram uma Lei de Drogas pra diferenciar o viciado do traficante, mas cabe ao policial definir a quantidade que transforma o usuário num vendedor. O negro saindo da Ceilândia com 7g no bolso é traficante e o colega saindo da festa no lago norte com 2kg no carro tem só o suficiente pra consumo pessoal. Se isso não é limpeza social eu não sei o que é. O site da Câmara dos Deputados da mostra a política eugênica em ação:
“[...] Além da precariedade do sistema carcerário, as políticas de encarceramento e aumento de pena se voltam, via de regra, contra a população negra e pobre. Entre os presos, 61,7% são pretos ou pardos. Vale lembrar que 53,63% da população brasileira têm essa característica.”
E não acaba por aí:
“No Atlas da Violência 2019, verificamos a continuidade do processo de aprofundamento da desigualdade racial nos indicadores de violência letal no Brasil, já apontado em outras edições. Em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios foram indivíduos negros (definidos aqui como a soma de indivíduos pretos ou pardos, segundo a classificação do IBGE, utilizada também pelo SIM), sendo que a taxa de homicídios por 100 mil negros foi de 43,1, ao passo que a taxa de não negros (brancos, amarelos e indígenas) foi de 16,0. Ou seja, proporcionalmente às respectivas populações, para cada indivíduo não negro que sofreu homicídio em 2017, aproximadamente, 2,7 negros foram mortos.”
Chame como quiser, eu chamo de eugenia maquiada. A reforma da previdência é eugenia maquiada, desapropriar terra indígena é eugenia maquiada, cortar da educação é eugenia maquiada, negar o racismo é eugenia maquiada, privatizar serviço básico é eugenia maquiada, Agro é PopAgro é Tech, Agro é Tudo” é eugenia maquiada, liberal na economia e conservador nos costumes é eugenia maquiada, assistir calado é eugenia maquiada.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Tylor e Morgan


TYLOR, Edward. 2005 [1871]. “A ciência da cultura”. In: Evolucionismo cultural – Textos de Morgan, Tylor e Frazer. Castro, Celso (org.) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
MORGAN, Lewis Henry. 2005 [1877]. “Sociedade antiga”. In: Evolucionismo cultural – Textos de Morgan, Tylor e Frazer. Castro, Celso (org.) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Tylor busca delimitar a área de atuação da “ciência da cultura”, afastando outras áreas do conhecimento (história, filosofia, ciências da natureza) e rompendo com a religiosidade. Dentro dessa delimitação, o foco dos estudos dos etnógrafos está na busca por causas uniformes, leis de manutenção e difusão e condições-padrão para que se localizasse em qual estágio de desenvolvimento a sociedade objeto de estudo se encontra. Posteriormente, caberia ainda a essa nova ciência comparar as diferentes sociedades, buscando as leis universais, e tais comparações não necessitavam respeitar data na história ou lugar no mapa.
Nas palavras de Edward Burnett Tylor:
“um primeiro passo no estudo da civilização é dissecá-la em detalhes e, em seguida, classificá-los em seus grupos apropriados. [...] o trabalho do etnógrafo é classificar [...] detalhes com vista a estabelecer sua distribuição na geografia e na história e as relações existentes entre eles.”
Talvez o objetivo seja inaugurar um método para essa nova área do conhecimento, a “ciência da cultura”. E com esse método é que Morgan escreve “Sociedade antiga”, buscando um processo de desenvolvimento geral, a qual todas as sociedades estariam sujeitas:
“[..] a selvageria precedeu a barbárie em todas as tribos da humanidade, assim como se sabe que a barbárie precedeu a civilização. A história da raça humana é uma só - na fonte, na experiência, no progresso.”

RESUMO: CRITÉRIOS HISTÓRICOS DO CONCEITO MODERNO DE REVOLUÇÃO


APRESENTAÇÃO DO TEXTO:
CRITÉRIOS HISTÓRICOS DO CONCEITO MODERNO DE REVOLUÇÃO

a)                  Característica do texto: trata-se de um livro? Capítulo? Artigo? Se é parte de um livro, qual? Se é parte de uma coletânea, qual?

O texto intitulado CRITÉRIOS HISTÓRICOS DO CONCEITO MODERNO DE REVOLUÇÃO é o capítulo três do livro FUTURO PASSADO, de 1979, traduzido e publicado no Brasil recentemente.

b)                 Quem é o(a) autor(a) do texto? Como ele(a) se situa no contexto acadêmico?

O autor do texto é o Reinhart Koselleck, um historiador alemão, conhecido principalmente na área de história dos conceitos, mas com proeminência nas áreas de teoria e filosofia da história. Morreu em 2006 deixando uma ampla bibliografia.

c)                  Qual é a ideia central do texto? Há uma tese central? Um problema principal?

O autor busca esclarecer o motivo da mesma palavra (revolução) conseguir abarcar tantos significados. Tratando-a como um termo geral que ganha significado de maneira dinâmica a depender do período, do lugar e do contexto em que foi utilizado.

d)                 Como o texto se estrutura? Como o autor desenvolve seu argumento com base na sua ideia central?

É um texto em prosa, com um vocabulário um tanto quanto inacessível a quem desconhece a área de história. O desenvolvimento se dá numa montagem cronológica confusa, chega de idas e vindas, buscando elencar os vários significados de revolução e o motivo pelo qual o termo ganhou tal sentido.

e)                  Qual a contextualização do texto? Com quem o(a) autor(a) discute?

O autor trabalha um recorte histórico amplo que abrange desde a Grécia Antiga até o fim da década de setenta, período no qual o livro foi publicado. O dialogo passa por diversos autores mais está focado principalmente nos iluministas e nos idealizadores comunistas.

f)                  Avaliação crítica do conteúdo.

Como já dito de passagem anteriormente, o texto não tem uma linguagem simples, estando repleto de terminologias mais técnicas do arcabouço historiográfico. Apesar de ser um tanto quanto confuso pelas idas e vindas, a crítica final proposta pela autor nos faz refletir até mesmo sobre o momento atual, onde cada vez mais há ressignificações, usos e abusos de palavras e eufemismos por grupos obscurantistas que buscam espaço nos meios políticos e boa parte da vitória deles é culpa nossa, dos próprios acadêmicos, que preferimos nos encastelar mantendo o dialogo cientifico entra nós e esquecendo que há um universo leigo do lado de das salas de aula e laboratórios de pesquisa, esquecendo que somos apenas a segunda geração a entrar na universidade, a terceira geração alfabetizada. Se cortam da pesquisa e perseguem a educação sem uma reação massiva do público leigo é porque estes desconhecem o que se faz aqui dentro.

RESUMO: CRITÉRIOS HISTÓRICOS DO CONCEITO MODERNO DE REVOLUÇÃO

Um dos termos mais disseminados no vocabulário político moderno é polissêmico. “Revolução” pode significar ao mesmo tempo golpe, desordem, guerra civil, lugar-comum, retorno, inovação. Koselleck, em CRITÉRIOS HISTÓRICOS DO CONCEITO MODERNO DE REVOLUÇÃO, tem por objetivo esclarecer o motivo da mesma palavra abarcar tantos significados, tratando-a como um conceito geral que varia de maneira dinâmica a depender da situação em que está sendo utilizado.
Inicialmente revolução se traduzia por movimento cíclico, de retrocesso, uma volta para o ponto de partida, como a orbita dos planetas ou as estações do ano. Tratava-se de algo cuja o ser humano não podia controlar, algo natural, que logo ganhou um significado político muito diferente do que conhecemos hoje: o círculo das constituições, que seguia preceitos aristotélicos. As diferentes formas de governos se corrompiam e deterioravam com o passar do tempo, possibilitando que novas formas ocupassem seu lugar, até que não houvesse mais dominação e todo o poder estivesse nas mãos das massas, possibilitando que um único indivíduo voltasse a dominar e o ciclo se repetisse.
Assim como no seu significado natural, o círculo das constituições também estava além do domínio humano, era iria acontecer com ou sem a consciência dos sujeitos. E nesse sentido, revolução pode ser entendida como restauração, pois mais cedo ou mais tarde a situação voltaria a ser como havia sido anteriormente, dessa forma, transcendo a história.
É com o tempo, e com a reapropriação do termo por iluministas que revolução ganha um sentido metafórico que passa a abarcar tudo, se tornando predominante. Revolução passa a fazer parte da vida das pessoas. Não é sem razão que a época haviam comentários como “tudo é revolução neste mundo”, afinal tudo estava em movimento. Mas talvez a novidade mais importante desse período é que revolução passa a ser oposto a guerra civil, afinal as guerras civis passaram a ser vistas como uma herança negativa dos fanáticos religiosos. Outro ponto que merece destaque é o fato de os iluministas terem conhecimento da Revolução Gloriosa, onde um governo que não cumpria com os anseios do povo fora derrubado sem que houvesse derramamento de sangue, retornando a um período de gloria anteriormente assistido. Com isso, o maior e melhor exemplo de revolução passou a ser o ocorrido na Inglaterra.
É só com a Revolução Francesa que a palavra revolução se torna sinônimo de guerra civil, e o que era algo positivo passa a causar medo por ter consequências imprevisíveis, perdendo assim seu sentido original de conduzir a situações anteriores. Ou seja, a chegada da modernidade inaugura um novo conceito, agora completamente avulso ao natural e ligado diretamente a experiências de convulsão social.
Os filósofos comunistas, numa conexão positivista, enxergam na revolução, ainda como guerra civil, um futuro utópico benéfico a humanidade, passando por fases sociais e políticas de emancipação, promovido pela industrialização e carrega consigo a experiencia da aceleração do tempo, um dinamismo muito maior para a vida das pessoas. Se antes os homens só podiam assistir as revoluções acontecendo, agora eles passam a ser agentes diretos desse processo que deve ser universal e continuo, fazendo com que a história do futuro se torne a história da revolução, de tal forma que expurgue o passado. Sua legitimidade se baseia no fato de estar direcionada para o futuro, um futuro que era visto como positivo, e por se legitimar nessa crença progressista acabava por servir para justificar guerras civis: todos deviam buscar sua autonomia, seu futuro prospero.
Todavia, essas guerras justificadas só aumentaram e serviam como uma válvula de escape para evitar conflitos maiores e devemos nos perguntar para onde estamos indo se usamos da violência para evitar a violência. A polissemia da palavra revolução serve para nos lembrar que as palavras e seu uso são muito mais importantes para a política que qualquer outra arma.

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