VITULLO,
Gabriel. “Representação política e democracia representativa são expressões
inseparáveis? Elementos para uma teoria democrática pós-representativa e
pós-liberal”. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 2, 2009.
O texto de Vitullo vem problematizar essa teoria de
avanço democrático na junção da corrente representativa com a direta, dando
origem a democracia representativa liberal, termo em si contraditório por unir
duas perspectivas que historicamente são antagônicas: “democracia” e
“liberalismo” [VITULLO, 2009, p.271-273].
A primeira parte do texto preocupa-se em explicar a
origem da ideia de unir democracia ao liberalismo, que não passou de uma
ferramenta pra combater o ganho de poder das massas assalariadas, ou seja, da
maioria. O medo da minoria afortunada de uma divisão igualitária de propriedade
fez com que diversos teóricos trabalhassem com ideias republicanas e
federalistas sob um título falsamente democrático [VITULLO, 2009, p.272-280].
Num segundo momento o autor explica a junção das
correntes participativa e direta da democracia, respaldada num suposto avanço
promovido pelo liberalismo. Mas esse avanço não foi propriamente liberal, muito
pelo contrário, grandes nomes do liberalismo foram contra, por exemplo, o voto
feminino na Suíça ou o voto negro nos Estados Unidos da América. Então a
questão é que, talvez, essa união democrática liberal não seja tão positiva
quanto aparenta, e o ponto está no fato de que a participação política não está
de forma alguma vinculada a democracia participativa. Será esse o enredo a última
parte do texto [VITULLO, 2009, p.280-288].
A questão então não é abandonar a ideia de
participação (usada erroneamente como sinônimo de democracia participativa),
mas pensar nela em aspectos mais abrangentes e, até mesmo, mais democráticos,
como foi o caso da Comuna de Paris ou na Constituição Bolivariana [VITULLO,
2009, p.288-294].
É preciso superar a democracia liberal, que reduz
democracia ao “simples exercício eleitoral”, e pensar em alternativas que “garantam
o desenvolvimento individual e coletivo ao povo” sem abandonar a instituições
já consolidadas, alternativas como: consulta popular, revogatória de mandatos e
assembleia de cidadãos [VITULLO, 2009, p.294-295].
Num primeiro momento de leitura me vi completamente
contra a democracia e talvez fosse essa a intenção do autor: nos fazer repensar
o que acreditamos ser democracia. Porem, na parte final o texto, as
alternativas propostas pela Venezuela ou o exemplo da Comuna de Paris trazem
certa tranquilidade e possibilitam uma espécie de “luz no fim do túnel”. É
preciso democratizar e promover participação no regime democrático
participativo liberal, redistribuir o poder da tomada de decisão, que hoje se
localiza nas mãos das minorias, sem invadir o espaço individual.
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