Século XIX - A construção
nacional
Francisco Octávio B. de Sousa
Antecedentes:
O Brasil entrou no século 19 com grande aspiração de autonomia, no embalo da
Inconfidência Mineira (1789) e da Conjuração Baiana (1798). A América Lusitana
estava dividida em três estados portugueses: o Estado do Brasil (propriamente
dito), com capital no Rio de Janeiro, o Estado do Grão Pará e Rio Negro, com
capital em Belém, e o Estado do Maranhão e Piauí, com capital em São Luís.
Apesar de habitarem estados portugueses, os brasileiros não tinham as mesmas
oportunidades que os portugueses de Portugal.
1808: A Corte Portuguesa chega em terras
brasileiras: Com a chegada da Família Real, em 1808, o
Brasil ganhou novo status, passando a sede da Coroa Portuguesa. Em 1815 foi
elevado a Reino. Em 1821, o Reino Unido Lusitano foi transformado em uma
Monarquia Parlamentar, governado pelas Cortes de Lisboa. Esse processo resultou
na Guerra da Independência do Brasil.
No desembarque em Salvador tocava: "Cheguei
(cheguei)/Cheguei chegando/Bagunçando a zorra toda/E que se dane/Eu quero mais
é que se exploda/Porque ninguém vai estragar meu dia/Avisa lá, pode falar"
(Ludmilla, 2017).
1822: Declaração da Independência do
Brasil: os portugueses, em Portugal, não apreciaram, em
geral, a nova condição do Brasil e buscaram revertê-la, transformando o regime
de governo em uma Monarquia Parlamentar, comandada pelas Cortes de Lisboa,
desde janeiro de 1821. Em setembro, do mesmo ano, as Cortes determinaram que as
províncias seriam comandadas por juntas provisórias de governo, eleitas nas próprias
províncias. O poder do Príncipe Regente tornou-se simbólico, na verdade, as
Cortes determinaram que o Príncipe não tinha lugar no Brasil. Os governos
provisórios das províncias brasileiras despachavam diretamente com as Cortes de
Lisboa. Mas o Príncipe Dom Pedro, não tinha simpatias pelas Cortes de Lisboa.
Forças políticas portuguesas exigiram o retorno do Príncipe Regente D. Pedro à
Portugal. O Príncipe negou-se a sair do Brasil. Em Sete de Setembro de 1822,
quando o Príncipe deu seu grito de guerra Independência ou Morte, marcou-se o
rompimento de Dom Pedro com Portugal, resultando na Guerra de Independência, em
âmbito nacional. Não se sabe exatamente o que foi dito pelo Príncipe, na área
do Ipiranga, em complemento ao seu grito de guerra. Os relatos são
contraditórios e publicados muito depois. Não houve ali uma "proclamação
de independência", como querem alguns autores, mas não há dúvidas que foi
naquele momento que o Príncipe avisou que lutaria por ela. A partir de então,
ficou claro que era um processo sem volta. A Independência do Brasil foi um
processo que se estendeu de 1822 a 1824. A adesão à causa da Independência foi
em província por província. Aquelas cujo governo não aderiu, foram
conquistadas, uma a uma. Estados Unidos, Portugal e Inglaterra, a maior
potência da época, reconheceram o Brasil como nação soberana. A paz foi selada
pelo Tratado de Amizade e Aliança, de 1825, entre Brasil e Portugal, mediado
pela Grã-Bretanha.
Registros encontrados recentemente demonstram
que D. Pedro cantou na beira do Ipiranga: “O sol rachando já passou do meio dia/Daqui
não saio, daqui ninguém me tira” (Munhoz & Mariano, 2012).
1824: Promulgação da 1ª Constituição do
Brasil (outorgada): instituía um governo monárquico e
hereditário, constitucional, parlamento bicameral, voto indireto e censitário,
divisão do território em províncias, conselho de estado, catolicismo e divisão
administrativo em 4 poderes. O autoritarismo que marcou o processo de outorga
da Constituição de 1824 inaugurou uma fase na história política do Brasil, onde
a centralização política se transformou em uma prática severamente questionada.
Mesmo contando com alguns princípios de natureza liberal, a Constituição de
1824 também foi marcada por uma série de dispositivos contrários ao seu
aparente liberalismo. A centralização dos poderes acabava gerando a
insatisfação de muitos dos representantes políticos do período. D. Pedro I
depôs o então governador, Manuel de Carvalho Paes de Andrade, e indicou um
substituto para o cargo. A troca do governo seria o último episódio que
antecedeu a formação do movimento que ficou conhecido como Confederação do
Equador, esse ganhou tal nome em razão de sua proximidade geográfica com a
Linha do Equador. A Confederação, que se iniciou com a ação de lideranças e
populares pernambucanos, logo tomou corpo e conseguiu a adesão de outros
estados do nordeste. Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba também se juntaram ao
movimento. Impassíveis às tentativas de negociação do Império, os revoltosos
buscaram criar uma constituição de caráter republicano e liberal. Além disso, o
novo governo resolveu abolir a escravidão e organizou forças contra as tropas
imperiais. Depois de estabelecidas as primeiras ações da Confederação, alguns
de seus líderes decidiram abandoná-la. Tudo isso porque alguns integrantes da
revolta defendiam a radicalização de algumas ações do novo governo. Frei
Caneca, Cipriano Barata e Emiliano Munducuru acreditavam que a ampliação de
direitos políticos e reformas no campo social eram medidas urgentes no novo
poder estabelecido. Com isso, os integrantes da elite que apoiaram a
Confederação se retiraram do levante. De outro lado, o governo imperial tomou
medidas severas contra o movimento separatista. Dom Pedro I pediu empréstimos à
Inglaterra e contratou mercenários ingleses para que lutasse contra os
revoltosos. Não resistindo ao enfraquecimento interno do movimento e a dura
reação imperial, a Confederação do Equador teve seu fim. Inicia-se a crise do
Primeiro Reinado.
D. Pedro bateu com o cetro na mesa cantando:
"Tem que ser coletivo/Aqui manda quem pode, obedece quem tem juízo"
(Menor do Chapa, 2015).
1825: Guerra da Cisplatina:
conflito travado pelo Império do Brasil contra as Províncias Unidas do Rio da
Prata (atual Argentina) pelo controle da Cisplatina, região que atualmente
conhecemos como Uruguai. Essa foi a primeira guerra de que o Brasil participou
como nação independente e estendeu-se de 1825 a 1828. O resultado do confronto
foi desastroso para o Brasil, que, além de perder a Cisplatina, teve de amargar
uma intensa crise econômica. Os gastos com o conflito foram gigantescos e
quebraram a economia brasileira. Além disso, essa situação foi agravada pelo
fato de que, durante os anos da guerra, a Casa da Moeda emitiu grande volume de
moeda, o que causou a sua desvalorização. A guerra também contribuiu para
desgastar a imagem de D. Pedro I. O imperador vinha sofrendo um desgaste
contínuo desde 1822 por causa de seu autoritarismo. Ao final da guerra, a
derrota e a crise econômica fizeram a sua popularidade despencar.
Barões brasileiros da região de Pisadinha contaram
a história na seguinte canção: "Tava tudo decorado/Friamente calculado/Na
minha mente/Hoje era o fim da gente/Mas quando eu tava cara a cara/Falei nada
com nada/Aconteceu aquele imprevisto" (Os Barões da Pisadinha, 2021).
1831: Dom Pedro I abdica do Trono:
em 7 de abril de 1831, D. Pedro I foi forçado a deixar o trono em favor de seu
filho, Dom Pedro II, então com cinco anos de idade. De um lado os absolutistas,
que defendiam a ordem e a propriedade privada, mas também o imperador e seus
abusos contrários à legalidade, e de outro os liberais, que, embora também
defendessem a ordem e a propriedade privada, defendiam a liberdade
constitucional. Inicialmente muitos membros da elite nacional se colocaram ao
lado de D. Pedro I, especialmente porque passaram a ocupar cargos
administrativos e receber títulos honoríficos. Mas, com o passar do tempo, os
brasileiros foram passando para o lado dos liberais, e os portugueses saíam em
defesa do imperador. Entre a população urbana e o exército o sentimento
contrário aos portugueses era bastante comum. Assim, o exército foi se
afastando do imperador, tendo em vista que sua base era composta de pessoas
pobres dos centros urbanos e as condições de trabalho não eram das melhores. O
atraso no pagamento e a disciplina eram traços marcantes da atividade no exército.
Em março de 1831 o Imperador retorna de uma viagem à Minas Gerais, onde não foi
bem recebido. Os portugueses decidem promover festejos em sua homenagem,
demonstrando apoio. Os brasileiros então reagiram e os conflitos nas ruas
duraram poucos dias. Em um deles um evento conhecido como noite das garrafadas
aconteceu. Brasileiros atacaram casas de portugueses, que responderam com
garrafas e cacos de vidro. Iniciaram-se assim as manifestações contrárias ao
imperador, com os comandantes aderindo à revolta. Com a situação cada vez mais
insustentável, D. Pedro I se viu obrigado a abdicar do trono em abril de 1831.
Dizem que a melancolia de D. Pedro foi
narrada na canção: "Melhor eu ir/Tudo bem vai ser melhor só/Se teve que
ser assim/É que pensando bem nunca existiu nós/Só eu que pensei na gente/Ainda
que demorei pra terminar, dói" (Péricles, 2015).
1831: Período Regencial:
foi o momento da História do Brasil entre o Primeiro e o Segundo Reinado. Teve
início depois que Dom Pedro I abdicou ao trono (1831) e se entendeu até o
denominado Golpe da Maioridade, quando D. Pedro II passou a governar o império.
O período é marcado por intensos conflitos político-sociais realizados em todo
país e é dividido em Regência Trina Provisória, Trina Permanente, Una do Padre
Feijó e Una de Araújo Lima. As más condições sociais e a pouca contribuição do
governo central com as regiões fizeram surgir conflitos em diversos estados do
Brasil. Os principais deles foram:
•
Balaiada: realizada na província do
Maranhão entre 1838 a 1841. Contou com a participação de escravos e
fazendeiros. As principais causas da Balaiada estão ligadas à pobreza da
população da província maranhense, bem como sua insatisfação diante dos
desmandos políticos dos grandes fazendeiros da região.
•
Cabanagem: movimento realizado na
província do Grão-Pará (Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia) e teve como
objetivo a independência da região.
•
Guerra dos Farrapos: também conhecida como
Revolução Farroupilha, a revolta foi mobilizada pelos grandes proprietários de
terra do Rio Grande do Sul, insatisfeitos com os altos impostos cobrados pelo
governo imperial sobre seus produtos. Por isso, constataram que a separação e a
república seriam uma forma de obter liberdade comercial e política.
•
Revolta dos Malês: realizada na Bahia em
1835, foi organizada por escravos de origem islâmica que buscavam liberdade
religiosa.
•
Sabinada: outro movimento baiano realizado
entre 1837 e 1838, tinha como objetivo construir uma república separada do
restante do país até a maioridade de D. Pedro II.
O contexto fala por si: "Vish, muita
tretae vish, muita treta vish/Muita treta vish vish vish vish" (Apocalipse
16, 2010).
1847: Golpe da Maioridade. Dom Pedro II
assume o trono brasileiro: garantiu ascensão ao trono de D.
Pedro II, em 23 de julho de 1840, aos 14 anos. A antecipação da maioridade foi
a estratégia do Partido Liberal para dar fim ao Período Regencial (1831-1840),
quando o Brasil foi governado por regências. O objetivo do Golpe da Maioridade
era restabelecer a estabilidade política ao Brasil. O País estava marcado por
confrontos políticos e sociais no Primeiro Reinado (1822-1831) e que se
mantinham no Período Regencial (1831-1840). Com o Golpe, inicia-se o Segundo
Reinado, período que se estendeu por 49 anos e que pode ser dividido da
seguinte maneira:
•
Consolidação (1840-1850): quando o
imperador estava no poder e estabeleceu-o, a seu modo, sobre o país, colocando
políticos e províncias rebeldes sob seu controle.
•
Auge (1850-1865): quando o poder do
imperador era amplo e sua posição estava consolidada.
•
Declínio (1865-1889): quando surgem
contestações contra a posição de D. Pedro II, e a economia do país não ia bem.
A distribuição do poder durante o Segundo
Reinado acontecia de forma que o imperador tivesse amplos poderes na política.
O imperador representava pessoalmente o Poder Moderador e estava à frente do
Executivo. No Executivo também constava o Conselho de Estado. No caso do
Legislativo, destacam-se os cargos de senador e deputado. Por fim, da política
brasileira, um último e importante destaque a ser mencionado é o que ficou
conhecido como parlamentarismo às avessas. O Brasil funcionava como uma
monarquia parlamentarista na qual o imperador interferia na política sempre que
fosse necessário para garantir seus interesses. Assim, se fosse eleito um
primeiro-ministro que não lhe agradasse, ele o destituía, e se a Câmara tomasse
medidas que não lhe agradassem, ela era dissolvida. Em termos econômicos, o
grande destaque vai para a economia cafeeira, que se consolidou durante o
Segundo Reinado como o principal meio de produção da economia brasileira. As
zonas produtoras de café do Brasil nesse período foram três: Vale do Paraíba
(RJ/SP), Oeste Paulista (SP) e Zona da Mata (MG). A produção do café aconteceu
(primeiramente no Vale do Paraíba) utilizando-se, principalmente, de
trabalhadores escravizados. Inclusive, à medida que o número de escravos foi
sendo reduzido no país, as regiões produtoras de café tornaram-se grandes
compradoras de escravos. O Oeste Paulista utilizou, a princípio, a mão de obra
escrava, mas, ao longo da década de 1880, essa foi substituída pelos imigrantes
que passaram a chegar em grande volume no país. Outro momento importante da
economia brasileira, durante o Segundo Reinado, foi o de grande crescimento
econômico marcado por algum desenvolvimento industrial: a Era Mauá. Tal
prosperidade econômica aconteceu entre 1840-1860, e nela as receitas do Brasil
aumentaram quatro vezes.
Os representantes do Partido Liberal buscaram
Pedro II cantando: "Novinho safadinho, hoje eu vou falar pra tu/Eu quero é
tu" (Mc Jaja, 2013).
1850: Publicação da Lei Eusébio de Queiroz
que proibiu o tráfico de escravos: o crescimento econômico
desse período é muito atribuído ao reflexo do fim do tráfico negreiro no país
por meio da Lei Eusébio de Queirós, de 1850. Com essa lei, o tráfico negreiro
foi proibido, e todos os recursos, que antes eram utilizados na aquisição de
escravos, passaram a servir para outros investimentos. As exportações do país
aumentaram, e o investimento em estradas de ferro, por exemplo, aumentou
bastante.
Era o início de uma campanha pelo fim da
escravidão: "Deixa eu dançar, deixa eu dançar/Ai, me solta, porra!"
(Nego do Borel, 2018).
1864: Início da Guerra do Paraguai:
A Guerra do Paraguai foi reflexo da consolidação das nações da bacia platina
(Argentina, Uruguai, Brasil e Paraguai) e resultou em enorme destruição e
grande saldo de mortos. Conflito de maior duração e proporção de toda a
história da América do Sul, a Guerra do Paraguai foi um grande divisor de águas
para todos os países envolvidos. Nessa guerra, Brasil, Argentina e Uruguai, por
meio da Tríplice Aliança, lutaram contra o Paraguai, governado nessa época por
Francisco Solano López. O Brasil venceu esse conflito, mas suas consequências
para a economia do país e para a monarquia foram ruins. Para o Brasil, a guerra
gerou forte impacto na economia, uma vez que os gastos do Brasil foram 11 vezes
o orçamento anual do país em 1864. Além disso, o governo brasileiro saiu
bastante endividado, sobretudo com bancos ingleses, em decorrência dos
empréstimos feitos para financiar o conflito. A guerra também fortaleceu o
exército como instituição e marcou o início da decadência da monarquia. Em
relação à quantidade de mortos, o saldo foi o seguinte:
•
Uruguai: 3.120 mortos;
•
Argentina: 18 mil mortos;
•
Brasil: 50 mil mortos;
•
Paraguai: 150 mil mortos (não há consenso
entre pesquisadores).
O Paraguai foi a nação mais prejudicada na
guerra, afinal, grande parte das batalhas aconteceu em território paraguaio, o
que lhe causou grande destruição material. A nação ainda foi obrigada a abrir
mão dos litígios territoriais que travava com Brasil e Argentina.
Cansados da perseguição infundada a Solano
López, os militares cantavam para D. Pedro II: “Vem
de chicote, algema, corda de alpinista, aí que eu percebi que o cara é sadomasoquista”
(Deize Tigrona, 2021).
1888: A princesa Isabel assina a Lei Áurea
que aboliu a escravidão: Durante o Segundo Reinado, a
abolição da escravatura foi um dos temas centrais e alvo de debates acalorados
nos meios políticos. O ponto de partida para que a abolição fosse decretada no
Brasil foi a Lei Eusébio de Queirós, decretada em 1850 e que estipulava a
proibição do tráfico negreiro no país. Com essa lei, a abolição era questão de
tempo, uma vez que era o tráfico que mantinha o elevado número de escravos no
Brasil. Iniciou-se aqui uma transição lenta e gradual, na qual o objetivo da
elite econômica do país era postergar a abolição tanto quanto fosse possível.
Durante esse período de transição, foram decretadas diversas leis, como a Lei
de Terras, Lei do Ventre Livre e Lei dos Sexagenários. A abolição da
escravatura aconteceu em 13 de maio de 1888, quando a princesa Isabel assinou a
Lei Áurea. O fim da escravidão foi resultado de uma intensa mobilização popular
e da ação dos escravos rebelando-se contra essa instituição.
Essa não tem meme! A música realmente
reflete sobre o século XIX e a Lei Áurea: "Liberdade, liberdade!/Abra as
asas sobre nós (bis)/E que a voz da igualdade/Seja sempre a nossa voz"
(Imperatriz Leopoldinense (RJ), 1989).
1889: Proclamação da República:
aconteceu no dia 15 de novembro de 1889. Resultado de um levante
político-militar que deu início à República Federativa Presidencialista. Fica
marcada a figura de Marechal Deodoro da Fonseca como responsável pela efetiva
proclamação e como primeiro Presidente da República brasileira em um governo
provisório (1889-1891). Sempre contrário ao movimento republicano e defensor da
Monarquia como deixa claro em cartas trocadas com seu sobrinho Clodoaldo da
Fonseca em 1888 afirmando que apesar de todos os seus problemas a Monarquia
continuava sendo o “único sustentáculo” do país, e a república sendo proclamada
constituiria uma “verdadeira desgraça” por não estarem, os brasileiros,
preparados para ela. Os problemas no Império estavam em várias instâncias que
davam base ao trono de Dom Pedro II:
•
A Igreja Católica: Descontentamento da
Igreja Católica frente ao Padroado exercido por D. Pedro II que interferia em
demasia nas decisões eclesiásticas.
•
O Exército: Descontentamento dos oficiais
de baixo escalão do Exército Brasileiro pela determinação de D. Pedro II que os
impedia de manifestar publicamente nos periódicos suas críticas à monarquia.
•
Os grandes proprietários: Após a Lei Áurea
ascende entre os grandes fazendeiros um clamor pela República, conhecidos como
Republicanos de 14 de maio, insatisfeitos pela decisão monárquica do fim da
escravidão se voltam contra o regime. Os fazendeiros paulistas que já
importavam mão de obra imigrante, também estão contrários à monarquia, pois
buscam maior participação política e poder de decisão nas questões nacionais.
•
A classe média urbana: As classes urbanas
em ascensão buscam maior participação política e encontram no sistema imperial
um empecilho para alcançar maior liberdade de econômica e poder de decisão nas
questões políticas.
A República Federativa Brasileira nasce
pelas mãos dos militares que se veriam a partir de então como os defensores da
Pátria brasileira. A República foi proclamada por um monarquista. Deodoro da
Fonseca assim como parte dos militares que participaram da movimentação pelas
ruas do Rio de Janeiro no dia 15 de novembro pretendiam derrubar apenas o
gabinete do Visconde de Ouro Preto. No entanto, levado ao ato da proclamação,
mesmo doente, Deodoro age por acreditar que haveria represália do governo
monárquico com sua prisão e de Benjamin Constant, devido à insurgência dos
militares. A Maçonaria e os maçons permanecem presentes entre as lideranças
brasileiras desde a Independência, aliados aos ideais da filosofia Positivista,
unem-se na formação do Estado Republicano, principalmente no que tange o
Direito. A filosofia Positivista de Auguste Comte esteve presente
principalmente na construção dos símbolos da República. Desde a produção da
Bandeira Republicana com sua frase que transborda a essência da filosofia
Comteana “Ordem e Progresso”, ou no uso dos símbolos como um aparato religioso
à religião republicana. A nova organização brasileira pouco ou nada muda nas
formas de controle social, nem mesmo há mudanças na pirâmide econômica, onde se
agrupam na base o motor da economia, e onde estão presentes os extratos mais
pobres da sociedade, constituída principalmente por ex-escravizados e seus
descendentes. Já nas camadas mais altas dessa pirâmide econômica organizam-se
oligarquias locais que assumem o poder da máquina pública gerenciando os
projetos locais e nacionais sempre em prol do extrato social ao qual pertencem.
Não há uma revolução, ou mesmo grandes mudanças com a Proclamação da República,
o que há de imediato é a abertura da política aos homens enriquecidos,
principalmente pela agricultura. Enquanto o poder da máquina pública no Império
estava concentrado na figura do Imperador, que administrava de maneira
centralizadora as decisões políticas, na República abre-se espaço de decisão
para a classe enriquecida que carecia desse poder de decisão política.
A última carta de Pedro II para Deodoro
continha a seguinte mensagem: "E aí, compensou me largar?/Cadê suas
amizades?/Os seus esqueminhas?/Que você falava e falava que tinha/É isso que cê
chama de volta por cima/"Cê" deu foi volta por baixo amor/Cadê o
melhor que eu que você arrumou?" (Henrique e Juliano, 2020).
Livres e pobres no século XIX:
Eles eram, principalmente, descendentes de portugueses, africanos e indígenas e
já estavam integrados àquela sociedade no momento da chegada dos imigrantes
europeus. Os primeiros trabalhos sobre os homens livres pobres, da mesma forma
que sobre os ‘desclassificados’, projetaram-lhes um perfil violento, mas, ao
mesmo tempo, passivo diante de sua exploração. Essa visão foi contestada nos
anos 1980, demonstrando a complexidade do mundo rural brasileiro dos Séculos
XIX e XX, salientando a diversidade da estrutura fundiária e suas resistências
frente ao processo de expropriação. Os pequenos posseiros também se valeram da
legislação para efetivar suas posses e fazer frente aos litígios contra os
grandes possuidores de terras. Também é perceptível a utilização do homem livre
e pobre como um “escudo humano” frente aos “perigos da mata”. Se existia uma
fronteira agrária aberta na região, era, principalmente, devido à insegurança
existente no mato, tanto por causa dos possíveis ataques dos indígenas quanto
de foragidos e outros grupos que perambulavam pela região.
Indígenas no século XIX:
enquadrados entre o extermínio e a mudança de hábitos, de práticas e de
valores, estão os povos indígenas, que em um primeiro momento do século são
colocados como a personificação da nação brasileira, especialmente os da etnia
Tupi-Guarani, tidos como o “bom selvagem”, ilustrados nas obras de José de
Alencar, como “Iracema” e “O Guarani”, bem como nas obras de outros autores da
época. Essa imagem mitificada do "indígena bom" contrasta com relatos
descrevendo indígenas “selvagens, bestas, primitivos”, presente nos sertões,
que praticavam insurreições elencadas como a barbárie, a exemplo do roubo de
gado e de bens materiais, do incêndio de propriedades e de plantações, do
assassinato de fazendeiros, do afugentamento de viajantes pelas estradas,
dentre outros ocorridos, como formas de resistir ao processo de ocupação de
suas terras e de reagir às tentativas civilizatórias por parte das sociedades
coloniais. Até mesmo dentro dos próprios aldeamentos ocorriam resistências para
com a arbitrariedade praticada pelos missionários ou diretores provinciais.
Diversas populações indígenas, em diferentes províncias, mantinham seus ritos
tradicionais e passaram a utilizar também de meios legais para demonstrar sua
insatisfação para com a forma de tratamento dentro dos aldeamentos. Mesmo com
as perseguições e massacres, os povos indígenas seguiram resistindo às pressões
estatais, apesar de marginalizados e desassistidos.
Negros no século XIX:
o século XIX foi marcado por mudanças na sociedade escravista (inicialmente
estável e considerada por parte da sociedade do período como necessária). Ir
contra a escravidão era ir contra os interesses do Brasil, não só das elites,
mas de várias camadas sociais. A escravidão era um consenso e a reprodução
social dependia de um fluxo constante de pessoas escravizadas. Ao longo dos
oitocentos, questões internas e externas fazem com que a escravidão mude de
tom. Internacionalmente, se tornava cada vez mais difícil sustentar a
continuidade da escravidão desde de 1831 ao menos, quando o Brasil se
compromete a acabar com a escravidão. Em decorrência dessa mudança de
pensamento e da proibição do tráfico atlântico de pessoas escravizadas, a
propriedade escrava se tornou cada vez mais concentrada. Os escravizados se
tornaram artigo de luxo com os preços cada vez maiores. Pequenos proprietários
passaram a vender seus escravizados aos grandes proprietários, promovendo o
tráfico interno e a concentração de escravizados em áreas de pujança econômica.
Somente em 1850, com a Lei Eusébio de Queiroz, a burocracia e as instituições
de estado passam a combater o tráfico. A escravidão da segunda metade do XIX já
não era a mesma dos dois séculos anteriores: é nesse período que se cristaliza
a imagem do rico proprietário de escravos na casa grande. A Abolição em 1888,
apesar de representar uma importante conquista, não veio acompanhada de um
plano de integração dessas pessoas à sociedade, resultando na continuidade de
preconceitos e marginalização da população negra.
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