segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Era da Catástrofe e Anos Dourados: Mundo e América Latina


II PROVA DE HISTÓRIA ECONOMICA GERAL
QUESTÃO I
HOBSBAWM, Eric. Rumo ao abismo econômico. In: HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: O breve século XX 1914-1991. Rio de Janeiro : Comp. das Letras, 2001, p.90-112.

Hobsbawm analisa o período de 1914 até 1945 em “Rumo ao abismo econômico”. Nessa analise percebeu que até a I Grande Guerra o capitalismo mundial veio em uma tendência de crescimento, encerrada em 1929, ano em que se abre o pior momento do capitalismo: uma crise mundial chamada de Grande Depressão, tendo por epicentro os Estados Unidos. Índices socioeconômicos despencavam e o desemprego atingira a marca de duas casas nas grandes potências, um choque brutal em um mundo ainda em recuperação.
Antes da I Guerra a economia mundial vinha em um ritmo de crescimento que nunca foi novamente alcançada no pós-guerra, todavia a guerra em si não é o principal fator que levou a Grande Depressão, apesar de Hobsbawm datar a “Era da Catástrofe” com inicio em 1914, a I Guerra forneceu elevados lucros para os EUA. Todavia partem dessa potencia questões chave para compreender a estagnação mundial que se seguiu pós-1930.
Por ser praticamente autossuficiente os EUA não desempenhavam o papel de estabilizador da economia mundial, que outrora já pertenceu a Inglaterra. Além disso, no pós-guerra uma grande euforia foi desencadeada nos países não afetados diretamente pelos conflitos: os salários aumentavam, as horas trabalhadas diminuíam e a disponibilidade de créditos não tinha paralelos. Em 1929 a euforia se esvai levando junto o poder de compra, derrubando a economia global e uma série de governos pelo mundo.
Ainda relacionado aos EUA, mas com impactos principalmente na Europa, o Tratado de Versalhes funcionava como um entrave para a economia mundial, impondo custos de recuperação elevados que tornaram as dividas com os EUA muito altas. Mas, por incrível que pareça, a Alemanha não sofreu com a Grande Depressão como outros países, com exceção da URSS -blindada pela sua economia planificada. Os esforços de guerra faziam com que a produção não caísse, fortalecendo as industrias nacionais alemãs, gerando emprego e renda.
Os fascismos ascendem nas suas mais variadas formas e o comunismo soviético se torna um concorrente para o capitalismo. O alento veio com a inserção de planejamento e planificação no vocabulário econômico, momento em que houve primazia do eixo social sobre o econômico. O protecionismo e a influência do estado sobre a economia aumentam, os agricultores se voltam para a subsistência, nas cidades o desemprego passa a ser fortemente combatido. Keynes se torna o maior economista do século XX e as inovações tecnológicas aumentavam a esperança sobre um crescimento que nunca voltou a alcançar índices de outrora.

QUESTÃO II
HOBSBAWM, Eric. Os anos dourados. Em: HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: O breve século XX 1914-1991. 2° ed. Rio de Janeiro : Companhia das Letras, 2001, p.253-281.

No contexto de Guerra Fria, os EUA tomam a hegemonia mundial prometendo superar o passado sombrio da “Era da catástrofe”. A “Era de Ouro” do capitalismo para os países desenvolvidos é inaugurada em 1947, se tornando um marco histórico percebido tardiamente, pois o mundo acabara de passar por uma guerra e a principal potencia capitalista não crescia como já havia crescido antes. Europeus pregavam um retorno ao pré-I Guerra e a grande amplitude geográfica do momento ajudaram a fazer com que os “Anos Dourados” só fossem identificados a partir de 1960.
O principal concorrente do capitalismo, o socialismo real, apresentava índices de crescimento superiores aos do Primeiro Mundo, todavia o desenvolvimento tecnológico era inferior, o que falseava os índices.
Fato é que as expressões da “Era de Ouro” se deram de várias formas: uma explosão demográfica sustentada pelo aumento da produção em meio a um espraiamento mundial do processo de industrialização, aumentando o grau de importância da ciência e tecnologia para a manutenção das economias no Primeiro Mundo, aumentando também o foço entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Os custos desse processo caíram com peso sobre o ambiente, aumentando a devastação da natureza e os índices de poluição a tal ponto de fazer soar em 1973 um alerta mundial sobre a emergência das questões ambientais.
As explicações para esse momento estão ligadas a um equilíbrio singular em que os EUA lideravam o mundo, a energia era barata, e as inovações tecnológicas tornavam o tempo cada vez mais dinâmico. A produção elevada se sustentava pelo aumento do grau de descartabilidade dos bens, de forma a permitir que países alcançassem o pleno emprego, em uma harmonia praticamente teleológica, desencadeando um estado de bem-estar social com a tónica de conciliação de classes. Era um capitalismo reformado praticamente irreconhecível, que começou a demonstrar desgaste já em 1968.

QUESTÃO IV
SADER, Emir. A crise hegemônica na América Latina; O futuro da América Latina. In: SADER, Emir. A nova toupeira: os caminhos da esquerda latino-americana. São Paulo : Boitempo, 2009, p.57-68,167-178.
KATZ, Claudio. Cenário latino-americano: economia e classes. In: KATZ, Claudio. Neoliberalismo, neodesenvolvimentismo, socialismo. 1° ed. São Paulo : Expressão Popular, 2016, p.19-35.

A América Latina participou dos “Era da Catástrofe” e dos “Anos Dourados” de forma um tanto quanto diferente por se localizar no Terceiro Mundo. É sobre esse fato do o sociólogo Emir Sader se debruça. Com a “Grande Depressão” inúmeros governos caíram, e no caso latino: caíram mais para a esquerda. A região de passado colonial não tinha tido até então um pontapé para o crescimento autônomo e todas as tentativas anteriores a 1930 foram brecadas. A novidade pós-Crise de 29 é que os estados nacionais tomam as rédeas da industrialização, aliadas (mesmo que de forma conflitiva) as burguesias, privilegiando a indústria de base no primeiro momento com a inserção da indústria de bens de consumo a partir de 1950. Esse movimento fez parte da politica de substituição de importações, marca do desenvolvimentismo nacional progressista. Esse período desagua em ditaduras sangrentas por toda a América Latina, que passaram a preparar os países para a implantação do neoliberalismo, já em operação ampla em 1990. Os resultados sobre a relação capital-trabalho foram uma seria de vitorias do capital: passou-se a buscar estabilidade monetária, mercantilizou-se a vida, reduziram-se impostos progressivos e flexibilizou-se leis trabalhistas.
O êxito neoliberal se expressava em índices sociais decadentes, mas não cumpriu sua principal promessa: a retomada do crescimento. A sensação de riqueza propiciada pela injeção de capital estrangeiro não durou muito e a resposta popular veio nas urnas, com a eleição de políticos da esquerda moderada que buscavam romper de alguma forma com a estrutura neoliberal. O fenômeno inaugurado nos anos 2000 ficou conhecido como “Onda Rosa”.
Para o argentino Claudio Katz, o período do “pós-neoliberalismo” iniciado com a Onda Rosa teve pontos positivos e negativos. Do ponto de vista geopolítico, a Onda Rosa trouxe maior integração regional; já do ponto de vista geoeconômico, a flexibilização do neoliberalismo não foi suficiente para mudar o modo de produção e, no extremo, pode ter servido até mesmo para aumentar a dependência latina, por exemplo, com o papel agroexportador (com o plantio de soja e a mineração) que muitos países passaram a desempenhar, intensificando uma desindustrialização iniciada em 1980.
Enquanto milhares de pessoas migravam do campo para a cidade gerando problemas com abastecimento e elevação do custo de vida, as mineradoras poluíam cada vez mais. Os jovens migram para outros países afim de conseguir mais recursos para as famílias, aumentando o fluxo de remessas para os países latinos, enquanto o turismo reavivou velhos preconceitos.
O que sustentou o modelo neoliberal foi o boom das comodities, que permitiu um relaxamento do conflito capital-trabalho pelo investimento em programas sociais. Mas, com todas as questões citadas acima, o aspecto positivo da integração já caiu por terra.

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