segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

O ÍNDIO E O SERTANEJO NA INTERPRETAÇÃO DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO DO INTERIOR DE GOIÁS

O ÍNDIO E O SERTANEJO NA INTERPRETAÇÃO DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO DO INTERIOR DE GOIÁS
FRANCISCO OCTÁVIO B. DE SOUSA*

RESUMO
O nacionalismo brasileiro buscou por muito tempo tipos ideais no passado brasileiro, mitificando, por exemplo, o “bom selvagem” e apagando outras expressões das diferentes matrizes culturais brasileiras. Esse apagamento se deu de inúmeras formas, entre elas: a criação de figuras como os sertanejos. A academia buscou, nos últimos anos, atender a agenda das identidades, designando o real papel (de protagonismo) de negros e índios na história brasileira. Mas será que essa busca tem obtido frutos? Esse trabalho, por intermédio de analise bibliográfica e entrevistas com alunos de ensino médio, buscou verificar o alcance dessa nova imagem do índio e do sertanejo.

PALAVRAS-CHAVE: matrizes culturais brasileiras; apagamento; sertanejo; índio.

INTRODUÇÃO
“[...] Os Indios, que tem commum com os Africanos o serem selvagens e indomitos, regem-se todos pelos mesmos instinctos, paramente animaes, e por nenhuns outros. Vão lá pregar-lhes as excellencias do trabalho, vão lá dizer-lhes que Deus poz o trabalho como sentinella á virtude, que isso é o mesmo que bradar no deserto ou falar ás paredes, ou menos ainda, porque, segundo dizem, as paredes tem ouvidos......[...]” (VARNHAGEN & LISBOA, 1867, p. 12).

O trecho acima reflete o pensamento de Francisco Adolfo de Varnhagen, autor da "Historia Geral do Brazil". Por muito tempo as histórias do Brasil tentaram apagar as imagens tanto dos indígenas quanto dos negros. O índio era visto como extinto e o negro como simples vítima do passado escravista, retirando desses sujeitos a sua autonomia histórica.  Essa leitura, compartilhada por muitos, passou a ser objeto de crítica nos anos 80, a partir da agenda das identidades, provocando inquietude nas ciências humanas. O próprio poder legislativo tentou responder essas questões com leis que obrigam o ensino de África e questões indígenas no ensino básico. A universidade tentou e tenta até hoje responder essa inquietude, dentro dos seus limites (ABREU & MATTOS, 2008).
Não foi o aparecimento de novas fontes que revolucionou a história indígena, mas sim novas perguntas. Por que os chamamos de “índios”? O próprio termo “índio” foi uma tentativa de apagar a história de inúmeros povos que habitavam o território da colônia portuguesa, não diferenciando as mais diferentes nações nativas. Outras categorias, como a de “sertanejo”, surgiram nas regiões ao oeste da costa, englobando indivíduos oriundos da junção entre bandeirantes e povos originais e ocultando o lado indígena da questão.
Obras como “Os sertanejos que eu conheci”, apesar de afirmar que sertanejos tem como antepassado os indígenas e que as técnicas transmitidas por eles foram essenciais para a vida no sertão, ainda colocam os nativos em um grau menor de importância e até mesmo de desenvolvimento cognitivo, relacionado a valorização do trabalho braçal e ao culto católico (AUDRIM, 1963).
O reflexo desse apagamento gerado pela sobreposição do sertanejo sobre o indígena pode implicar em problemas para a conexão entre sociedade e academia, principalmente no momento em que a agenda das identidades tem um peso tão relevante. Posto isso, essa pesquisa buscou no ensino médio as imagens construídas sobre índios e sertanejos.
A escolha do ensino médio como objeto de pesquisa parte do artigo III da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96), em que se afirma ser finalidade do ensino médio “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”, algo que só pode ser obtido através do conhecimento acerca dos processos históricos de formação da sociedade contemporânea.

REVISÃO DE LITERATURA
A imagem do índio, ao longo da história brasileira, se mostrou intimamente ligada ao nacionalismo, quando este se volta para as populações originais afim de resgatar um passado idílico, em que haveria existido um “índio ideal”, representante puro da brasilidade. Em contrapartida, o “índio real” acabou representando um grave problema para essas interpretações nacionalistas, originando “o ‘problema do índio’ [...] sob a ideia moderna de uma nação étnica e culturalmente homogênea” (MATTOS, 2011).
Sendo assim, essa imagem do índio localizava-se sempre entre dois extremos, na maior parte das vezes, um ideal e um que precisava ser combatido: Tupi-Tapuia durante a colonização, manso-bravo durante os séculos XVIII e XIX e resistente-aculturado do século XX, com repercussão até a atualidade, principalmente no discurso leigo. Hoje, como já citado anteriormente, a discussão acadêmica circunda a agenda das identidades. Todavia, o discurso acadêmico encontra dificuldades em alcançar um público mais amplo, mantendo em muitos casos o debate leigo desatualizado (MATTOS, 2011).
Darcy Ribeiro é sintomático em demonstrar esse “debate desatualizado”, ao mesmo tempo que reconhece alguma autonomia nos povos originais acrescenta a eles algum grau de aculturação. De acordo com o autor, em “O Brasil como problema”:
“A maioria dos povos indígenas se acha integrada na sociedade nacional que os envolve e submetida ao seu sistema de dominação política, que não os incorpora à brasilidade, nem os assimila à cultura e à etnia brasileiras. [...] A grande novidade do estudo que fiz na década de 1950 para a Unesco foi mostrar que não há nenhuma assimilação indígena. Esperava-se de mim que mostrasse que as relações dos índios com os não índios no Brasil constituíam um padrão de democracia racial. Tal se supunha que ocorresse, também, com os negros. Nossa pesquisa mostrou que, em nenhum lugar, nenhuma comunidade indígena se converteu, jamais, numa comunidade brasileira. Cada grupo indígena permaneceu com sua identificação étnica, por mais aculturado que chegasse a ser” (RIBEIRO, 2015).

Esse trecho traz dois eixos de pensamento que coexistiram: a aculturação e a negação dela. De qualquer forma, até hoje essa “possibilidade de deixar de ser índio” ainda não foi de toda abandonada, e é reforçada por discursos, inclusive políticos, que negam a resistência dos povos originais.
A imagem do sertanejo, no caso goiano, também se encontra entre polos: um polo negativo de violência e fundamentalismo religioso, apresentado por Leolinda Daltro; e outro positivo de resistência e astúcia, apresentado por Frei Audrim. Talvez as obras mais marcantes na definição do sertanejo tenham sido “O sertanejo” de José de Alencar e “Os Sertões” de Euclides da Cunha (DALTRO, 1920; AUDRIM, 1963).
Na antropologia, Darcy Ribeiro ilustra o sertanejo alvo desse trabalho. Algo entre o “Brasil Sertanejo” e o “Brasil Caipira” do livro “O povo brasileiro”. O sertanejo que nos ocupa não é aquele sujeito assolado pela seca, muito pelo contrário: está na beira dos rios Araguaia e Tocantins, mas conserva a mentalidade coronelística e algo da rusticidade (RIBEIRO, 1995).
No século XX já não é apenas branco, mas uma mistura entre os diferentes povos que ocuparam a região, em concordância com Frei Audrim, que tem os sertanejos como uma mistura entre negros, índios e brancos, conservando muitos aspectos dos indígenas por manterem contato frequente. Todavia, o título “sertanejo” acaba por afastar a matriz indígena que possibilitou a sobrevivência no “inferno verde” (AUDRIM, 1963).
Há quem reivindique a bandeira sertaneja como pauta regional e traço forte da cultura local. As composições musicais por vezes reclamam o passado sertanejo em tom saudosista, como é nítido, por exemplo, em:
Vivendo aqui no mato (Trio Parada Dura, 2017): Não troco seu despertador; Pelo cantar do galo; Não troco seu carro bonito; Pelo meu cavalo; Não troco seu ar poluído; Pelo pó da estrada; Aqui não tem trânsito; Só tem boiada; Nossa céu é limpo; E a noite, enluarada; Aqui, o nosso alimento; É a gente que faz; Plantamos de tudo pro gasto; E um pouco mais.

A partir das colocações acima, buscou-se conhecer qual a imagem tanto do indígena como do sertanejo que estão sendo construídas hoje, por jovens que cursam o ensino médio e provavelmente ocuparão as cadeiras da academia nos próximos anos.

METODOLOGIA
Foram realizadas entrevistas presenciais com alunos de ensino médio público no dia 18 de outubro de 2019. As entrevistas ocorreram em grupo, tendo dois momentos distintos: o primeiro na parte da manhã com um grupo de sete alunos e o entrevistador e o segundo, no período vespertino, contando com seis alunos e o entrevistador. A participação foi voluntária e se deu de forma espontânea.
Em uma sala de aula ampla, bem ventilada, os participantes se organizaram em meia lua, circundado o aparelho gravador de voz. As explanações não seguiram uma ordem pré-definida, ao se sentir confortável qualquer um pôde falar, praticamente sem interrupções.
Foram feitas duas perguntas-chave (que imagem se tem sobre índios; que imagem se tem sobre sertanejos) e a partir delas constituiu-se uma longa conversa de aproximadamente 180 minutos, arquivada em áudio. A pedido dos entrevistados os nomes, idades e a transcrição completa das gravações não foram disponibilizadas.
Os áudios obtidos da gravação das entrevistas foram analisados a luz da historiografia contemporânea, com autores como João Pacheco de Oliveira e Diogo de Carvalho Cabral, e buscou-se identificar traços de apagamento nos discursos dos alunos. 

RESULTADOS & DISCUSSÃO
Se na parte inicial da entrevista a predominância foi de estereótipos a muito construídos, como:
“Pessoas peladas [...] que pintam o corpo [...] gente que vive na floresta [...] descobrimento [...] é a imagem cultural, passada sobre o índio pra gente, desde pequeno. Um estereotipo que se mantem até hoje. Mas isso é uma observação que leva em conta a nossa cultura, porque a gente se veste e quando alguém não está vestido isso nos incomoda.”

Do meio para o fim os entrevistados mostraram uma visão muito atual da questão indígena, com um domínio da agenda das identidades muito bem demarcado:
“Uma das principais culturas nativas do nosso país e um pouco subestimada no nosso século. [...]História indígena não é falada, não é ensinada, não é valorizada. Devia ser.”

Essa visão fica ainda mais clara quando os alunos negam, mesmo que indiretamente, o conceito de aculturação, que dominou o discurso público sobre os indígenas por muito tempo. Ao perguntar se é possível deixar de ser índio a resposta unanime foi não, seguida de justificativas como:
“É como o povo judeu, sabe? Não é porque não estão em Israel que não são judeus.”

“Mesmo usando roupa ou celular continuam sendo índios. Estão evoluindo. [...]Eles ressignificam as coisas para a cultura deles, a cultura muda como a nossa. Cada um tem suas particularidades.”

As falas acima se chocam frontalmente com o discurso de Darcy Ribeiro acerca da aculturação. Dentro do assunto de história indígena, seguiram muito do que João Pacheco Oliveira propõe sobre um processo não de pura submissão, mas de desenvolvimento conjunto e aprendizado mutuo entre brancos e índios:
[Quanto ao processo de catequização] apaga um pouco da cultura deles, mas é uma troca: os índios pegavam um pouco dos europeus e os europeus, um pouco dos índios.”

“Eu coloco, em grau de complexidade, tanto europeus quanto índios no mesmo patamar. Os índios desenvolveram leis, hierarquias, línguas, lutavam em guerras. Coisas que, mesmo diferente dos europeus, tem um grau de complexidade igual.”

Problematizaram até mesmo a questão da existência (ou não) de “mata virgem”, alvo de pesquisa de Diogo Cabral, no texto “O ‘mato’”. Em síntese, como se pode chamar de “mata virgem” algo que vem sendo cultivado e selecionado a milhares de anos? Essa suposta “virgindade” da mata está muito mais ligada a um pensamento europeu de que a civilização se afirmava pelo domínio sobre a natureza que a qualquer aspecto biológico, de natureza rural. A floresta de pé era sinônimo de baixo desenvolvimento, uma interpretação por demais preconceituosa, todavia, muito ligada a uma cosmologia europeia fortalecida com a descoberta do “Novo Mundo” e reforçada com as revoluções industriais. Os comentários seguiram a linha de pensamento desse autor e os alunos saíram em defesa da Amazônia, posto que a entrevista foi realizada no período em que os incêndios na floresta pululavam na mídia convencional:
“Se [mata virgem] significar que nunca foi tocado então não. Os índios plantavam, cuidavam, conheciam pra viver. Como a Amazônia, tem muita coisa que os índios cultivaram, que são benéficas, que a gente só desmata e nem conhece.”

“Tem a questão de inferioridade também, não é? Relacionada com construir coisas, ter dinheiro, lucro, alterar o meio ambiente, derrubar a floresta. Eles tratavam os índios como inferiores porque eles viviam de modo selvagem, na floresta [...]as vezes parecem atrasados porque a gente uniformizou o mundo, o capitalismo uniformizou o mundo, e a vida dos índios não era voltada para isso de gerar capital.”

O sertanejo, ao contrário do que era esperado, é muito pouco conhecido. Não houve referência a qualquer aprendizado com os povos originais. O pouco que foi debatido circundou a imagem euclidiana de miséria camponesa:
“Quando se fala de sertão eu penso no nordeste. [...]O Euclides da Cunha escreve sobre, não é? Do povo pobre, magro, faminto.”

A parte final da conversa se voltou para a discussão de preconceito e políticas públicas contemporâneas, como a demarcação de terras, fazendo críticas ao atual presidente (Jair Messias Bolsonaro):
“As pessoas são muito preconceituosas. Tipo demarcação de terras, é um problema, gera conflito. [...] Olha esse presidente que está aí agora: quer explorar o que não é dele e tirar o pouco que os índios tem. É preconceito, falta de valorização.”

A falta de reconhecimento da matriz cultural indígena brasileira se mostrou um sério problema para os entrevistados, o que fica claro em falas como:
“Até as línguas, tem muitas línguas de matriz indígena no Brasil e a gente não conhece, não é reconhecido por lei.”

Nos primeiros minutos de conversa os entrevistados demonstravam certo desconforto, o que fazia com que as intervenções do entrevistador fossem mais frequentes. O desconforto não durou muito, com exceção à uma participante que se retirou. Os demais participantes, principalmente com a imagem indígena sendo debatida, expuseram diferentes pontos de vista, todavia a premissa de que existiria um apagamento da imagem dos povos originais pela figura do sertanejo estava completamente equivocada. A imagem do sertanejo que os participantes apontaram foi para o lado negativo da imagem euclidiana: “povo pobre, magro e faminto”, sem conexão direta com os índios.
Já quanto a imagem do índio, os participantes contestaram o estereotipo da nudez e da selvageria no momento em que foi apresentado. Flertaram indiretamente com a “fricção interétnica” de João Pacheco de Oliveira, observando a realidade indígena não como uma totalidade fechada, mas como uma relação complexa entre os grupos indígenas e a sua integração com a sociedade brasileira. Um contraponto a aculturação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ponto de partida da pesquisa se mostrou errado, o que não é algo negativo. Muito pelo contrário, prova que há em parte da juventude um interesse e algum domínio dos assuntos de debate recente na academia. Ainda existem pontos que precisam ser trabalhados, como a imagem do sertanejo para além da miséria, porem a explanação de assuntos tão atuais demonstra não só um interesse genuíno, mas também que o “desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”, objetivado pela LDB 9394/96, vem sendo alcançado e representa uma fagulha de esperança em uma sociedade flagelada pelo obscurantismo e pelo preconceito.

REFERÊNCIAS
ABREU, Martha & MATTOS, Hebe. Em torno das “Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana”: uma conversa com historiadores. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 21, nº 41, janeiro-junho/2008, p. 5-20.

AUDRIM, Frei José M.. Os Sertanejos que eu conheci. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1963.

CABRAL, Diogo de Carvalho. O “mato”: a mestiçagem e a construção da alteridade florestal. IN.: ________. Na presença da floresta. Mata Atlântica e história colonial. Rio de Janeiro: Garamond, 2014, p. 61-103.

DALTRO, Leolinda. Da catequese dos índios no Brasil. 1920.

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996.

MATTOS, Izabel Missagia de. O indigenismo na transição para a república: fundamentos do SPILTN. In: Memória do SPI: textos, imagens e documentos sobre o Serviço de Proteção aos Índios (1910-1967).  Museu do Índio: Funai, 2011.

OLIVEIRA, João Pacheco de. Os indígenas na fundação da colônia: uma abordagem crítica. IN.: FRAGOSO, João & GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). O Brasil colonial. Vol. 1. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015, p. 167-228.

OLIVEIRA, João Pacheco de. O nascimento do Brasil: revisão de um paradigma historiográfico. IN.: ________. O nascimento do Brasil e outros ensaios: “pacificação”, regime tutelar e formação de alteridades. Rio de Janeiro: Contracapa, 2016, p. 44-74.

RIBEIRO, Darcy. O Brasil como problema. São Paulo, editora Global, 2ª edição, 2015 (1ª edição de 1995), páginas 91-93.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. Curitiba: Companhia das Letras, 1995.

VARNHAGEN, Francisco Adolfo de; LISBOA, João Francisco. Os Indios bravos e o Sr. Lisboa, Timon 3º. pelo autor da "Historia Geral do Brazil" (F. A. de V.) Em parte gora de novo reimpresa. 1867. Disponível em: <http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_obrasraras/or1466183/or1466183.pdf>. Acesso em: 12 out. 2019.




*Discente de Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (UnB). Matrícula: 190045809.

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