Relatório
sobre a visita ao Arquivo Histórico Estadual de Goiás
Da visita
No dia 26 de setembro de 2019, fora realizada uma
visita ao Arquivo Histórico Estadual de Goiás pelo discente Francisco Octávio
B. de Sousa. A visita visou encontrar informações sobre os povos indígenas
durante a Primeira República (1889-1930) para construir uma interpretação da
interação desses povos com a sociedade branca detentora do poder político e
econômico no período. Foram observados um total de 18 documentos, entre eles:
documentos oficiais, cadernos de catequese, ofícios eclesiásticos, e correios oficiais
(elencados em anexo).
Do funcionamento do arquivo
As fontes disponíveis são variadas organizadas em
caixas enumeradas, elencadas em listas. As caixas contem diferentes pastas a
cerca de temas diversos. O visitante solicita somente uma caixa por vez.
Da escolha dos documentos
Antes da Primeira República a expansão colonial em
Goiás teve diversas vertentes: leigas, eclesiásticas, militares. Os principais
conflitos se davam da região do rio Araguaia e do rio Tocantins, principal via
do estado e habitada por diferentes grupos indígenas, que representavam um
problema para o poder administrativo branco. A resposta vinha pelos
aldeamentos, pelos presídios e por bandeiras. Nesse aspecto, buscou-se
documentos relacionados a esses conflitos. Com a intensificação da colonização
surge também o problema da posse das terras, agregando mais um objeto a ser
observado nas explorações. As discussões sobre símbolos do estado também
entraram em pauta e não era possível ignorar a questão indígena que já havia
nomeado o estado. Iniciam-se também, já no século XX, as expedições
sanitárias/higienistas. Os Correios Oficiais faziam um resumo das principais
notícias para a sociedade branca letrada da época, tornando-se também uma
possível fonte de informações sobre o assunto pesquisado.
Das informações relevantes
Pela pesquisa realizada é possível afirmar que os conflitos
continuavam por toda a Primeira República, aparecendo em documentos de
diferentes anos, e a violência era frequentemente empregada, apesar de proibida
por lei. Mesmo com um caso em que índios buscaram uma resolução dos problemas
por meio de vias legais, indo até a Cidade de Goiás, então capital, a visão da
sociedade branca era de que os nativos não eram diferentes dos animais, o que
impossibilitava a discussão.
Outro aspecto relevante pelo número de vezes em que
aparece nos documentos é a questão do financiamento da catequese que,
aparentemente, era negligenciado posto que as indicações para a administração
da catequese vinham de fora, muitas expedições da Igreja eram frustradas visto
que os habitantes temiam os indígenas, levando os missionários a locais em que
não encontrariam ninguém. Outra reclamação era a falta de autonomia dos
missionários, que se viam muitas vezes sem pagamento ou abandonados em regiões
isoladas.
Tudo isso fez com que houvessem novas propostas para o
Serviço de Catequese. Uma reconhecia a falha do serviço aplicado até então,
propondo um novo orçamento e um maior compromisso do estado com o órgão de
catequização, afirmando que esse era o único método eficaz de civilizar os
nativos e o poder estatal aparentemente ignorava, fechando entidades como o
Colégio Izabel, instituição de domínio da Igreja, com financiamento do Estado,
que recebia crianças indígenas para educa-las na cultura dos brancos,
ensinando-lhes costumes católicos e uma profissão para dar continuidade ao
projeto colonial do estado.
Outra proposta que chamou atenção foi a de uma união
entre os Serviços de Catequese de três estados (Goiás, Mato Grosso e Pará),
para que os missionários não ficassem mais isolados em aldeias distantes e para
partilhar experiências de “sucesso” com a catequização. Não se sabe se essa
integração realmente vigorou. Todavia com o passar do tempo os ofícios acerca
da catequese diminuíram, o que pode ser resultado de variados fatores: (1) o
crescimento de um pensamento positivista anti-clerical; (2) uma estabilidade do
serviço de catequese; (3) a ausência de documentos perdidos/deteriorados pelo
tempo.
Outro assunto de relativa importância é a questão da
terra. Na premissa federalista, o governo estadual passou a ser dono das terras
resolutas e públicas, o que facilitaria a demarcação de terras para os nativos,
posto que, teoricamente, o governo estadual teria maior contato com os
indígenas locais. Todavia, a Primeira República foi marcada pelos grandes
fazendeiros dominando os poderes legais, e era com a posse de terras que esses
fazendeiros afirmavam o seu poder, logo, a questão indígena perde espaço, o que
fica evidenciado nos documentos posto que não há nada referente a demarcação de
terras indígenas e os aldeamentos pré-existentes eram movidos a mando dos governadores.
Por outro, lado era comum a doação de terras a membros do exército, terceiros e
imigrantes (principalmente europeus). As leis do período também dificultavam a
expansão das terras indígenas, garantindo preferencia dos poceiros em assuntos
relativos à terra.
Por fim, é valido levantar a questão dos símbolos do
estado que aparecem em um ofício, a discussão não é muito clara (o documento
estava deteriorado e incompleto), todavia o estado que recebeu o nome de Goiás
pela primeira população indígena encontrada no território (os goiazes),
teve o nativo negligenciado no seu brasão.
Das decepções
Em várias caixas cujo tema eram os nativos se
encontravam ofícios de agradecimento ou comunicado de falecimento de lideranças
políticas, documentos que em nada tratavam do tema pesquisado, como no caso da
caixa 622, cuja pasta intitulava-se SPI, e a caixa 689, tratando da Diocese de
Goiás. Boa parte dos documentos de Assunto Militar tratavam de pedido de
recurso para o poder central, assim como os documentos eclesiásticos, navegação
do Rio Araguaia e ofícios sobre a catequese.
Anexos
Lista dos objetos analisados:
Caixa
|
Ano
|
Objeto
|
993
|
1857-61
|
Documentos de
Catequese
|
993
|
1885-90
|
Cadernos de
Catequese
|
295
|
1880
|
Colégio Isabel
|
388
|
1888
|
Fiscalização das
Obras Civis e da Navegação Fluvial
|
390
|
1889
|
Higiene Pública
|
391
|
1889
|
Ministério dos
Negócios da Agricultura
|
399
|
1890
|
Assunto Militar
|
399
|
1890
|
Empresa Jornal
Goiaz
|
401
|
1890
|
Inspetoria de
Higiene Pública
|
403
|
1890
|
Serviço de
Catequese
|
411
|
1891
|
Assunto Militar
|
411
|
1891
|
Assuntos
Eclesiásticos
|
412
|
1891
|
Símbolos do estado
|
420
|
1982
|
Terras públicas
|
476
|
1896
|
Catequese indígena
|
622
|
1913
|
SPI
|
689
|
1921
|
Diocese de Goiás
|
39
|
1889-90
|
Correios Oficiais
|
41
|
1899
|
Correios Oficiais
|
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