segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Relatório sobre a visita ao Arquivo Histórico Estadual de Goiás



Relatório sobre a visita ao Arquivo Histórico Estadual de Goiás
 Francisco Octávio Bittencourt de Sousa
Da visita
No dia 26 de setembro de 2019, fora realizada uma visita ao Arquivo Histórico Estadual de Goiás pelo discente Francisco Octávio B. de Sousa. A visita visou encontrar informações sobre os povos indígenas durante a Primeira República (1889-1930) para construir uma interpretação da interação desses povos com a sociedade branca detentora do poder político e econômico no período. Foram observados um total de 18 documentos, entre eles: documentos oficiais, cadernos de catequese, ofícios eclesiásticos, e correios oficiais (elencados em anexo).

Do funcionamento do arquivo
As fontes disponíveis são variadas organizadas em caixas enumeradas, elencadas em listas. As caixas contem diferentes pastas a cerca de temas diversos. O visitante solicita somente uma caixa por vez.

Da escolha dos documentos
Antes da Primeira República a expansão colonial em Goiás teve diversas vertentes: leigas, eclesiásticas, militares. Os principais conflitos se davam da região do rio Araguaia e do rio Tocantins, principal via do estado e habitada por diferentes grupos indígenas, que representavam um problema para o poder administrativo branco. A resposta vinha pelos aldeamentos, pelos presídios e por bandeiras. Nesse aspecto, buscou-se documentos relacionados a esses conflitos. Com a intensificação da colonização surge também o problema da posse das terras, agregando mais um objeto a ser observado nas explorações. As discussões sobre símbolos do estado também entraram em pauta e não era possível ignorar a questão indígena que já havia nomeado o estado. Iniciam-se também, já no século XX, as expedições sanitárias/higienistas. Os Correios Oficiais faziam um resumo das principais notícias para a sociedade branca letrada da época, tornando-se também uma possível fonte de informações sobre o assunto pesquisado.

Das informações relevantes
Pela pesquisa realizada é possível afirmar que os conflitos continuavam por toda a Primeira República, aparecendo em documentos de diferentes anos, e a violência era frequentemente empregada, apesar de proibida por lei. Mesmo com um caso em que índios buscaram uma resolução dos problemas por meio de vias legais, indo até a Cidade de Goiás, então capital, a visão da sociedade branca era de que os nativos não eram diferentes dos animais, o que impossibilitava a discussão.
Outro aspecto relevante pelo número de vezes em que aparece nos documentos é a questão do financiamento da catequese que, aparentemente, era negligenciado posto que as indicações para a administração da catequese vinham de fora, muitas expedições da Igreja eram frustradas visto que os habitantes temiam os indígenas, levando os missionários a locais em que não encontrariam ninguém. Outra reclamação era a falta de autonomia dos missionários, que se viam muitas vezes sem pagamento ou abandonados em regiões isoladas.
Tudo isso fez com que houvessem novas propostas para o Serviço de Catequese. Uma reconhecia a falha do serviço aplicado até então, propondo um novo orçamento e um maior compromisso do estado com o órgão de catequização, afirmando que esse era o único método eficaz de civilizar os nativos e o poder estatal aparentemente ignorava, fechando entidades como o Colégio Izabel, instituição de domínio da Igreja, com financiamento do Estado, que recebia crianças indígenas para educa-las na cultura dos brancos, ensinando-lhes costumes católicos e uma profissão para dar continuidade ao projeto colonial do estado.
Outra proposta que chamou atenção foi a de uma união entre os Serviços de Catequese de três estados (Goiás, Mato Grosso e Pará), para que os missionários não ficassem mais isolados em aldeias distantes e para partilhar experiências de “sucesso” com a catequização. Não se sabe se essa integração realmente vigorou. Todavia com o passar do tempo os ofícios acerca da catequese diminuíram, o que pode ser resultado de variados fatores: (1) o crescimento de um pensamento positivista anti-clerical; (2) uma estabilidade do serviço de catequese; (3) a ausência de documentos perdidos/deteriorados pelo tempo.
Outro assunto de relativa importância é a questão da terra. Na premissa federalista, o governo estadual passou a ser dono das terras resolutas e públicas, o que facilitaria a demarcação de terras para os nativos, posto que, teoricamente, o governo estadual teria maior contato com os indígenas locais. Todavia, a Primeira República foi marcada pelos grandes fazendeiros dominando os poderes legais, e era com a posse de terras que esses fazendeiros afirmavam o seu poder, logo, a questão indígena perde espaço, o que fica evidenciado nos documentos posto que não há nada referente a demarcação de terras indígenas e os aldeamentos pré-existentes eram movidos a mando dos governadores. Por outro, lado era comum a doação de terras a membros do exército, terceiros e imigrantes (principalmente europeus). As leis do período também dificultavam a expansão das terras indígenas, garantindo preferencia dos poceiros em assuntos relativos à terra.
Por fim, é valido levantar a questão dos símbolos do estado que aparecem em um ofício, a discussão não é muito clara (o documento estava deteriorado e incompleto), todavia o estado que recebeu o nome de Goiás pela primeira população indígena encontrada no território (os goiazes), teve o nativo negligenciado no seu brasão.

Das decepções
Em várias caixas cujo tema eram os nativos se encontravam ofícios de agradecimento ou comunicado de falecimento de lideranças políticas, documentos que em nada tratavam do tema pesquisado, como no caso da caixa 622, cuja pasta intitulava-se SPI, e a caixa 689, tratando da Diocese de Goiás. Boa parte dos documentos de Assunto Militar tratavam de pedido de recurso para o poder central, assim como os documentos eclesiásticos, navegação do Rio Araguaia e ofícios sobre a catequese.

Anexos
Lista dos objetos analisados:
Caixa
Ano
Objeto
993
1857-61
Documentos de Catequese
993
1885-90
Cadernos de Catequese
295
1880
Colégio Isabel
388
1888
Fiscalização das Obras Civis e da Navegação Fluvial
390
1889
Higiene Pública
391
1889
Ministério dos Negócios da Agricultura
399
1890
Assunto Militar
399
1890
Empresa Jornal Goiaz
401
1890
Inspetoria de Higiene Pública
403
1890
Serviço de Catequese
411
1891
Assunto Militar
411
1891
Assuntos Eclesiásticos
412
1891
Símbolos do estado
420
1982
Terras públicas
476
1896
Catequese indígena
622
1913
SPI
689
1921
Diocese de Goiás
39
1889-90
Correios Oficiais
41
1899
Correios Oficiais

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