terça-feira, 25 de junho de 2019

MIGUEL, Luis Felipe. “Mídia e opinião pública”


MIGUEL, Luis Felipe. “Mídia e opinião pública”. In: AVELAR, Lúcia; CINTRA, Antônio Otávio (orgs.). Sistema Político Brasileiro: uma introdução. UNESP, 2007.

A ideia central de L. F. Miguel é de que a maior parte dos filtros pelos quais determinamos nossa maneira ver e agir no mundo dependem a mídia. Todavia, apesar de afirmar que sim, os meios de comunicação de massa não têm compromisso nenhum com a verdade de tal forma que não transmitem apenas fatos, mas os preenche com juízos de valor, o que configura um ponto de fragilidade numa sociedade dita democrata [MIGUEL, 2007, p.331-334].
Primeiramente: de que forma a mídia influencia na nossa maneira de nos comportar no mundo? Ela, enquanto meio de comunicação de massas, possui o monopólio da fala, ou seja, transmite uma informação, que pode ou não ser verdadeira, para um número muito elevado de indivíduos. Boa parte desses indivíduos são ingênuos quanto a pesquisa de veracidade da informação e formulam sua visão de mundo a partir do que é (e do que deixa de ser) exposto pela mídia. É dessa forma que
“[...]a construção das representações do mundo social passa a sofrer a influencia esmagadora de uns poucos veículos. Assim a mídia pode muitas vezes reduzir o espaço para o debate de ideias, ao em vez de ampliá-lo” [MIGUEL, 2007, p.334]
A pretensão de imparcialidade é deixada de lado durante o trabalho jornalístico: no período da hierarquização das notícias o responsável exprime, mesmo que indiretamente, sua opinião. O que é importante para a mídia não é necessariamente importante para o público. Outro ponto de contradição com o critério da imparcialidade é a linguagem utilizada: o modo de dizer algo pode torná-lo mais (ou menos) atrativo, pode garantir-lhe mais (ou menos) importância [MIGUEL, 2007, p.334-336].
Tendo em vista os aspectos apresentados acima, cabe deduzir que a imprensa acaba sendo responsável pela formulação e pelo enquadramento da “agenda pública”, garantindo assim um papel de destaque no ambiente político. Nesse sentido, a mídia não se limita a difundir o discurso político, ela também o transforma, o que acaba por impedir o debate de ideias e falsear a percepção popular sobre pautas públicas e candidatos a cargos públicos [MIGUEL, 2007, p.409-410].
Todavia o Estado não está completamente alheio a situação descrita acima. Cabe a ele recursos que lhe permitem influenciar a mídia, mais especificamente as verbas publicitárias e a concessão de canais de rádio e televisão. Contudo essas ferramentas não são de todo o bem, pois acabam gerando um “coronelismo eletrônico”, no qual os grandes emissoras buscam apoio de políticos para manter privilégios. Ações como essa inibem iniciativas para a democratização da mídia eletrônica [MIGUEL, 2007, p.337-339].
Foi um dos textos mais difíceis de se encontrar, todavia o texto é de fácil compreensão e muito agradável. A introdução com a história do rinoceronte relembra e permeia a área de estudo da antropologia, assim como a questão das visões de mundo. Essa interdisciplinaridade é um forte atrativo pelo menos para quem escreve esse fichamento.



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