MIGUEL, Luis Felipe. “Mídia e opinião pública”. In: AVELAR,
Lúcia; CINTRA, Antônio Otávio (orgs.). Sistema Político Brasileiro: uma
introdução. UNESP, 2007.
A
ideia central de L. F. Miguel é de que a maior parte dos filtros pelos quais
determinamos nossa maneira ver e agir no mundo dependem a mídia. Todavia,
apesar de afirmar que sim, os meios de comunicação de massa não têm compromisso
nenhum com a verdade de tal forma que não transmitem apenas fatos, mas os
preenche com juízos de valor, o que configura um ponto de fragilidade numa
sociedade dita democrata [MIGUEL, 2007, p.331-334].
Primeiramente:
de que forma a mídia influencia na nossa maneira de nos comportar no mundo?
Ela, enquanto meio de comunicação de massas, possui o monopólio da fala, ou
seja, transmite uma informação, que pode ou não ser verdadeira, para um número
muito elevado de indivíduos. Boa parte desses indivíduos são ingênuos quanto a
pesquisa de veracidade da informação e formulam sua visão de mundo a partir do
que é (e do que deixa de ser) exposto pela mídia. É dessa forma que
“[...]a construção das representações do mundo social
passa a sofrer a influencia esmagadora de uns poucos veículos. Assim a mídia
pode muitas vezes reduzir o espaço para o debate de ideias, ao em vez de
ampliá-lo” [MIGUEL, 2007, p.334]
A
pretensão de imparcialidade é deixada de lado durante o trabalho jornalístico:
no período da hierarquização das notícias o responsável exprime, mesmo que
indiretamente, sua opinião. O que é importante para a mídia não é
necessariamente importante para o público. Outro ponto de contradição com o
critério da imparcialidade é a linguagem utilizada: o modo de dizer algo pode
torná-lo mais (ou menos) atrativo, pode garantir-lhe mais (ou menos) importância
[MIGUEL, 2007, p.334-336].
Tendo
em vista os aspectos apresentados acima, cabe deduzir que a imprensa acaba
sendo responsável pela formulação e pelo enquadramento da “agenda pública”,
garantindo assim um papel de destaque no ambiente político. Nesse sentido, a
mídia não se limita a difundir o discurso político, ela também o transforma, o
que acaba por impedir o debate de ideias e falsear a percepção popular sobre
pautas públicas e candidatos a cargos públicos [MIGUEL, 2007, p.409-410].
Todavia
o Estado não está completamente alheio a situação descrita acima. Cabe a ele
recursos que lhe permitem influenciar a mídia, mais especificamente as verbas
publicitárias e a concessão de canais de rádio e televisão. Contudo essas
ferramentas não são de todo o bem, pois acabam gerando um “coronelismo
eletrônico”, no qual os grandes emissoras buscam apoio de políticos para manter
privilégios. Ações como essa inibem iniciativas para a democratização da mídia
eletrônica [MIGUEL, 2007, p.337-339].
Foi
um dos textos mais difíceis de se encontrar, todavia o texto é de fácil
compreensão e muito agradável. A introdução com a história do rinoceronte
relembra e permeia a área de estudo da antropologia, assim como a questão das
visões de mundo. Essa interdisciplinaridade é um forte atrativo pelo menos para
quem escreve esse fichamento.
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