terça-feira, 24 de setembro de 2019

RESUMO: A entrevista do tipo qualitativo,JEAN POUPART


RESUMO: JEAN POUPART

POUPART, Jean. “A entrevista do tipo qualitativo: considerações epistemológicas, teóricas e metodológicas”. Em: POUPART, Jean et. al. A pesquisa qualitativa. Enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2004.

Há quem defenda que o fato de o objeto de pesquisa das ciências humanas ter a capacidade de falar é uma verdadeira vantagem sobre as ciências naturais. Por outro lado, existem pesquisadores que acreditam que a fala é a maldição com que os cientistas sociais tem que lidar. Longe de uma unanimidade, Jean Poupart pretende trazer argumentos contra e a favor das entrevistas, estratégias para um melhor desempenho do pesquisador que adotar entrevista como método e, por fim, debater sobre a questão dos vieses, a grande ameaça do entrevistador para si mesmo.
No que concerne aos argumentos, eles se dividem geralmente entre três escolas: a positivista, a construtivista e a pós-estruturalista. A escola positivista busca suas bases na metodologia das ciências naturais que se dizem neutras, objetivas e imparciais. A escola construtivista acredita na união dos saberes para a produção do conhecimento. E a pós-estruturalista, numa linha mais próxima da escola construtivista, defende a agencia do entrevistador e dos entrevistados sobre a construção de uma narrativa que é só uma entra inúmeras outras possibilidades que estão contidas numa “realidade total”.
Os pesquisadores que faze uso do método das entrevistas, normalmente, recorrem a três argumentos-chave: (1) a possibilidade de explorar em profundidade a perspectiva do entrevistado; (2) a possibilidade de conhecer e compreender os dilemas do entrevistado; e (3) o fato da entrevista ter privilegio no acesso a experiencia dos entrevistados.
Quando aos argumentos contrários a essa metodologia, são também três os principais: (1) a influencia de um saber leigo; (2) a possibilidade de falseamento das informações; e (3) os riscos de etnocentrismo por parte do pesquisador.
Conhecendo os argumentos a favor e contra esse método de pesquisa, passemos para a realização da entrevista. Antes de mais nada, entrevistar é uma arte. Eu afirmaria que até mais que arte, entrevistar é uma ciência, como a programação neurolinguística [PNL]. Obter a cooperação do entrevistado é uma tarefa árdua e no processo podem aparecer várias formas de resistência, como a falta de tempo e interesse, temor de uma violação da intimidade, sentimento de servir como cobaia, etc.
O processo para obter uma entrevista de qualidade vai depender de muita negociação, mas no que depende do entrevistador, o texto apresenta muitas dicas uteis. Talvez a principal delas seja a construção de uma empatia, é esse sentimento que acima de qualquer outra coisa propiciará ao entrevistado sentir-se à vontade com o entrevistador. Para além da empatia, são recursos uteis: (1) a autoridade/credibilidade de terceiros; (2) a escolha de momento e local mais adequado para a entrevista; (3) a camuflagem do entrevistador, adaptando-se ao meio em que realiza a pesquisa e tentando neutralizar a sua presença, evitando interromper o entrevistado, respeitando seus momentos de silêncio, tranquilizando o entrevistado quanto ao uso do depoimento. As ferramentas são várias para o mesmo objetivo básico: construir empatia para que o entrevistado se sinta à vontade.
Nesse aspecto a PNL tem muito a contribuir. Vários cientistas - e charlatões - se dedicaram a como entender e influenciar pessoas. Todavia, para a pratica cientifica devemos nos ater a parte de como entender pessoas. A PNL ensina a prestar atenção nos pequenos detalhes, entender os sentimentos pelo comportamento corporal, e acima de tudo, a conquistar empatia, a questão-chave da boa entrevista.
Quanto a questão dos vieses, são a grande armadilha desse método de pesquisa. São divididos em três tipos: (1) ligado aos dispositivos de investigação, as alterações que os dispositivos podem causar, a forma com que os dados são registrados e a influencia do local e do momento em que se realizou a pesquisa; (2) ligado a relação entrevistador-entrevistado, são referentes ao comportamento do entrevistador durante a pesquisa, as suas intervenções verbais e não verbais, e a demonstração (ou não) de interesse no pesquisado; e (3) ligado ao contexto da pesquisa, este basicamente diz respeito a possibilidade de mentir que aumenta ou diminui a depender do contexto de realização da pesquisa.
Antes de concluir, J. Poupart ainda reserva parte do texto para realizar criticas quanto a padronização e a diretividade nas entrevistas, desmistificando muitas práticas que se popularizaram entre pesquisadores no século XX e que falseavam os resultados das investigações. As críticas se encerram com a afirmativa de que a entrevista é um discurso socialmente construído, muito ligado ao contexto de realização da pesquisa.
Por fim, o autor conclui afirmando ter atendido os objetivos que propôs para a construção do texto, e retomando dois pontos que para ele são relevantes: (1) o resultado da entrevista como uma construção cooperativa entre entrevistador e entrevistado; (2) aos cuidados que os pesquisadores devem ter com o espaço aberto aos diversos pontos de vista dos atores socias e a necessidade de tomar partido do grupo pesquisado.







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