RESUMO: JEAN POUPART
POUPART, Jean. “A
entrevista do tipo qualitativo: considerações epistemológicas, teóricas e
metodológicas”. Em: POUPART, Jean et. al. A pesquisa qualitativa. Enfoques
epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2004.
Há quem defenda que o
fato de o objeto de pesquisa das ciências humanas ter a capacidade de falar é
uma verdadeira vantagem sobre as ciências naturais. Por outro lado, existem
pesquisadores que acreditam que a fala é a maldição com que os cientistas
sociais tem que lidar. Longe de uma unanimidade, Jean Poupart pretende trazer
argumentos contra e a favor das entrevistas, estratégias para um melhor
desempenho do pesquisador que adotar entrevista como método e, por fim, debater
sobre a questão dos vieses, a grande ameaça do entrevistador para si mesmo.
No que concerne aos
argumentos, eles se dividem geralmente entre três escolas: a positivista, a
construtivista e a pós-estruturalista. A escola positivista busca suas bases na
metodologia das ciências naturais que se dizem neutras, objetivas e imparciais.
A escola construtivista acredita na união dos saberes para a produção do
conhecimento. E a pós-estruturalista, numa linha mais próxima da escola
construtivista, defende a agencia do entrevistador e dos entrevistados sobre a
construção de uma narrativa que é só uma entra inúmeras outras possibilidades
que estão contidas numa “realidade total”.
Os pesquisadores que faze
uso do método das entrevistas, normalmente, recorrem a três argumentos-chave:
(1) a possibilidade de explorar em profundidade a perspectiva do entrevistado;
(2) a possibilidade de conhecer e compreender os dilemas do entrevistado; e (3)
o fato da entrevista ter privilegio no acesso a experiencia dos entrevistados.
Quando aos argumentos
contrários a essa metodologia, são também três os principais: (1) a influencia
de um saber leigo; (2) a possibilidade de falseamento das informações; e (3) os
riscos de etnocentrismo por parte do pesquisador.
Conhecendo os argumentos
a favor e contra esse método de pesquisa, passemos para a realização da
entrevista. Antes de mais nada, entrevistar é uma arte. Eu afirmaria que até
mais que arte, entrevistar é uma ciência, como a programação neurolinguística
[PNL]. Obter a cooperação do entrevistado é uma tarefa árdua e no processo
podem aparecer várias formas de resistência, como a falta de tempo e interesse,
temor de uma violação da intimidade, sentimento de servir como cobaia, etc.
O processo para obter uma
entrevista de qualidade vai depender de muita negociação, mas no que depende do
entrevistador, o texto apresenta muitas dicas uteis. Talvez a principal delas
seja a construção de uma empatia, é esse sentimento que acima de qualquer outra
coisa propiciará ao entrevistado sentir-se à vontade com o entrevistador. Para
além da empatia, são recursos uteis: (1) a autoridade/credibilidade de
terceiros; (2) a escolha de momento e local mais adequado para a entrevista;
(3) a camuflagem do entrevistador, adaptando-se ao meio em que realiza a
pesquisa e tentando neutralizar a sua presença, evitando interromper o
entrevistado, respeitando seus momentos de silêncio, tranquilizando o
entrevistado quanto ao uso do depoimento. As ferramentas são várias para o
mesmo objetivo básico: construir empatia para que o entrevistado se sinta à
vontade.
Nesse aspecto a PNL tem
muito a contribuir. Vários cientistas - e charlatões - se dedicaram a como
entender e influenciar pessoas. Todavia, para a pratica cientifica devemos nos
ater a parte de como entender pessoas. A PNL ensina a prestar atenção nos pequenos
detalhes, entender os sentimentos pelo comportamento corporal, e acima de tudo,
a conquistar empatia, a questão-chave da boa entrevista.
Quanto a questão dos
vieses, são a grande armadilha desse método de pesquisa. São divididos em três
tipos: (1) ligado aos dispositivos de investigação, as alterações que os
dispositivos podem causar, a forma com que os dados são registrados e a
influencia do local e do momento em que se realizou a pesquisa; (2) ligado a
relação entrevistador-entrevistado, são referentes ao comportamento do
entrevistador durante a pesquisa, as suas intervenções verbais e não verbais, e
a demonstração (ou não) de interesse no pesquisado; e (3) ligado ao contexto da
pesquisa, este basicamente diz respeito a possibilidade de mentir que aumenta
ou diminui a depender do contexto de realização da pesquisa.
Antes de concluir, J.
Poupart ainda reserva parte do texto para realizar criticas quanto a
padronização e a diretividade nas entrevistas, desmistificando muitas práticas
que se popularizaram entre pesquisadores no século XX e que falseavam os
resultados das investigações. As críticas se encerram com a afirmativa de que a
entrevista é um discurso socialmente construído, muito ligado ao contexto de
realização da pesquisa.
Por fim, o autor conclui
afirmando ter atendido os objetivos que propôs para a construção do texto, e
retomando dois pontos que para ele são relevantes: (1) o resultado da
entrevista como uma construção cooperativa entre entrevistador e entrevistado;
(2) aos cuidados que os pesquisadores devem ter com o espaço aberto aos
diversos pontos de vista dos atores socias e a necessidade de tomar partido do
grupo pesquisado.
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