sábado, 4 de novembro de 2023

Carta sobre GTAQ

 Carta sobre GTAQ


As comunidades quilombolas são constituídas por pessoas que compartilham uma identidade forjada ao longo de processos históricos, sociais e culturais. No entanto, foi somente após uma longa e árdua luta que esses grupos foram oficialmente reconhecidos como titulares de direitos específicos pela Constituição Federal de 1988. O Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) marcou um importante avanço ao reconhecer a propriedade das terras das comunidades quilombolas, abrindo caminho para políticas públicas estruturais.


Para atender às necessidades dessas comunidades, além da regularização fundiária, torna-se crucial a formulação e implementação de políticas públicas destinadas ao acesso aos recursos naturais, melhoria dos meios de produção, habitação, educação, saúde, valorização cultural e preservação de suas tradições. É relevante enfatizar que as comunidades quilombolas são exemplos de resiliência, organização e coexistência baseada em relações sociais e ecológicas compartilhadas.


Em 2003, dois decretos foram publicados: o Decreto nº 4886/2003, que estabeleceu a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, e o Decreto nº 4887/2003, que, em conjunto com as Instruções Normativas (IN) nº 20/05 e n° 57/09 do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e com as leis 4.132 e 4.504, estabeleceu os procedimentos para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras quilombolas. Em 2004, a Convenção 169 da OIT foi promulgada no Brasil, dando origem ao Programa Brasil Quilombola (PBQ), que consolidou a política estatal em relação às comunidades quilombolas.


Em 2006, o Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas reconheceu a contribuição dos territórios quilombolas para a conservação da biodiversidade. No ano seguinte, foi instituída a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, um instrumento jurídico importante que reconhece a busca dessas comunidades, incluindo os quilombos, por condições que garantam a preservação de sua cultura, estrutura social, práticas religiosas, conhecimentos ancestrais e bem-estar econômico. Em 2008, o Projeto "Brasil Local" elaborou os primeiros "Planos Territoriais de Etnodesenvolvimento" em 10 territórios quilombolas, e em 2013, o movimento quilombola demandou a criação da Gestão Territorial e Ambiental Quilombola, que foi instituída em 2015.


No entanto, sob o governo de Jair Bolsonaro, em 2019, a Medida Provisória 870 transferiu a responsabilidade pela regularização fundiária das terras quilombolas para o Ministério da Agricultura. O Decreto 9.667 também vinculou o INCRA a esse ministério, alterando a estrutura institucional e o direcionamento das ações de regularização.


Em agosto de 2023, após o lançamento do programa Aquilomba Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou dados inéditos e historicamente significativos provenientes do primeiro levantamento da população quilombola no Brasil. No ano de 2022, esse levantamento revelou que o número de pessoas que se identificam como quilombolas ultrapassou a marca de 1,3 milhão de indivíduos. Surpreendentemente, menos de 5% dessas pessoas vivem em territórios oficialmente demarcados.


Ou seja, apesar dos avanços normativos conquistados para melhorar a qualidade de vida e as condições de reprodução física e cultural das comunidades quilombolas, desafios persistentes incluem a regularização dos territórios, o preconceito, o racismo, a intolerância religiosa e as desigualdades sociais e econômicas. Além disso, direitos fundamentais das comunidades, como o direito ao território, acesso aos recursos naturais e a preservação de seus saberes e práticas tradicionais, estão cada vez mais ameaçados. O direito de autoidentificação e autodefinição dos territórios quilombolas tem sido contestado, assim como a natureza coletiva da propriedade.


Restrições de acesso aos recursos naturais, violência decorrente da especulação fundiária e imobiliária, desmatamento e empreendimentos incompatíveis com um modelo de desenvolvimento sustentável competem com a conservação ambiental e os direitos das populações tradicionais. Os valores, saberes e práticas também são ameaçados pela homogeneização cultural, por certos movimentos religiosos e pela persistência do preconceito, bem como pela falta de condições que garantam a qualidade de vida das comunidades.


Como resposta a esses desafios, surgiu a Gestão Territorial e Ambiental Quilombola (GTAQ). Até o momento, a GTAQ tem sido compreendida como um processo de planejamento do território que valoriza os modos de vida e o uso sustentável dos recursos naturais. Essa abordagem é baseada na premissa de que os sistemas naturais e sociais são interdependentes e devem ser considerados de maneira integrada. A organização social, cultural e econômica das comunidades quilombolas está intrinsecamente ligada aos recursos naturais, e a preservação desses recursos depende das práticas e conhecimentos tradicionais.


A GTAQ abrange seis dimensões interconectadas: (1) titulação de territórios, (2) conservação ambiental e uso sustentável de recursos, (3) valores ancestrais, cultura e práticas tradicionais, (4) educação, (5) fortalecimento institucional comunitário e (6) desenvolvimento local. A regularização fundiária é fundamental para a gestão territorial e deve ser discutida e trabalhada em parceria com as comunidades.


A gestão territorial e ambiental é construída por meio da ação coletiva no interior das comunidades, com a definição de acordos internos em assembleias ou reuniões comunitárias. Além disso, a participação das lideranças em espaços externos de articulação política contribui para o fortalecimento tanto das comunidades quanto das instituições comunitárias.


O desenvolvimento local deve assegurar a sustentabilidade nas dimensões social, cultural, econômica e ambiental das comunidades quilombolas, com ênfase no conceito de etnodesenvolvimento como guia para a tomada de decisões. A construção e acesso a políticas públicas que respeitem o desenvolvimento local definido pelas próprias comunidades são condições cruciais para garantir oportunidades que assegurem a permanência das novas gerações em seus territórios.


A proteção da biodiversidade e dos modos de vida nas comunidades quilombolas são intrinsecamente relacionadas. Os conhecimentos e experiências que englobam a proteção ambiental, o desenvolvimento local, a geração de renda e o fortalecimento da identidade e cultura quilombola devem ser reconhecidos, valorizados e apoiados, com base no protagonismo e autonomia das próprias comunidades.


A dimensão da educação desempenha um papel fundamental na promoção de concepções de gestão territorial e ambiental que valorizem a história, os modos de vida e o desenvolvimento local. A implementação da Resolução do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica (CNE/CEB) n° 8/2012, que estabelece diretrizes curriculares para a educação escolar quilombola, é um passo importante nesse sentido.


Em última análise, a gestão do território e de seus recursos, sejam eles materiais ou imateriais, está ancorada no respeito aos valores ancestrais, tradições, técnicas e culturas locais. Os conhecimentos tradicionais estão em constante evolução e adaptação, incorporando novos elementos e sendo recriados em consonância com as diferentes dinâmicas presentes dentro, fora e entre as comunidades quilombolas.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

揭示土地侵占的不公正:《Se o grileiro vem, pedra vai》的批判性分析

 揭示土地侵占的不公正:《Se o grileiro vem, pedra vai》的批判性分析


《Se o grileiro vem, pedra vai》是一本引人深思的书,讨论了巴西戈亚斯州Kalunga领地上土地侵占的问题。作者弗朗西斯科·奥克塔维奥·比坦库尔特·德·苏萨(Francisco Octávio Bittencourt de Sousa)深入探讨了这个社会问题的复杂性,并揭示了它对当地社区所造成的毁灭性后果。


该书的叙述清晰而有力地揭示了Kalunga领地土地侵占的现实情况,突出了围绕这一问题的土地争端和社会不公。作者强调非法土地占有直接影响到黑人后裔(quilombolas)的权利,引发一系列问题,使社会不平等得以延续。


该书最引人注目的方面之一是揭露了这一背景下的腐败和免罪现象。作者揭示了涉及土地登记处、公务员和其他参与者的腐败网络的存在,为土地侵占和欺诈行为提供了便利。这种免罪现象助长了问题的持续存在,并否定了传统社区的权利。


然而,即使面对这些逆境,该书也描绘了Kalunga社区为争取土地而展开的抵抗和斗争。Kalunga人被描绘为主角,展示了他们保护自己的生活方式、文化和土地权利的决心,即使面临不断的威胁。


作者还强调土地确权的重要性。缺乏适当的产权证书使传统社区在面对土地侵占者时更加脆弱。通过这种反思,该书强调了确保这些社区占据的土地具有法律保障的必要性,以保护其文化认同和权利。


该书还探讨了国家在保护传统社区权益和解决土地侵占问题中的责任。作者对国家的无为提出质疑,无论是因为无能还是因为默许,都导致不公和不平等的持续存在。


《Se o grileiro vem, pedra vai》是一本必读之作,希望了解土地侵占所导致的深刻不公和不平等的人士。该书提供了对该问题的批判性和积极参与的视角


,揭示了解决这个问题和保障受影响群体权益的迫切性。


弗朗西斯科·奥克塔维奥·比坦库尔特·德·苏萨(Francisco Octávio Bittencourt de Sousa)以其引人入胜的写作和结构严谨的叙述引领读者踏上一个意识觉醒和思考的旅程,唤起对这个困扰巴西传统社区的问题的共鸣和追求解决方案的愿望。


关于作者


弗朗西斯科·奥克塔维奥·比坦库尔特·德·苏萨(Francisco Octávio Bittencourt de Sousa)是一位巴西研究者和作家,拥有坚实的学术背景。他在巴西利亚大学(UnB)获得了人类学和社会科学学士学位,并在2022年7月以Kalunga领地土地侵占为主题完成了他的学位论文。他继续深造,目前是巴西利亚大学可持续发展研究生课程(PPGCDS)的硕士研究生。


此外,弗朗西斯科·奥克塔维奥还参与其他学术项目。他是巴西利亚大学建筑与城市规划研究生课程(PPGFAU)的科学技术社会住宅项目学生。他的研究涵盖了Kalunga和Mesquita的农地冲突、环境和人权等主题。


弗朗西斯科·奥克塔维奥还是“Se o grileiro vem, pedra vai”播客的作者之一,展示了他致力于探讨和讨论土地侵占问题的承诺。此外,他还写了同名的书籍,于2022年出版,探讨了这个问题及其对传统社区的影响。


他的工作和奉献通过奖项和荣誉得到了认可。他获得了第33届巴西人类学会议人权奖的荣誉提名,在巴西利亚大学获得了Anísio Teixeira人权奖的民主与参与类别,并在巴西利亚大学人类学本科论文奖中获得第二名。


总之,弗朗西斯科·奥克塔维奥·比坦库尔特·德·苏萨是一位致力于研究和推动人权的研究者,特别关


注农地冲突、环境和Kalunga和Mesquita领地的土地侵占问题。他坚实的学术背景和参与重要项目的投入表明了他对学术界和整个社会的贡献。

Descifrando las injusticias de la apropiación de tierras: Un análisis crítico de 'Se o grileiro vem, pedra vai'

 Descifrando las injusticias de la apropiación de tierras: Un análisis crítico de 'Se o grileiro vem, pedra vai'


"Se o grileiro vem, pedra vai" es un libro impactante que aborda el tema de la apropiación de tierras en el territorio Kalunga, en Goiás, Brasil. Escrito por Francisco Octávio Bittencourt de Sousa, la obra se sumerge profundamente en las complejidades de este problema social y revela sus consecuencias devastadoras para la comunidad local.


La narrativa del libro expone de forma clara y contundente la realidad de la apropiación de tierras en el territorio Kalunga, destacando el conflicto de tierras y la injusticia social que rodean esta cuestión. El autor subraya cómo la apropiación ilegal de tierras afecta directamente los derechos de los quilombolas (descendientes de esclavos afrobrasileños), desencadenando una serie de problemas que perpetúan la desigualdad social.


Uno de los aspectos más impactantes del libro es la denuncia de la corrupción y la impunidad en este contexto. El autor revela la existencia de una red de corrupción que involucra registros de tierras, funcionarios públicos y otros actores, facilitando el fraude y la apropiación de tierras. Esta impunidad contribuye a la perpetuación del problema y la negación de los derechos de las comunidades tradicionales.


Sin embargo, incluso ante estas adversidades, el libro también retrata la resistencia y lucha de la comunidad Kalunga por su tierra. Los Kalungas son presentados como protagonistas, mostrando su determinación en preservar su modo de vida, su cultura y sus derechos sobre la tierra, incluso frente a amenazas constantes.


El autor también destaca la importancia de la titulación de tierras. La falta de títulos de propiedad adecuados contribuye a la vulnerabilidad de las comunidades tradicionales frente a los apropiadores de tierras. A través de esta reflexión, el libro enfatiza la necesidad de garantizar la seguridad jurídica de las tierras ocupadas por estas comunidades para preservar su identidad cultural y sus derechos.


Otro punto abordado en el libro es la responsabilidad del Estado en la protección de los derechos de las comunidades tradicionales y en la resolución del problema de la apropiación de tierras. El autor cuestiona la inacción del Estado, ya sea por incompetencia o complicidad, como un factor que perpetúa la injusticia y la desigualdad.


"Se o grileiro vem, pedra vai" es una lectura esencial para aquellos que deseen comprender las profundas injusticias y desigualdades que surgen de la apropiación de tierras. El libro ofrece una perspectiva crítica y comprometida sobre el tema, exponiendo la urgencia de abordar este problema y salvaguardar los derechos de las poblaciones afectadas.


Con una escritura cautivadora y una narrativa bien estructurada, Francisco Octávio Bittencourt de Sousa guía a los lectores en un viaje de concientización y reflexión, despertando empatía y el deseo de buscar soluciones a este problema que afecta a las comunidades tradicionales en Brasil.


Sobre el autor:


Francisco Octávio Bittenc


ourt de Sousa es un investigador y autor brasileño con una sólida formación académica. Obtuvo su licenciatura en Antropología y Licenciatura en Ciencias Sociales de la Universidad de Brasilia (UnB), donde también defendió su tesis en julio de 2022, abordando el tema de la apropiación de tierras en el territorio Kalunga. Continuó sus estudios académicos y actualmente es estudiante de maestría en Desarrollo Sostenible en el Programa de Posgrado en Desarrollo Sostenible (PPGCDS) de la UnB.


Además, Francisco Octávio está involucrado en otros proyectos académicos. Es estudiante de posgrado en la Residencia CTS del Programa de Posgrado en Arquitectura y Urbanismo (PPGFAU) de la UnB. Su trabajo abarca temas como los conflictos agrarios, el medio ambiente y los derechos humanos en las comunidades quilombolas de Kalunga y Mesquita.


Francisco Octávio también es autor y una de las voces del podcast titulado "Se o grileiro vem, pedra vai", demostrando su compromiso en abordar y discutir cuestiones relacionadas con la apropiación de tierras. Además, escribió el libro con el mismo nombre, publicado en 2022, que aborda este problema y sus implicaciones para las comunidades tradicionales.


Su trabajo y dedicación han sido reconocidos a través de premios y menciones honoríficas. Recibió una mención honorífica en el X Premio de Derechos Humanos de la 33ª Reunión Brasileña de Antropología, ganó la categoría Democracia y Participación del Premio Anísio Teixeira de Derechos Humanos de la Universidad de Brasilia y obtuvo el segundo lugar en el Premio Martin Novión a la Mejor Tesis de Grado en Antropología de la UnB.


En resumen, Francisco Octávio Bittencourt de Sousa es un investigador comprometido con el estudio y la promoción de los derechos humanos, especialmente en el contexto de los conflictos agrarios, el medio ambiente y la apropiación de tierras en las comunidades quilombolas de Kalunga y Mesquita. Su sólida formación académica y su participación en proyectos relevantes demuestran su contribución a la academia y a la sociedad en su conjunto.

Unveiling the Injustices of Land Grabbing: A Critical Analysis of 'Se o grileiro vem, pedra vai'

 Unveiling the Injustices of Land Grabbing: A Critical Analysis of 'Se o grileiro vem, pedra vai'


"Se o grileiro vem, pedra vai" is a striking book that addresses the issue of land grabbing in the Kalunga territory in Goiás, Brazil. Written by Francisco Octávio Bittencourt de Sousa, the book delves deeply into the complexities of this social problem and reveals its devastating consequences for the local community.


The narrative of the book exposes the reality of land grabbing in the Kalunga territory in a clear and forceful manner, highlighting the land conflict and social injustice that surround this issue. The author underscores how the illegal appropriation of land directly affects the rights of quilombolas (descendants of Afro-Brazilian slaves), triggering a series of problems that perpetuate social inequality.


One of the most impactful aspects of the book is the denouncement of corruption and impunity within this context. The author reveals the existence of a network of corruption involving registry offices, public officials, and other actors, facilitating fraud and land grabbing. This impunity contributes to the perpetuation of the problem and the denial of the rights of traditional communities.


However, even in the face of these adversities, the book also portrays the resistance and struggle of the Kalunga community for their land. The Kalungas are depicted as protagonists, showing their determination to preserve their way of life, culture, and rights to the land, even in the face of constant threats.


The author also highlights the importance of land titling. The lack of proper land titles contributes to the vulnerability of traditional communities in the face of land grabbers. Through this reflection, the book emphasizes the need to ensure legal security for the lands occupied by these communities in order to preserve their cultural identity and rights.


Another point addressed in the book is the responsibility of the state in protecting the rights of traditional communities and in resolving the issue of land grabbing. The author questions the state's inaction, whether due to incompetence or complicity, as a factor that perpetuates injustice and inequality.


"Se o grileiro vem, pedra vai" is an essential read for those who wish to understand the profound injustices and inequalities that arise from land grabbing. The book offers a critical and engaged perspective on the subject, exposing the urgency of addressing this issue and safeguarding the rights of affected populations.


With compelling writing and a well-structured narrative, Francisco Octávio Bittencourt de Sousa guides readers on a journey of awareness and reflection, arousing empathy and a desire to seek solutions to this problem that plagues traditional communities in Brazil.


About the author:


Francisco Octávio Bittencourt de Sousa is a Brazilian researcher and author with a strong academic background. He holds a bachelor's degree in Anthropology and Social Sciences from the University of Brasília (UnB), where he also defended his undergraduate thesis in July 2022, focusing on the issue of land grabbing in the Kalunga territory. He continued his academic studies, becoming a master's student in Sustainable Development at the Graduate Program in Sustainable Development (PPGCDS) at UnB.


In addition, Francisco Octávio is involved in other academic projects. He is a postgraduate student in CTS Residence at the Graduate Program in Architecture and Urbanism (PPGFAU) at UnB. His work encompasses topics such as land conflicts, the environment, and human rights in the Kalunga and Mesquita quilombos (Afro-Brazilian communities).


Francisco Octávio is also an author and one of the voices behind the podcast titled "Se o grileiro vem, pedra vai," demonstrating his commitment to addressing and discussing issues related to land grabbing. Furthermore, he wrote the book of


 the same name, which was released in 2022 and addresses this problem and its implications for traditional communities.


His work and dedication have been recognized through awards and honorable mentions. He received an honorable mention at the X Human Rights Award of the 33rd Brazilian Anthropology Meeting, won the Democracy and Participation category of the Anísio Teixeira Human Rights Award from the University of Brasília, and placed second in the Martin Novión Award for Best Undergraduate Dissertation in Anthropology at UnB.


In summary, Francisco Octávio Bittencourt de Sousa is a researcher committed to studying and promoting human rights, particularly in the context of land conflicts, the environment, and land grabbing in the Kalunga and Mesquita quilombos. His solid academic background and involvement in relevant projects demonstrate his contribution to academia and society as a whole.

Desvendando as injustiças da grilagem de terras: Uma análise crítica de 'Se o grileiro vem, pedra vai'

 Desvendando as injustiças da grilagem de terras: Uma análise crítica de 'Se o grileiro vem, pedra vai'


"Se o grileiro vem, pedra vai" é um livro impactante que aborda o tema da grilagem de terras no território Kalunga, em Goiás. Escrito por Francisco Octávio Bittencourt de Sousa, a obra mergulha profundamente nas complexidades desse problema social e revela suas consequências devastadoras para a comunidade local.


A narrativa do livro expõe de forma clara e contundente a realidade da grilagem de terras no território Kalunga, destacando o conflito de terras e a injustiça social que permeiam essa questão. O autor evidencia como a apropriação ilegal de terras afeta diretamente os direitos dos quilombolas, desencadeando uma série de problemas que perpetuam a desigualdade social.


Um dos aspectos mais impactantes da obra é a denúncia da corrupção e impunidade presentes nesse contexto. O autor revela a existência de uma rede de corrupção que envolve cartórios, funcionários públicos e outros atores, facilitando as fraudes e a grilagem de terras. Essa impunidade contribui para a perpetuação do problema e a negação dos direitos das comunidades tradicionais.


No entanto, mesmo diante dessas adversidades, o livro também retrata a resistência e a luta da comunidade Kalunga pela terra. Os Kalungas são retratados como protagonistas, mostrando sua determinação em preservar seu modo de vida, sua cultura e seus direitos sobre a terra, mesmo enfrentando ameaças constantes.


A importância da titulação de terras também é destacada pelo autor. A falta de títulos de propriedade adequados contribui para a vulnerabilidade das comunidades tradicionais diante dos grileiros. Através dessa reflexão, o livro ressalta a necessidade de garantir a segurança jurídica das terras ocupadas pelas comunidades, a fim de preservar sua identidade cultural e seus direitos.


Outro ponto abordado no livro é a responsabilidade do Estado na proteção dos direitos das comunidades tradicionais e na resolução do problema da grilagem de terras. O autor questiona a inação do Estado, seja por incompetência ou conivência, como um fator que perpetua a injustiça e a desigualdade.


"Se o grileiro vem, pedra vai" é uma leitura indispensável para quem deseja compreender as profundas injustiças e desigualdades que ocorrem devido à grilagem de terras. O livro oferece uma visão crítica e engajada sobre o assunto, expondo a urgência de enfrentar essa questão e garantir os direitos das populações afetadas.


Com uma escrita envolvente e uma narrativa bem estruturada, Francisco Octávio Bittencourt de Sousa conduz o leitor por uma jornada de conscientização e reflexão, despertando a empatia e o desejo de buscar soluções para essa problemática que assola as comunidades tradicionais do Brasil.


Sobre o autor


Francisco Octávio Bittencourt de Sousa é um pesquisador e autor brasileiro com uma sólida formação acadêmica. Ele obteve seu diploma de graduação em Antropologia e Licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (UnB), onde também defendeu sua monografia em julho de 2022, abordando o tema da grilagem de terras no território Kalunga. Ele prosseguiu seus estudos acadêmicos, tornando-se um mestrando em Desenvolvimento Sustentável pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável (PPGCDS) da UnB.


Além disso, Francisco Octávio está envolvido em outros projetos acadêmicos. Ele é pós-graduando em Residência CTS pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGFAU) da UnB. Sua atuação abrange temas como conflitos agrários, meio ambiente e direitos humanos nos quilombos Kalunga e Mesquita.


Francisco Octávio também é autor e uma das vozes do podcast intitulado "Se o grileiro vem, pedra vai", demonstrando seu compromisso em abordar e discutir questões relacionadas à grilagem de terras. Além disso, ele escreveu o livro com o mesmo nome, lançado em 2022, o qual trata desse problema e suas implicações para as comunidades tradicionais.


Seu trabalho e dedicação foram reconhecidos através de prêmios e menções honrosas. Ele recebeu menção honrosa no X Prêmio de Direitos Humanos da 33ª Reunião Brasileira de Antropologia, venceu a categoria Democracia e Participação do Prêmio Anísio Teixeira de Direitos Humanos da Universidade de Brasília e foi premiado em segundo lugar no Prêmio Martin Novión de Melhor Dissertação de Graduação em Antropologia da UnB.


Em resumo, Francisco Octávio Bittencourt de Sousa é um pesquisador comprometido com o estudo e a promoção dos direitos humanos, especialmente no contexto dos conflitos agrários, meio ambiente e grilagem de terras nos quilombos Kalunga e Mesquita. Sua formação acadêmica sólida e seu envolvimento em projetos relevantes demonstram sua contribuição para a academia e para a sociedade como um todo.

APRESENTAÇÃO DA OBRA ‘SE O GRILEIRO VEM, PEDRA VAI’ (2022), FRANCISCO OCTÁVIO BITTENCOURT DE SOUSA

 APRESENTAÇÃO DA OBRA ‘SE O GRILEIRO VEM, PEDRA VAI’ (2022), FRANCISCO OCTÁVIO BITTENCOURT DE SOUSA


Este texto resume uma pesquisa sobre grilagem de terras no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, localizado em Goiás. O autor adota uma abordagem antropológica, descrevendo os indícios de grilagem encontrados, as incursões a campo e as entrevistas realizadas. O texto busca contribuir para o reconhecimento da área como patrimônio da comunidade Kalunga. A monografia possui uma estrutura composta por introdução, capítulos sobre grilagem, análise antropológica, estudo de caso, personagens envolvidas e formas de resistência, além de anexos que comprovam os fatos narrados. O autor destaca a importância da comunidade Kalunga, agradece aos colaboradores e menciona que a monografia também está disponível em áudio.


O capítulo de introdução aborda a importância da terra para os estudos do campesinato e a histórica luta pela terra no Brasil, especialmente com a opressão dos povos indígenas. A Fazenda Bonito, ocupada pelos Kalunga, é um exemplo de área afetada pela grilagem, com mais de 100 famílias quilombolas e recursos naturais valiosos. A falta de documentação oficial e a demora na titulação da comunidade facilitam as fraudes, estimando-se que cada hectare contenha 4 hectares grilados.


O capítulo I define e explora os diferentes tipos de grilagem, destacando sua relação com a concentração fundiária, a exploração econômica, a corrupção e a conivência dos órgãos públicos. Também ressalta a existência de redes de solidariedade e suborno e a participação de diversos atores na prática da grilagem. Desde o período colonial, a grilagem envolveu práticas criminosas e a manipulação das leis. A resistência dos latifundiários e a ausência do Estado na proteção de populações tradicionais fortaleceram a prática.


No caso específico dos Kalunga, a grilagem começou em 1942 e intensificou-se com a chegada de mineradoras, empresas agrícolas e hidrelétricas. A luta pela proteção do território intensificou-se com pesquisas e ações de reconhecimento das terras pelos Kalunga. O processo de regularização do território teve avanços e desafios, com alguns Kalungas preferindo títulos de propriedade individuais, enquanto outros valorizavam o uso coletivo da terra.


Em resumo, a pesquisa sobre a grilagem de terras no território Kalunga apresenta evidências e análises antropológicas sobre o problema. O texto destaca a importância da comunidade Kalunga, descreve os tipos de grilagem, suas consequências socioeconômicas e a resistência das populações tradicionais. A regularização fundiária é uma prioridade para essas comunidades, garantindo o acesso a políticas públicas e a preservação de seus modos de vida.


No capítulo II, o autor apresenta a análise vertical da grilagem, uma abordagem interdisciplinar que busca compreender o processo de apropriação ilegal de terras no Brasil. O autor destaca a importância da análise multidimensional da grilagem, incorporando métodos qualitativos, quantitativos e etnográficos. Ele menciona pesquisas antropológicas anteriores sobre a grilagem, destacando trabalhos que abordaram a temática indiretamente em estudos sobre trabalhadores rurais, estrutura agrária e mobilizações camponesas.


No contexto contemporâneo, as pesquisas sobre grilagem têm explorado o uso avançado de mecanismos como a Internet e o georreferenciamento para expandir as redes de solidariedade e suborno. Essas investigações contribuíram para um melhor entendimento da grilagem, revelando suas conexões com projetos de desenvolvimento do Estado, desmatamento e regularização fundiária.


Diferentes abordagens têm sido adotadas para estudar a grilagem, incluindo a análise do imaginário político e histórico em torno do fenômeno, a relação entre humanos e o meio ambiente, a dinâmica interna da grilagem sob uma perspectiva tecnológica, o confronto entre diferentes mundos afetados pela grilagem e a análise dos agentes não-humanos envolvidos no processo.


As pesquisas identificaram características comuns nos esquemas de grilagem, como a participação de diversos atores em uma rede ampliada de solidariedade e suborno, que inclui tanto seres humanos quanto objetos e brechas na legislação. A flexibilidade da grilagem permite que se adapte a mudanças históricas, políticas, tecnológicas e legislativas.


Evidências mostram que membros do poder público estão envolvidos nos esquemas de grilagem, e incentivos fiscais e megaprojetos de infraestrutura contribuem para a supervalorização da terra e a proliferação das fraudes. A estrutura fundiária brasileira tem se mantido ao longo do tempo, mesmo em governos de esquerda, e as redes de solidariedade e suborno continuam se expandindo.


No Capítulo III do livro, são abordados vários aspectos relacionados à fazenda Bonito, incluindo suas características físicas, o potencial agrícola e a história da ocupação do território brasileiro, que pode explicar a ocorrência de fraudes na região. É destacada a falta de titulação definitiva das terras, a existência de diferentes tipos de posse e processos judiciais. Esquemas fraudulentos, como registros paroquiais sem área delimitada e transferências irregulares, são descritos. A morosidade do poder público em resolver o problema e titular a comunidade quilombola é mencionada, facilitando mais fraudes. Também são apresentadas informações sobre a localização geográfica da fazenda, a diversidade de vegetação, as características do solo e o impacto ambiental da ocupação.


O texto aborda a relação dos Kalunga, um grupo quilombola, com a terra. A terra é considerada sagrada para eles e representa sua identidade e cultura. As mulheres Kalunga desempenham um papel fundamental na preservação da terra e na igualdade de gênero. O modo de vida e produção dos Kalunga baseia-se na agricultura de roçado, combinando questões ecológicas com a subsistência. A criação de gado Curraleiro contribui para uma pecuária sustentável e a exploração econômica das pastagens naturais, permitindo que os Kalunga permaneçam na área rural.


A posse da terra é fundamental para os Kalunga, que consideram o território sagrado e necessário para suas necessidades. O modo de vida da comunidade está intimamente ligado à terra, onde reproduzem seus costumes, preservam suas ancestralidades e obtêm sustento para suas famílias por meio da agricultura de roçado. O cultivo de alimentos como arroz, milho, feijão, gergelim e mandioca é essencial para sua alimentação. A criação de gado Curraleiro permite a exploração econômica das pastagens nativas do cerrado, promovendo uma atividade pecuária sustentável e uma relação de liberdade com o território. A preservação da terra e a resistência contra invasores são aspectos centrais na luta dos Kalunga pela manutenção de seu modo de vida e identidade.


O capítulo IV do livro explora os personagens envolvidos na questão da grilagem de terras em Goiás. Destaca-se o papel do cartório de registros de Cavalcante na composição dos esquemas fraudulentos e na exposição das fraudes pós-intervenção federal. Além disso, são abordados outros interessados nos casos, revelando a abrangência nacional do problema do grilo Bonito. São analisados os registros paroquiais do século XIX relacionados à origem da propriedade da fazenda Bonito, destacando inconsistências e disputas de posse. Também são mencionadas as ações realizadas pelo fazendeiro Juvelan de Paula e Sousa e as controvérsias envolvendo a ocupação da área e a comunidade quilombola.


No trecho em questão, o autor relata uma série de eventos relacionados à propriedade de terras denominada "BONITO" e seu suposto proprietário, Abraão Simão da Silva. São observadas várias irregularidades e indícios de grilagem de terras, incluindo transações suspeitas realizadas por Abraão Simão da Silva após sua morte, a falta de registros de pessoas mencionadas nos documentos e a participação de terceiros, como João Batista Fernandes do Nascimento, no esquema de venda de terras. Além disso, há menção a outros casos de compradores que adquiriram áreas maiores do que as registradas e a disputa judicial entre Juvelan, empresas do grupo Dinâmica e os Kalunga, comunidade afetada pela situação.


Esses eventos mostram uma extensa rede de corrupção e fraude envolvendo a propriedade de terras, causando prejuízos aos verdadeiros donos e afetando diretamente a comunidade Kalunga, que luta pela preservação de seu modo de vida. As transações fraudulentas e a sobreposição de imóveis tornaram-se motivo de disputa na justiça entre diferentes partes envolvidas, evidenciando a complexidade e as fragilidades desse sistema corrupto. O autor deixa para o leitor a tarefa de julgar os envolvidos, mas ressalta a importância de proteger os direitos das comunidades afetadas por essa situação.


No contexto da grilagem de terras no território Kalunga, a análise revela a importância do Cartório de Registros de Cavalcante como peça-chave na rede de solidariedade e suborno estabelecida. Durante as investigações, foram identificados dois períodos relevantes para o conflito fundiário, sendo o último o mais significativo. O relatório destaca a existência de centenas de fraudes e irregularidades no cartório, afetando outros cartórios em municípios vizinhos. A situação fundiária do território Kalunga era conhecida pelo poder público, mas a regularização fundiária estava estagnada devido à confusão dos documentos. Luslene Veloso, uma oficiala do cartório, desempenhou um papel crucial na identificação das fraudes, especialmente relacionadas à fazenda Bonito, enfrentando pressões e tentativas de suborno. Ela descobriu que a Bonito fazia parte do território Kalunga em processo de desapropriação, envolvendo milhões de reais em indenizações. Em 2014, Luslene enviou um pedido de providências à justiça, solicitando a suspensão dos registros e averbações, e um mês depois, as matrículas relacionadas à Bonito foram bloqueadas pela juíza substituta Priscila Lopes da Silveira. No entanto, o processo acabou desaparecendo, gerando incertezas e contribuindo para a continuidade da grilagem.


A grilagem de terras no território Kalunga envolveu o Cartório de Registros de Cavalcante como peça-chave na rede de solidariedade e suborno. Durante as investigações, foram identificados dois períodos importantes, sendo o último o mais significativo. O cartório era marcado por fraudes e irregularidades, afetando outros cartórios da região. Luslene Veloso, uma oficiala do cartório, desempenhou um papel essencial na descoberta das fraudes, especialmente relacionadas à fazenda Bonito. Ela enfrentou pressões e tentativas de suborno, e descobriu que a Bonito fazia parte do território Kalunga em processo de desapropriação. Em 2014, Luslene enviou um pedido de providências à justiça, resultando no bloqueio das matrículas relacionadas à Bonito. No entanto, o processo acabou desaparecendo, gerando incertezas e contribuindo para a continuidade da grilagem de terras no local.


No capítulo V, intitulado "Se o grileiro vem, pedra vai", o autor conclui a análise do caso da Fazenda Bonito, destacando a presença das redes de solidariedade e suborno no espaço e na vida das pessoas, assim como a influência do Estado na grilagem de terras. O autor ressalta a inação do Estado em combater a grilagem, apontando para a possibilidade de incompetência ou cumplicidade. O capítulo termina com a reflexão de que a grilagem é uma ferramenta de apropriação de terras e integração ao sistema capitalista.


No epílogo, intitulado "Vivos apesar do Estado", o autor relata sua experiência ao qualificar informalmente sua monografia, buscando garantir a compreensão do texto pela comunidade estudada e chamando especialistas para debater questões técnicas e ouvir a perspectiva dos Kalunga. O autor destaca a importância de transmitir a mensagem de forma acessível e a necessidade de avançar em termos de antirracismo na pesquisa científica. O epílogo também menciona que o autor buscou ouvir pessoas com conhecimento científico e vivência empírica das questões abordadas.


O livro "Se o grileiro vem, pedra vai" aborda o tema do grilagem de terras no território Kalunga, em Goiás, e traz várias mensagens principais, incluindo:


1. Conflito de terras e injustiça social: O livro expõe a realidade do grilagem de terras no território Kalunga, evidenciando as consequências desse conflito para a comunidade local. Mostra como a apropriação ilegal de terras prejudica os direitos dos quilombolas e perpetua a desigualdade social.


2. Corrupção e impunidade: O autor revela a existência de uma rede de corrupção e impunidade envolvendo cartórios, funcionários públicos e outros atores, que facilitam as fraudes e a grilagem de terras. Essa impunidade contribui para a perpetuação do problema e a negação dos direitos das comunidades tradicionais.


3. Resistência e luta pela terra: O livro destaca a resistência da comunidade Kalunga diante do avanço dos grileiros. Mostra como os Kalungas lutam para preservar seu modo de vida, sua cultura e seus direitos sobre a terra, mesmo enfrentando adversidades e ameaças.


4. Importância da titulação de terras: O autor ressalta a importância da titulação de terras para as comunidades tradicionais, como os Kalungas, como forma de garantir seus direitos e preservar sua identidade cultural. A ausência de títulos de propriedade adequados contribui para a vulnerabilidade dessas comunidades diante dos grileiros.


5. Responsabilidade do Estado: O livro questiona a responsabilidade do Estado na proteção dos direitos das comunidades tradicionais e na resolução do problema da grilagem de terras. Aponta a inação do Estado, seja por incompetência ou conivência, como um fator que perpetua a injustiça e a desigualdade.


Essas são algumas das principais mensagens transmitidas pelo livro "Se o grileiro vem, pedra vai". A obra traz à tona a realidade da grilagem de terras no Brasil e suas consequências para as comunidades tradicionais, colocando em evidência a necessidade de enfrentar esse problema e garantir os direitos das populações afetadas.

PRESENTATION OF THE WORK 'IF THE LAND GRABBER COMES, STONES WILL GO' (2022), FRANCISCO OCTÁVIO BITTENCOURT DE SOUSA

 PRESENTATION OF THE WORK 'IF THE LAND GRABBER COMES, STONES WILL GO' (2022), FRANCISCO OCTÁVIO BITTENCOURT DE SOUSA


This text summarizes a research on land grabbing in the Kalunga Historical Site and Cultural Heritage, located in Goiás. The author adopts an anthropological approach, describing the signs of land grabbing found, field incursions, and conducted interviews. The text seeks to contribute to the recognition of the area as a heritage of the Kalunga community. The monograph has a structure composed of an introduction, chapters on land grabbing, anthropological analysis, case study, involved characters, forms of resistance, and annexes that provide evidence of the narrated facts. The author highlights the importance of the Kalunga community, thanks the collaborators, and mentions that the monograph is also available in audio format.


The introduction chapter addresses the importance of land in the studies of peasantry and the historical struggle for land in Brazil, especially with the oppression of indigenous peoples. Fazenda Bonito, occupied by the Kalunga, is an example of an area affected by land grabbing, with over 100 quilombola families and valuable natural resources. The lack of official documentation and delays in titling the community facilitate fraud, estimating that each hectare contains 4 illegally appropriated hectares.


Chapter I defines and explores different types of land grabbing, highlighting its relationship with land concentration, economic exploitation, corruption, and complicity of public agencies. It also emphasizes the existence of networks of solidarity and bribery and the involvement of various actors in the practice of land grabbing. Since the colonial period, land grabbing has involved criminal practices and manipulation of laws. The resistance of large landowners and the absence of the State in protecting traditional populations have strengthened the practice.


In the specific case of the Kalunga, land grabbing started in 1942 and intensified with the arrival of mining companies, agricultural enterprises, and hydroelectric plants. The struggle for the protection of the territory intensified with research and actions to recognize the Kalunga lands. The process of territorial regularization had advancements and challenges, with some Kalungas preferring individual land titles while others valued collective land use.


In summary, the research on land grabbing in the Kalunga territory presents evidence and anthropological analysis of the problem. The text highlights the importance of the Kalunga community, describes the types of land grabbing, its socio-economic consequences, and the resistance of traditional populations. Land regularization is a priority for these communities, guaranteeing access to public policies and the preservation of their ways of life.


In Chapter II, the author presents a vertical analysis of land grabbing, an interdisciplinary approach that seeks to understand the process of illegal land appropriation in Brazil. The author emphasizes the importance of a multidimensional analysis of land grabbing, incorporating qualitative, quantitative, and ethnographic methods. Previous anthropological research on land grabbing is mentioned, highlighting works that indirectly addressed the issue in studies on rural workers, agrarian structure, and peasant mobilizations.


In the contemporary context, research on land grabbing has explored the advanced use of mechanisms such as the Internet and georeferencing to expand networks of solidarity and bribery. These investigations have contributed to a better understanding of land grabbing, revealing its connections to state development projects, deforestation, and land regularization.


Different approaches have been adopted to study land grabbing, including the analysis of the political and historical imaginary surrounding the phenomenon, the relationship between humans and the environment, the internal dynamics of land grabbing from a technological perspective, the confrontation between different worlds affected by land grabbing, and the analysis of non-human agents involved in the process.


Research has identified common characteristics in land grabbing schemes, such as the involvement of various actors in an extended network of solidarity and bribery, including both humans and objects and loopholes in legislation. The flexibility of land grabbing allows it to adapt to historical, political, technological, and legislative changes.


Evidence shows that members of the government are involved in land grabbing schemes, and fiscal incentives and mega-infrastructure projects contribute to the overvaluation of land and the proliferation of fraud. The Brazilian land structure has persisted over time, even under left-wing governments, and networks of solidarity and bribery continue to expand.


In Chapter III of the book, various aspects related to Fazenda Bonito are addressed, including its physical characteristics, agricultural potential, and the history of land occupation in Brazil, which may explain the occurrence of fraud in the region. The lack of definitive land titling, the existence of different forms of possession, and judicial processes are highlighted. Fraudulent schemes, such as parish records without delimited areas and irregular transfers, are described. The slowness of the government in resolving the issue and titling the quilombola community is mentioned, further facilitating more fraud. Information is also presented about the geographical location of the farm, vegetation diversity, soil characteristics, and the environmental impact of the occupation.


The text delves into the relationship of the Kalunga, a quilombola group, with the land. The land is considered sacred to them and represents their identity and culture. Kalunga women play a fundamental role in land preservation and gender equality. The Kalunga's way of life and production are based on slash-and-burn agriculture, combining ecological concerns with subsistence. The breeding of Curraleiro cattle contributes to sustainable livestock farming and the economic exploitation of natural pastures, enabling the Kalunga to remain in the rural area.


Land possession is fundamental to the Kalunga, who consider the territory sacred and necessary for their needs. The community's way of life is closely linked to the land, where they reproduce their customs, preserve their ancestry, and obtain sustenance for their families through slash-and-burn agriculture. The cultivation of crops such as rice, corn, beans, sesame, and cassava is essential for their food supply. The breeding of Curraleiro cattle allows for the economic exploitation of the cerrado's native pastures, promoting sustainable livestock farming and a sense of freedom in their relationship with the land. Land preservation and resistance against invaders are central aspects of the Kalunga's struggle for maintaining their way of life and identity.


Chapter IV of the book explores the characters involved in the issue of land grabbing in Goiás. The role of the Cavalcante registry office in the composition of fraudulent schemes and the exposure of post-federal intervention frauds is highlighted. Furthermore, other interested parties in the cases are discussed, revealing the national scope of the Bonito land grabbing problem. Parish records from the 19th century related to the origin of Bonito farm ownership are analyzed, highlighting inconsistencies and possession disputes. The actions taken by landowner Juvelan de Paula e Sousa and controversies surrounding the occupation of the area and the quilombola community are also mentioned.


In the excerpt in question, the author recounts a series of events related to the ownership of land known as "BONITO" and its supposed owner, Abraão Simão da Silva. Several irregularities and indications of land grabbing are observed, including suspicious transactions carried out by Abraão Simão da Silva after his death, the lack of records of individuals mentioned in the documents, and the involvement of third parties, such as João Batista Fernandes do Nascimento, in the land sales scheme. Additionally, there is mention of other buyers who acquired larger areas than those registered and the legal dispute between Juvelan, companies from the Dinâmica group, and the Kalunga community affected by the situation.


These events demonstrate an extensive network of corruption and fraud involving land ownership, causing harm to the rightful owners and directly affecting the Kalunga community, which is fighting for the preservation of their way of life. The fraudulent transactions and overlapping properties have become the subject of legal disputes between different parties involved, highlighting the complexity and vulnerabilities of this corrupt system. The author leaves it to the reader to judge those involved but emphasizes the importance of protecting the rights of the communities affected by this situation.


In the context of land grabbing in the Kalunga territory, the analysis reveals the significance of the Cavalcante Registry Office as a key player in the established network of solidarity and bribery. During the investigations, two relevant periods for the land conflict were identified, with the latter being the most significant. The report highlights the existence of hundreds of frauds and irregularities in the registry office, affecting other registries in neighboring municipalities. The land situation in the Kalunga territory was known to the government, but land regularization was stagnant due to document confusion. Luslene Veloso, an official in the registry office, played a crucial role in identifying the frauds, particularly those related to the Bonito farm, facing pressures and attempted bribes. She discovered that Bonito was part of the Kalunga territory under expropriation process, involving millions of reais in compensations. In 2014, Luslene sent a request for action to the court, seeking the suspension of registrations and annotations, and a month later, the titles related to Bonito were blocked by substitute judge Priscila Lopes da Silveira. However, the process ended up disappearing, generating uncertainties and contributing to the continuation of land grabbing.


Land grabbing in the Kalunga territory involved the Cavalcante Registry Office as a key player in the network of solidarity and bribery. During the investigations, two significant periods were identified, with the latter being the most relevant. The registry office was marked by frauds and irregularities, affecting other registries in the region. Luslene Veloso, an official in the registry office, played an essential role in uncovering the frauds, especially those related to the Bonito farm. She faced pressures and attempted bribes and discovered that Bonito was part of the Kalunga territory under expropriation process. In 2014, Luslene sent a request for action to the court, resulting in the blocking of the titles related to Bonito. However, the process ended up disappearing, generating uncertainties and contributing to the continuation of land grabbing in the area.


In Chapter V, titled "Se o grileiro vem, pedra vai" ("If the land grabber comes, the stone will go"), the author concludes the analysis of the Bonito Farm case, highlighting the presence of networks of solidarity and bribery in the space and people's lives, as well as the influence of the state in land grabbing. The author emphasizes the inaction of the state in combating land grabbing, pointing to the possibility of incompetence or complicity. The chapter ends with the reflection that land grabbing is a tool for land appropriation and integration into the capitalist system.


In the epilogue titled "Vivos apesar do Estado" ("Alive Despite the State"), the author recounts their experience in informally presenting their monograph, seeking to ensure understanding of the text by the studied community and inviting experts to discuss technical issues and hear the perspective of the Kalunga people. The author highlights the importance of conveying the message in an accessible manner and the need to advance in terms of anti-racism in scientific research. The epilogue also mentions that the author sought to listen to people with scientific knowledge and empirical experience of the issues addressed.


The book "Se o grileiro vem, pedra vai" addresses the issue of land grabbing in the Kalunga territory, in Goiás, and conveys several key messages, including:


1. Land conflict and social injustice: The book exposes the reality of land grabbing in the Kalunga territory, highlighting the consequences of this conflict for the local community. It shows how the illegal appropriation of land undermines the rights of quilombola communities and perpetuates social inequality.


2. Corruption and impunity: The author reveals the existence of a network of corruption and impunity involving registries, public officials, and other actors that facilitate land fraud and grabbing. This impunity contributes to the perpetuation of the problem and the denial of the rights of traditional communities.


3. Resistance and fight for land: The book highlights the resistance of the Kalunga community in the face of encroachment by land grabbers. It shows how the Kalungas strive to preserve their way of life, culture, and land rights, even in the face of adversity and threats.


4. Importance of land titling: The author emphasizes the importance of land titling for traditional communities like the Kalungas as a means to secure their rights and preserve their cultural identity. The absence of proper land titles contributes to the vulnerability of these communities in the face of land grabbers.


5. State responsibility: The book questions the responsibility of the State in protecting the rights of traditional communities and resolving the issue of land grabbing. It highlights the State's inaction, whether due to incompetence or complicity, as a factor that perpetuates injustice and inequality.


These are some of the main messages conveyed by the book "Se o grileiro vem, pedra vai". The work sheds light on the reality of land grabbing in Brazil and its consequences for traditional communities, emphasizing the need to address this problem and safeguard the rights of affected populations.


Carta sobre GTAQ

 Carta sobre GTAQ As comunidades quilombolas são constituídas por pessoas que compartilham uma identidade forjada ao longo de processos hist...